12 - A fúria de Yuno

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Chiang Mai - Tailândia - 2854 d.C.

Antes de sair do galpão eu acenei para que Karol esperasse e peguei uma grande faca, assim como minhas roupas sumiram Kusanagi também foi roubada, eu teria que recuperá-la. Tentei lavar o rosto na pia, mas não tinha água e eu tive de partir com o nariz sangrando.

Do lado de fora do galpão havia um corredor, as paredes brancas eram mais limpas ali, mas estavam pinchadas com a frase "Tohha lives", parecia que estávamos no subsolo, subimos uma escada e encontramos com mais um ciborgue, este era mais jovem, talvez quarenta anos, alto e esbelto, a metade direita do seu corpo era completamente robótica, estava de costas pra nós e antes que ele pudesse nos ver Karol se aproximou por trás e lhe quebrou o pescoço, anotei mentalmente que nunca a desafiasse num corpo a corpo.

A saída estava a nossa esquerda, mas Karol seguiu direto para outro corredor, o prédio tinha paredes brancas encardidas, e grandes janelas de vidro. Eu segui a mulher, no corredor que ela entrou havia uma janela, ela parou e observou, então eu me aproximei e olhei também. O que vi me deixou alarmado, havia um mar de ciborgues em um grande espaço aberto, como se fosse um show, havia até uma espécie de palco com um trono de pedra bastante rudimentar, nos prédios e paredes ao redor estava pinchado em muitos lugares a frase "Tohha lives" e o trono estava vazio.

O que me deixou mais alarmado porém foi que os ciborgues não olhavam para o palco nem para o trono, estavam cercando um grupo bem familiar, Yuno, J, Samir, Demétrius e Osha formavam um círculo diminuto em relação às centenas de ciborgues ali, eles estavam tensos com as armas em punho e os inimigos olhavam para eles despreocupados, tentando entender o que os levava ali.

- DEVOLVAM NOSSO COMPANHEIRO! Gritou Yuno claramente aflita. OU MATAREMOS TODOS VOCÊS!

Ninguém moveu um músculo, o grito de Yuno ecoou no silêncio que se seguiu, então ela gritou novamente a mesma coisa. Depois de alguns instantes tensos um homem subiu no palco, parecia um lutador de sumô, me lembrava muito o gordo que vi quando sonhei com minha irmã, mas o que estava no palco era careca, usava uma tanga de seda e era oriental, talvez chinês, ele deu passos pesados até o trono de pedra e se sentou.

Os ciborgues o reverenciaram, aquele era o manda chuva do pedaço, curiosamente não era um ciborgue, era totalmente humano, ao meu lado Karol rangeu os dentes com uma expressão de ódio, parece que ela também não gostava do gordo.

Yuno olhou diretamente para o gordo e ele então assentiu, parece que ela estava falando com ele por telepatia, depois de alguns segundos ele trocou algumas palavras com um dos ciborgues que saiu com certa urgência, ele então voltou-se para Yuno e passou o dedo na própria garganta, um gesto claro que indica morte, pensei que ele estava ordenando que os ciborgues matassem ela, mas então percebi que ele estava informando que eu estava morto.

A expressão de Yuno era pura dor, eu me virei para sair correndo dali e abraçá-la, dizer que estava bem, mas Karol me segurou pelo braço, olhou nos meus olhos e depois para a janela, eu entendi, ela queria atacar na hora certa.

O ciborgue que tinha conversado com o gordo voltou trazendo Kusanagi, olhou para o gordo esperando alguma permissão, quando o gordo acenou para que continuasse ele se aproximou de Yuno e lançou Kusanagi aos pés da garota, ela caiu de joelhos aos prantos, pela primeira vez vi J chorando, Osha parecia incrédula, Samir trazia uma expressão de raiva profunda e Demétrius parecia um pouco indiferente, eu queria sair dali, abraçar Yuno e acabar com seu sofrimento, mas o que aconteceu a seguir foi bizarro.

Marcas estranhas começaram a surgir na pele de Yuno, e se espalharam como se ela tivesse uma doença de pele se alastrando muito rápido, as manchas eram negras e difusas, Yuno falou em meio as lágrimas:

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora