Capítulo 8 Parte 4 (Rascunho)

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Pedro bateu à porta de um gabinete no vigésimo andar. Uma voz feminina mandou entrar e ele obedeceu. A sala era grande e repleta de instrumentos e terminais. Em um dos cantos, havia uma mesa onde uma mulher estava concentrada olhando um caderno. Divertido, perguntou:

– Não acha mais fácil usar um computador?

– Sou antiquada. Gosto de sentir as minhas equações – disse, virando o rosto para a porta e ficando boquiaberta. – Você, você não é o calouro que botou para dormir um robô e evaporou do centro?

Pedro riu. Ela era uma mulher estranha, mas simpática demais. Tinha olhos negros e inteligentes e a pele quase tão escura quanto os olhos. Quando sorria, o branco dos dentes fazia um contraste engraçado. A sua idade era difícil de calcular, mas era uma mulher bonita.

– O próprio – respondeu.

– E o que pretende do meu santuário? – perguntou ela. – Vamos, entre, mas não toque em nada.

– Soube pelo doutor Sócrates que trabalha na ideia de um comunicador super luz – disse ele e riu quando ela arregalou os olhos. – Acontece que andei imaginando um quando estava no espaço e acho que poderíamos trabalhar juntos de modo a unirmos forças. Eu, você e minha esposa.

– E acha que é capaz de compreender o meu trabalho? – perguntou ela, debochada. – Caramba, garoto, você entrou há poucos meses. Nem deve ter aprendido álgebra linear!

Pedro sorriu, divertido.

– Isso aprendi com seis anos, Sônia – comentou ele. – Eu e minha esposa devoramos a biblioteca pública toda até aos dezesseis, mas quase não havia material de mecânica quântica. Quando viemos para cá, antes de fugir, baixei toda a parte digital da biblioteca e completei os meus estudos. Estou certo que serei capaz de a acompanhar, mas estou disposto a ser sabatinado, se desejar...

― ☼ ―

Alegre, Pedro voltou para casa, encontrando a mãe e a esposa chegando da praia, que era particular. Sorrindo, observou ambas e viu que a mãe estava com muito melhor especto. Quando o viram, ambas apressaram o passo e Pedro beijou a mãe, para, em seguida, abraçar e beijar a esposa.

– Vocês duas estão lindas – disse ele, alegre. – Vamos jantar em um lugar especial, hoje.

– E qual o motivo?

– Arrumei uma pesquisa muito boa para nós e obtive informações importantes – explicou, alegre. – Talvez tenhamos de ir visitar os Terranos em alguns meses. Depois conto isso.

– E a pesquisa?

– Ora, nós vamos desenvolver uma nova forma de comunicação super uz – comentou ele, dando uma risada. – Já há uma cientista trabalhando nisso, mas sem grandes avanços. Convenci-a a nos incluir na pesquisa. Foi difícil porque ela não queria saber de novatos inexperientes.

– E o que a fez mudar de ideia?

– Disse-lhe que me sabatinasse...

– E?

– Ficou meio perdida quando mostrei uma solução mais simples para umas equações que ela propôs. Daí, convidou-nos – disse o marido, voltando a rir. – Agora, vamos trabalhar com uma das maiores cientistas da Terra. Ela é muito legal, você vai gostar.

– Sabe, meu filho, quando vi você demorando tanto no centro genético, aos seis anos, fiquei morrendo de medo que lhe fizessem algo ruim. Tudo o que você queria era ser grande e casar com a Luana, saber tudo, sem simuladores – disse a mãe, abraçando um de cada lado. – Agora, vejo vocês realizando os vossos sonhos e isso me faz muito feliz porque também tive alguns sonhos parecidos que não pude realizar, mas vocês compartilham comigo.

Pedro beijou a mãe e escondeu uma lágrima. Apesar de ter contado quase tudo, omitiu o sofrimento que teve, quando foram separados.

– É bom compartilhar, mãe – disse, finalmente. – A senhora nunca mais será solitária. Quando formos a Nova Terra, a senhora conhecerá um mundo incrível e, um dia, mudaremos para lá. Agora, contudo, preciso de salvar a Terra.

Quando retornaram para casa e estavam a sós, o jovem cientista contou para Luana toda a história que teve com Helena e ela mostrou-se preocupada.

– Amor – exclamou, assustada. – Nós não devemos nada a este mundo. Só tivemos sofrimento e apenas a nossa união nos salvou de enlouquecer. Arrumar uma guerra com o sistema é demasiado perigoso e sairemos perdendo com toda a certeza porque somos dois contra um mundo. Os Terranos adoram a gente. Vamos embora daqui!

– Acontece que eu acho que consigo, Luaninha – disse Pedro, fazendo carinho nela. – O Basilisco não foi criado para ser um tirano e sim para ajudar a humanidade como um todo. Se eu e você temos o maior coeficiente intelectual, ele vai pensar com lógica e eu poderei assumir o comando. Claro que os que o controlam vão se empenhar em criar todo tipo de dificuldade, mas você já sabe que nada me para, quando desejo algo. Mas não faremos sozinhos. Os Terranos vão ajudar.

– Como?

– A comunicação ultra luz – respondeu, dando de ombros. – Eles vão desejar e vou oferecer de bom grado. Mas antes vou construir um campo anti raios na nave e no planador.

– Tá, vamos dormir que amanhã quero conhecer o nosso gabinete.

― ☼ ―

Pousaram no terraço e deixaram o planador ao lado de outros dois, arrumado. A seguir, desceram pelas escadas, uma vez que eram apenas cinco andares para baixo e o jovem gostava sempre de se exercitar. Ele abriu a porta e viram uma sala espaçosa. Era bem iluminada e muito aconchegante, com tapete macio, cortinados nas janelas que se abriam para uma vista deslumbrante do alto de São Conrado. Junto das janelas, duas mesas em ângulo apontavam para a porta e, no meio da sala, alguns sofás e uma mesa com bebidas ajudava nas reuniões. Em outra parede, havia uma a estante com alguns livros de papel e uma porta para um sanitário particular já que aquele prédio antes foi um hotel de luxo.

– Que sala mais linda, amor! – exclamou, Luana, logo indo para a janela. – Eu fico com a da direita.

– Tudo o que você quiser, Luaninha.

– Tá, e a nossa futura colega?

– Vamos – disse ele, estendendo a mão.

Saíram e foram para a direita, em direção à escada. Duas portas depois, Pedro parou e bateu. Na porta estava: "Dra. Sônia Dantas". Quando ela mandou entrar, ele abriu a porta e Luana quase tomou um susto com a bagunça do lugar. Sônia, quando os viu, levantou-se sorrindo e foi em direção ao casal.

– Olá, gente – disse, estendendo as mãos. – Você não tinha dito que a sua esposa era deslumbrante, Pedro.

Após os cumprimentos, ela sentou-se com eles em um sofá vazio e a cientista mostrava as pesquisas teóricas e algumas pequenas experiências. Luana olhava as anotações, virando as páginas do caderno e lendo as equações, quando parou de repente, apontando uma equação para o marido. Pedro leu e sorriu.

– Algo errado? – perguntou a cientista.

– Sim – disse Luana. – Veja esta diferencial. A solução proposta é incorreta. Se você mudar isso e aplicar uma transformada de Laplace terá uma algébrica bem mais fácil de tratar.

– Caramba! – exclamou Sônia. – Tem razão! Que mancada eu fui dar!

– Desculpe se a desagradei com isso.

– Desagradar? – perguntou a doutora, sorridente. – Mas é claro que não. É bom estar errada porque isso me permite ver o problema de outro ângulo e eu não vinha tendo resultados concretos. Significa que temos chance de conseguir. Não estou incomodada, não; estou bem contente. Que tal vocês levarem as anotações para o vosso gabinete e analisam tudo enquanto eu desço para fazer um lanche e descanso um pouco porque passei a noite em claro?

– Sem problemas. Estaremos no gabinete até às seis e depois iremos para casa. A minha mãe está se acostumando a viver longe dos simuladores e não desejo que fique sozinha muito tempo.

– Claro, claro – disse ela, sempre alegre. – Que bom que sua mãe está saindo disso. Os meus pais não conseguiram.

– Sinto muito.

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