Capital Central - Clusies - 3037 d.C.
Os soldados Crotos avançaram contra mim, mas Belial os impediu.
- PAREM! Ele ordenou com sua voz dupla. Eu tenho um juramento a cumprir a esse homem, ninguém deve interferir em nossa luta, em hipótese alguma ENTENDERAM?
Os soldados recuaram deixando um círculo vazio de dez metros de diâmetro, seria o suficiente, pensei.
- Eu sabia que você viria, disse Belial.
- Vamos acabar com isso, eu disse avançando.
Belial sacou a arma de plasma, mas eu já estava muito perto, destruí a arma com a lâmina de Kusanagi e isso me deixou vulnerável. O Croto me esfaqueou pelo lado esquerdo pouco acima da cintura e chocou seu escudo em meu peito me arremessando a uns cinco metros de distância. Parecia que eu tinha sido atropelado por um caminhão, todo o meu corpo doía e eu duvidava que ainda me restava alguma costela inteira, os Crotos ao nosso redor gritaram em aprovação.
- É só isso? Provocou Belial.
Me forcei a levantar, não podia deixar a provocação me subir à cabeça, aquele não era J que eu pude atacar com fúria sem me importar com as aberturas, na primeira chance Belial me mataria.
Meus olhos se desviaram um pouco para o corpo de Yuno no chão, Belial percebeu minha distração e investiu contra mim, foi como se eu pudesse ouvir a voz de Kaléa quando treinamos juntos " Não se distraia nunca..." ela falou. Voltei minha atenção ao inimigo em minha frente, me concentrei em sua movimentação e pude me esquivar de sua adaga no último momento.
Lembrei de quando Osha me pegou desprevenido com uma rasteira no mesmo treinamento " Não se distraia nunca ou será morto" dizia ela. Eu continuei alerta, Belial tentou uma investida em minhas costas, mas eu senti aquilo, meu corpo se moveu quase sozinho, eu girei e ataquei na altura da cabeça dele, o corte diagonal dividiu o rosto dele em duas metades, mas foi muito superficial, praticamente um arranhão.
Ao nosso redor os soldados não gritavam mais, Belial urrou enquanto sangue negro vertia do seu rosto, eu me preparei para seu contra ataque que seria furioso.
O Croto largou o escudo, correu em minha direção e me derrubou, me segurou pelas mãos inferiores e me socou as superiores. Eu não entendi o que ele estava fazendo, se me atacasse com as adagas seria o meu fim, mas ele continuava me socando no rosto com seus braços pesados, meu olho direito doía, meu supercílio estava partido e minha mandíbula estava no mínimo deslocada, parecia que eu estava em uma luta de boxe contra um pugilista profissional.
Belial levantou-se me deixando no chão, ele achava que eu estava acabado, para que ele continuasse pensando assim eu fiquei imóvel, até respirava devagar.
- Vejam! O comandante gritou a seus soldados. Esse é o fim dos humanos...
Ele queria me humilhar, me matar não seria suficiente, ele queria fazer isso demonstrando que os humanos eram fracos.
- ...Isso é o acontece quando eles nos desafiam. Continuou ele.
Eu me levantei com dificuldade, minha cabeça pesava e meu peito doía a cada respiração, olhei para Kusanagi.
- É isso. Falei para a lâmina. Foi bom ter você em toda a jornada, em batalha você foi incomparável.
Belial me olhou confuso, ele devia estar achando que eu estava delirando, mas falar com a minha espada não me pareceu loucura, eu até me perguntei por que não tinha feito isso antes. Eram essas pequenas loucuras que tornavam os humanos tão especiais, sim, os humanos eram capazes de coisas simples mas extraordinárias, tínhamos medos bobos e coragens absurdas.
Olhei para Belial e sorri, o gosto de sangue em minha boca me fez imaginar que meu sorriso devia estar completamente vermelho de sangue e eu sorri ainda mais, ele queria mostrar o que acontece quando se desafia um Croto, eu mostraria o que acontece quando se desafia um SER HUMANO.
Eu avancei mais rápido do que ele esperava e o ataquei de frente, ele tinha abandonado o escudo e para se defender cometeu o erro de segurar a lâmina com sua mão azul. Puxei Kusanagi de volta sem misericórdia arrancando três de seus dedos e ele berrou em agonia, mas eu ainda não tinha terminado, copiei o jogo de pés de J e o pressionei abrindo dois cortes profundos em seu peito.
Belial recuou incrédulo, depois avançou tomado de fúria, ele estava atacando descontroladamente com suas adagas e eu aproveitei cada brecha em sua defesa, mas percebi que não seria o suficiente, para ter a chance de acertar algum ponto vital eu teria que atraí-lo para uma armadilha, lembrei da minha luta contra J, era uma péssima idéia, mas a única que eu tinha.
Abri propositalmente uma abertura no abdômen enquanto preparava a estocada na altura do pescoço do inimigo, como eu esperava ele aproveitou a oportunidade e enfiou a adaga em minha barriga, exatamente como eu fiz com J, mas ao contrário do ancião eu não refreei meu golpe e a lâmina passou como uma guilhotina pelo pescoço do Croto.
Todos os soldados ficaram calados e incrédulos enquanto o corpo de seu comandante caía para um lado e a cabeça para o outro, eu retirei doloridamente a adaga encravada em minha barriga.
Belial estava morto, e eu era o último humano vivo, os soldados hesitavam em me atacar, mas eu sabia que isso não ia durar muito tempo, eu precisaria usar minha habilidade agora, era a última chance.
Fechei meus olhos e embainhei Kusanagi, lutar não era a solução, nunca tinha sido. A solução era amar, sonhar e acreditar. Fé, amor e esperança... Resolvi começar pelo amor, lembrei de Yuno me beijando pela primeira vez na era dos dinossauros, imaginei como seria viver com ela em um lugar como a tribo indígena, eu sabia que ela tinha nascido no Japão feudal e eu provavelmente nem a conheceria, mas eu não conseguia me imaginar feliz sem ela.
Imaginei seres humanos que se amassem e se respeitassem uns aos outros, que não quisessem ser maiores nem melhores do que ninguém. Eu sabia que era possível, eu pude ver as pessoas preferindo ser prejudicadas a prejudicar um outro alguém, pessoas solidárias como as que Ísis me mostrou.
Imaginei pessoas que se importassem mais em ser do que em ter, que não quisessem um celular de marca para se sentir melhor do que quem não tem, ou de um carro de luxo para se sentir superior a quem anda de carro popular.
Pessoas que não quisessem escravizar outras pessoas, mas sim conquistá-las com afeto e amizade, cativá-las com o carisma.
Algo pontiagudo me atingiu no peito e eu caí de joelhos, a dor era insuportável, mas eu não ousei abrir os olhos, continuei imaginando meu mundo maravilhoso, onde não havia dinheiro, nem riqueza nem pobreza, as pessoas trabalhavam voluntariamente a serviço de todos, eram altruístas, sabiam amar.
Então meu corpo explodiu em dor, eu não sabia se tinha sido atacado pela frente ou por trás, provavelmente ambos. Enquanto perdia a consciência eu pensei que aquilo era só um pesadelo, acreditei que acordaria em um lugar melhor, o mundo maravilhoso que eu sonhei existia, e era para lá que eu iria.
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O círculo da realidade
Science-FictionMiguel é um garoto pobre da cidade de Salvador BA, no dia do seu aniversário de dezessete anos ele é recrutado para um grupo de adolescentes com habilidades especiais com uma missão impossível: mudar a história e salvar o futuro da humanidade. Lider...