Capítulo 2 Parte 1 (Rascunho)

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"Para os eleitos do mundo das ideias, a miséria está na decadência e não na morte."

Rui Barbosa.

Durante as duas semanas seguintes, o casal estudava junto o potencial do palm, além de continuarem estudando os assuntos que Pedro escolhia para ambos. Estavam sempre curiosos a respeito de tudo e não havia nada que não aprendessem.

Luana completou seis anos e mais uma vez o transportador parou naquela rua, agora para pegar a menina. Preocupado, Pedro foi encontrá-la de modo a lhe dar coragem e viu que estava para entrar aparelho... sozinha. Correu até ela e perguntou:

– Os seus pais não vão?

– Estão enfiados no simulador e nem me ouviram – respondeu, zangada. Decidida, continuou. – Eu vou sozinha.

– Não vai não, eu acompanho você – afirmou, convicto. O robô tentou impedi-lo, mas o jovem apenas encarou a máquina e disse, severo. – Ela tem direito a um acompanhante. É a lei.

Desde que começara a estudar, Pedro perdera por completo o medo dos robôs, em especial por já saber as limitações que possuíam, limitações essas que tanto ele quando a namoradinha não tinham. Por isso, não se espantou nem um pouco quando a máquina afastou-se para lhes dar passagem. O planador ainda parou em mais três casas para recolher crianças, até que ficou cheio e seguiu para o centro. Quando a namorada viu a transformação da cidade naqueles jardins maravilhosos disse, estasiada:

– Que lindo!

– É mesmo muito lindo – confirmou Pedro. – Pena que o nosso lado da cidade não é assim e isso me faz pensar muito. Essas contradições me deixam desconfiado que a situação do nosso lado pode ser proposital.

Logo desceram no prédio e o jovem sentou-se na frente da sala, aguardando Luana. Ele notou que dois meninos entraram e saíram e um terceiro deveria estar prestes a sair, antes de ela reaparecer. Levantou-se e abraçou-a. Com um beijo no rosto, segredou no seu ouvido:

– Não fale nada agora.

Quando retornaram, Luana largou as coisas em casa e foram para a praça discutir o assunto, uma vez que ainda era cedo.

― ☼ ―

No centro genético e de triagem, dois funcionários discutiam, comparando dados.

– São dois resultados demasiado discrepantes – disse a mulher, compenetrada. – Vamos precisar de acompanhamento para ambos.

Puxou a ficha do menino que avaliara duas semanas antes e leu alguns dados genéticos.

– Note, John, que ele já foi colocado no alerta prioritário após o nascimento, durante a primeira avaliação genética. A projeção de QI era duzentos e cinquenta a trezentos! Nunca uma seleção se deu tão perfeita quanto com estes dois. Finalmente o programa trouxe resultados acima do esperado, bem acima.

– Mas acontece que ele superou as projeções por um fator de dois e isso é fora do padrão estatístico, puro outlier. E digo mais, tanto ele quanto a menina são fora da curva!

– Exato. De qualquer forma, noto que eles têm agentes discretos sempre por perto e o coronel é o melhor de todos.

– E a garota? – perguntou o colega. – O que você tem aí sobre ela, Helena?

– Outro fenômeno de vital importância – afirmou, lendo a ficha da pequena Luana com atenção. – Previsão inicial de QI de cento e noventa a duzentos e sessenta. Medida atual: quatrocentos e vinte. Como o garoto, tenho a certeza de que ela já sabia ler e muito bem.

– Também precisamos de a colocar sob supervisão.

– Sim, John, já estão – concordou a mulher. – Esse casalzinho está sempre junto. Por isso, os mesmos agentes cuidam de ambos.

2422 ADOnde histórias criam vida. Descubra agora