23 - O despertar

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Salvador - Brasil - 2014 d.C.

Eu acordei extremamente confortável, seria esse o paraíso que os cristãos tanto pregam? Mesmo antes de abrir os olhos eu me sentia como se flutuasse em uma nuvem.

Me lembrava vagamente de um sonho ruim, eu não queria lembrar, mas minha mente insistia que era importante. Eu estava lutando contra alguém, ou contra alguma coisa, eu não entendia qual importância um sonho ruim poderia ter, mas minha mente vasculhava cada canto da minha consciência buscando a lembrança.

Respirei fundo, vamos lá, no sonho eu estava em outro lugar, não era outro país, era outro planeta. Achei a idéia engraçada, imagina visitar outro planeta...

Me concentrei novamente tentando lembrar mais, havia uma garota japonesa, era cega e muito bonita, eu sabia o nome dela, fiz um esforço consciente para lembrar...

Ela era especial para mim, eu tinha que saber o nome dela....

- YUNO!!!!

Acordei completamente gritando aquele nome porque junto com ele veio uma enxurrada de memórias. Meu nome é Miguel Santos, eu parti em uma missão para salvar o futuro da humanidade, me apaixonei por Yuno, mas todos morremos... Não morremos?

Olhei o espaço ao meu redor, eu estava em um quarto bastante limpo e um pouco bagunçado, sobre uma cama de casal bastante confortável com lençóis e travesseiros brancos, era estranho e familiar, meu consciente dizia que eu não conhecia aquele lugar, mas uma parte de mim reconhecia como minha casa.

Levantei e caminhei pelo quarto espaçoso, em frente à cama havia um guarda roupa branco, quando o abri encontrei diversas roupas que em parte eu reconhecia como minhas e em parte me eram estranhas. Ao lado do guarda roupa uma escrivaninha com alguns livros, cadernos e um computador, eu respire pausadamente, como era possível?

Na parede do quarto um relógio digital exibia um letreiro sofisticado que informava as horas: seis da manhã, e também a data, doze de agosto, meu aniversário de dezessete anos, na parede oposta uma katana japonesa estava presa como se fosse uma obra de arte em exposição.

- Kusanagi! Falei saudoso e sorri.

Abri a porta do quarto e explorei a casa, era uma mansão espaçosa com móveis arrumados, caminhei para o banheiro que eu sabia onde ficava apesar daquele lugar ser desconhecido para mim, e lavei o rosto na pia, quando me olhei no espelho um garoto negro me olhava de volta, eu estava até meio gordo o que era estranho. Minhas duas orelhas estavam no lugar e eu agradeci por isso, meu corpo não exibia nenhuma cicatriz, nenhuma costela doía, definitivamente a missão foi apenas um sonho ruim... ou será que não?

Saí do banheiro e entrei na cozinha, meu coração parou, Gabi e minha mãe conversavam animadamente, elas pararam e me olharam, eram tão parecidas...

- Bom dia Miguel, algum problema? Perguntou Gabi.

Meus olhos estavam marejados, aquela felicidade que eu estava sentindo era real, a missão não foi um sonho, foi real.

- Nada, respondi, foi só um sonho ruim.

- Ohhh meu menininho está completando dezessete aninhos, disse minha mãe me abraçando, hoje é o seu dia, não pode ficar triste, anda, vem tomar café.

Eu sentei à mesa que tinha uma variedade generosa de comida, eu me senti bem ali, comecei a meditar no meu sonho, como ele terminava mesmo? Eu tentava criar um mundo novo apenas com a vontade e a fé, teria sido isso o que aconteceu? Aquele era o mundo ideal?

- Bom dia, falou uma voz grossa e um homem negro entrou na cozinha, ele trazia um presente embrulhado nas mãos, onde está o aniversariante?

Eu gelei, aquele era meu pai, mesmo sem ninguém dizer isso estava claro, ele era muito parecido comigo, era a minha versão mais velha. Levantei sem conter minhas lágrimas e o abracei, ele era da minha altura.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora