Capítulo 6 Parte 4 (Rascunho)

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O hotel não era muito diferente do planeta anterior, mas a cidade era bem mais viva e maior, também à beira mar. Lembrava um pouco o Rio de Janeiro, apesar de o casal ter vivido lá pouco tempo. Tanto Pedro quanto Luana concluíram que seria muito agradável mudarem-se para ali e o que mais impressionava era a quantidade de atividade humana, além da limpeza do lugar. Norman conhecia muito bem a cidade e levou-os a um bar e restaurante à beira da praia. Sentaram-se e em pouco tempo começaram a trazer vários assados de diversos tipos de animais, alguns conhecidos e outros não. O grupo comia muito bem, mas Norman bebia por quatro, apesar de Samuel também ser um pouco exagerado. Já o casal tomava um vinho leve que parecia ser refrescante e agradável. Os dois notavam a alegria do comandante e entenderam direito desde a saída do hotel, quando Norman transferiu a parte do par. Segundo ele, dava para comprar duas naves iguais à sua e ainda sobraria dinheiro para viver bem por muito tempo. Pedro aproveitou para dividir a sua parte com a Luana, caso algo acontecesse com um deles. Agora, no bar, Norman divertia-se a beber, comer e gritar para o show de dança, acompanhado por Samuel. Naquele momento, eram quatro que disputavam um sapateado em volta de uma barra de madeira de uns dois metros. Precisavam de sapatear o mais próximo da madeira sem a tocar, mantendo o ritmo e a velocidade que aumentava constantemente. Fascinados, Pedro e Luana observavam aquilo. Quando a competição de dança terminou, transformaram o palco em ringue e dois homens apareceram para lutar, ganhando logo a atenção da plateia que fez silêncio. A luta não durou muito porque o maior massacrou o outro, quase dez quilos menor, tanto em peso quanto em tamanho e a gritaria foi grande. Nesse momento, um homem apareceu, falando para o público:

– "Senhores e senhoras, quem tem coragem de enfrentar o grande Shwarts? Vamos, o vencedor leva sessenta por cento dos lucros da casa. Quem se anima?"

Bêbado e alegre, Norman levantou-se e gritou, apontando Pedro com o dedo:

– Dez mil no meu parceiro. Vinte mil que ele derruba seu Shwarts em trinta segundos. Ninguém consegue derrubar o meu parceiro!

– Você está maluco? – quase berrou Samuel, caindo na real e ficando sóbrio no mesmo ato. – Eles não podem chamar a atenção, seu pateta!

– Aqui não dá nada – retrucou Norman, debochado.

– "Alguém cobre a aposta do nosso amigo?" – perguntou o locutor, rindo. – "Eu acho esse seu parceiro meio magrinho para o Shwarts. Caramba, eu pago seis contra um a favor do lutador da casa e vinte contra um nos trinta segundos."

Foi o que bastou para choverem apostas a favor do campeão da casa, mas Luana gritou, empolgada:

– Cinquenta mil no meu marido nos trinta segundos!

O silêncio foi total e Pedro olhou para ela, assustado e sem entender nada. O homem aproximou-se e perguntou, estendendo a mão:

– "Então, vamos?"

– E se eu não desejar lutar? – perguntou Pedro, preocupado com as possíveis consequências.

– "Uma vez feitas as apostas, independente da sua escolha, ou luta ou paga o prejuízo" – explicou. – "Se não desejasse lutar tinha que se manifestar na primeira declaração."

– Muito bem – disse Pedro. Berrando acrescentou. – Já que sou obrigado a lutar, cem mil em mim nos trinta segundos.

Nessa hora Luana deu-se conta das consequências e assustou-se, mas Pedro mandou-a sentar-se e deu um sorriso tranquilizador. Não havia como voltar atrás sem chamar ainda mais atenção.

Quando ele foi para o ringue, Norman deu-se conta que saiu da linha e levantou-se, preocupado, mas Samuel segurou o seu braço, obrigando-o a sentar de volta.

– Fique quieto; o estrago já foi feito. Ele vai vencer, mas espero que não chame a atenção em demasia.

Pedro, ao encarar o sujeito, teve vontade de rir. Tinha bem vinte centímetros a mais, cerca dois metros ou algo acima disso e, pelo menos trinta quilos de diferença. Notou que o adversário possuía músculos poderosos e, se o atingisse, o jovem perderia a luta no ato. Seria preciso muita perícia e velocidade, mas estava confiante. O antagonista sorria, achando que tinha um pato nas mãos, mas Pedro via que ele lutava ainda pior que Norman, muito pior. O jovem terráqueo calculou cinco segundos até ao nocaute, mas continuou estudando porque bastava um erro para receber um soco que acabaria consigo.

Pedro foi para o canto dele e relaxou, sem tirar os olhos do adversário. Ambos encaravam-se e o desafiado olhava-o com um sorriso que poderia ser assustador face à ausência de dois dentes incisivos em cima e um abaixo. Uma mulher fazia massagem nos ombros dele, sorrindo sensual e debochada. Nessa hora, o campeão disse:

– Aí, garoto, tá pronto pra morrer? – riu e continuou. – Ainda sinto o cheiro de fraldas. Deviam proibir pirralhos de lutar!

– Engraçado, eu tenho sentido cheiro de estrume, mas agora que abriu a boca o cheiro aumentou; já descobri de onde vem.

Furioso, o tal Shwarts fez menção de se levantar, mas foi contido por alguns ajudantes. Rindo, Pedro acrescentou, falando alto:

– Você já perdeu. Não tem controle emocional. Derrubo você em cinco segundos.

Quando ouviram isso, as apostas tornaram-se mais acirradas até que tocou uma campainha e o locutor subiu ao ringue, dizendo:

– "As apostas estão em seis contra um para vitória, vinte contra um em trinta segundos e cem contra um em cinco segundos, todas a favor de Shwarts. Algum de vocês dois quer complementar a aposta, já que são a última palavra?"

– Dez mil nos cinco – disse o desafiado.

– Se eu cobrir isso, você vai me dever um milhão – argumentou Pedro, debochado. – Tem a certeza?

– Você já era, pirralho.

Pedro olhou para o locutor e disse:

– Eu cubro. Quem me garante o pagamento?

– A casa garante. O perdedor que não puder pagar vira escravo da casa até quitar as dívidas.

– Tem certeza de que quer isso? – perguntou Pedro para o desafiado.

Ele riu e levantou-se.

– Chega de conversa – disse. – As apostas acabaram e a nossa função é lutar.

– Ok – falou o jovem, calmo. – Tenho pena de você.

Ele aproximou-se e Pedro flexionou a perna direita para a frente, tocando o solo com a ponta do pé, enquanto a perna esquerda, também flexionada, aguentava todo o peso do corpo ereto, cujas mãos estavam erguidas, a direita para a frente, aberta e vertical, e a esquerda perto do peito, com o punho cerrado e pronto para o ataque. O apito de luta soou e o homem correu contra Pedro tal e qual uma besta desenfreada correria contra uma parede. O jovem inclinou de leve o corpo para a frente e usou a perna esquerda para um forte impulso vertical. Seu corpo disparou para o alto chegando a quase dois metros de altura enquanto erguia esse mesmo pé para acertar o sujeito no rosto com um terrível e fatal chute lateral que o pegou de cima para baixo. Enquanto o terráqueo pousava na mesma posição, o adversário deu uma cambalhota de lado e caiu desmaiado. A vitória ocorreu em três segundos.

Em silêncio total, todos os apostadores olhavam o grande campeão apagado no chão. Já o dono da casa exultava porque quase cem por cento das apostas foram contra o vencedor e ele tivera o bom senso de não apostar nada, uma vez que se tratava de um estrangeiro e quem bancaria o prejuízo era o perdedor. Se ele tivesse apostado, o caso seria outro, mas, agora, embolsaria quase tudo, exceto a parte dos que apostaram no jovem. Além disso, a aposta entre ambos os lutadores não tinha nada a ver com a casa.

O primeiro berro veio de Norman, empolgado, seguido de Samuel e Luana. Logo depois, muitos outros ovacionaram Pedro, incluindo perdedores, mas o jovem recusou qualquer outra luta. O seu bracelete, contudo, engordou a carteira eletrônica em mais dez por cento do que já possuía, uma verdadeira fortuna de grandes dimensões.

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