Capítulo 8 Parte 2 (Rascunho)

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Naquela cidade desolada, uma nave pequena descia em frente a uma casa. Dela, um casal saiu de mãos dadas, como sempre. Com um beijo separaram-se e Pedro tocou no sensor que o identificaria como morador. A porta abriu-se e entrou. A casa parecia um caos e a única coisa que estava arrumada era o quarto do jovem. Ele foi direto para o quarto dos fundos, onde ficava o simulador, mas não havia ninguém lá. Assustado, revistou a casa toda e não encontrou nada. Os pais tinham desaparecido. Foi para a saída quando a porta se abriu e viu a mãe entrando.

Ela estava magra, abatida e cheia de olheiras. Ao ver o filho desaparecido, deixou cair a sacola dos alimentos e estendeu os braços, andando trôpega na sua direção e quase caindo. Pedro abraçou a mãe, sentindo um nó na garganta pelo estado dela que começou a chorar como uma criança, apertando-o contra si. Quanto mais ela o apertava contra si, mais chorava com grossas lágrimas correndo rosto abaixo e isso deixou o filho demasiado aflito. Sem poder fazer nada, esperou que se acalmasse, mas até ele sentiu umas poucas lágrimas da saudade. Antes nem se viam muito, mas estavam próximos e a mãe sempre foi muito apegada ao filho. Pedro sabia muito bem que devia muito do seu sucesso a ela por conta do jeito que o educara até aos cinco anos. No fundo, ela ficara ausente apenas após ter ido ao centro de genética por conta das lembranças do passado e pelo desespero da vida inútil que levava. Carinhoso, aguardou que se acalmasse, abraçando-a e beijando a sua testa.

– Mãe, o que foi que aconteceu? – perguntou, quando o choro se tornou apenas soluços. Ela ergueu o rosto e acariciou o filho, afastando-se um pouco para o olhar melhor. Pedro pegou a sacola do chão e levou a mãe para a cozinha, sentando-a na mesa.

– Você está tão grande, meu filho! – exclamou a mãe, voltando a chorar mais um pouco. – E eu sentia tanto a sua falta!

– Também senti, mas fomos separados contra a minha vontade. Não me deixaram nem avisar vocês. Mas eu venci e agora voltei para levar vocês comigo de modo a saírem desta vida horrível. Onde está o pai?

– Seu pai morreu há dois meses − respondeu, triste. − Eu achava que ele estava sempre no simulador, mas uma noite um guardião bateu à porta e avisou que os sinais vitais dele cessaram. Desconectaram-no do aparelho e levaram para reciclagem. Depois disso, nunca mais consegui usar o simulador. Eu não o amava, mas gostava muito dele.

– Ainda bem, mãe – disse Pedro, beijando a sua testa. – Essas coisas fazem mal à saúde. Você vai comigo para um lugar muito bom e tudo isso vai acabar. Só vamos esperar a Luana voltar com os pais dela.

– Luana? – perguntou a mãe, olhando para ele. – Ela está bem? Nunca mais a vi!

– Está sim, mãe. Ela foi separada de mim, mas voltei atrás dela e ganhei. Agora, estamos casados, como eu sempre disse desde os meus cinco anos.

– Sim, filho, eu me lembro bem. Que bom que conseguiu.

Bateram à porta e Pedro abriu para ver a esposa, sozinha e com ar abatido. Com um suspiro profundo entrou.

– Eles nem pensam em sair dali – disse ela, triste e em resposta ao olhar interrogativo. – Tentei de tudo, então somos apenas nós e seus pais.

– Meu pai morreu, mas minha mãe está bem e sem simulador, venha.

Ao ver a nora tão deslumbrante, levantou-se e abraçou-a. Pedro fez algo rápido para comerem e ajudou a mãe a pegar algumas roupas. Depois, os três foram para a navezinha e rumaram para o espaçoporto. Quando a mãe viu Pedro entrar em um hangar de uma nave muito maior, perguntou:

– Que nave é essa?

– Essa nave é minha e da Luana – disse o filho. – Foi presente do governo de um mundo muito distante.

– E vamos para onde?

– Rio de Janeiro – disse o filho, levando a mãe para a sala de comando e apontando uma cadeira para ela. Depois, sentou-se na poltrona de piloto e Luana na do lado porque ainda aprendia a pilotar.

Vinte minutos depois, pousavam no Rio e voltaram para o planador, indo para a Barra da Tijuca e pousando no terraço de uma casa à frente do mar. Boquiaberta, a mulher olhava para aquele lugar tão lindo.

– Esta será a sua casa, mãe – disse Pedro. – Tem transporte automático próprio e o seu bracelete possui crédito ilimitado. A nossa é a casa do lado.

– Como conseguiram isso, filhos?

– Somos cientistas, mãe – respondeu ele. – Os mais importantes da Galáxia. Agora eu preciso ir ao centro de pesquisas e a Luana ficará consigo para a ajudar no que precisar.

Abraçou a mãe, beijou a esposa e foi para o planador, decolando para São Conrado.

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A caminho do escritório da doutora Helena, encontrou o antigo colega de quarto e o cientista que o convidara a trabalhar no laboratório. Ambos abriram um grande sorriso e abraçaram o jovem, que estava muito mudado, na opinião deles. Tinha o semblante alegre e a felicidade estampada no rosto.

– Quando descobriu a verdade, Pedro? – perguntou o ex-colega de quarto. – Eu levei mais tempo, mas já estou no primeiro ano superior.

– Isso quer dizer que já sabia, quando me evadi – comentou o jovem, sorridente. – Eu descobri em Vega.

– Sim. Todos os novatos são colocados junto com um estudante avançado de modo a tentarem ajudar a superar os problemas de se adaptar. Só que nenhum de nós tinha ideia do quão avançado você já era ao chegar. Mas eu confesso que devia ter desconfiado disso quando você aprendeu xadrez em dois dias e derrotou o computador no terceiro.

– Pelo jeito, vejo que reencontrou a mulher da sua vida – comentou o professor.

– Como sabe?

– Bem, esse era o motivo da sua depressão – explicou. – Mas também vejo uma aliança nesse dedo e sei que não se casaria com outra pessoa que não ela, já que estava tão abatido.

– É verdade. – Pedro riu. – E isso só me faz bem.

– Bem, meu jovem, você pulou todos os estágios do aprendizado e está no mesmo nível dos professores mais avançados, senão muito acima disso. Pretendia ir a algum lugar ou posso lhe mostrar onde ficará o seu gabinete. Como vai a mecânica quântica, aprendeu mais coisas novas e ampliou o seu horizonte?

– Vai tão bem que eu e minha esposa estamos estudando a possibilidade de gerar comunicações acima da velocidade da luz – respondeu sempre alegre. – Não precisa me levar ao meu gabinete. Helena já me mostrou ontem.

– Então vou agendar um encontro com a doutora Sônia – comentou o professor. – Ela anda debruçada com esse caso há quase dois anos e vai adorar trocar uma ideia com vocês.

– Será um prazer, mas agora preciso de falar com a doutora Helena. Na volta passo na sua sala.

– Combinado. – Despediram-se e cada um seguiu uma direção.

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