– CERTO – suspiro – está difícil de limpar estas manchas.
Island solta risada,estamos sentadas em seu sofá pequeno,há uma tigela de porcelana com água em cima da mesa,levo o pano molhado até a parte direita do rosto dela,limpo a terra e as nuances marrons que insistem em ficar,o pequeno risco de sangue agora está rosado e não sangra mais.
– Deveria ter pensando nisso antes de se oferecer para ajudar. – zomba Ivy,fitando meu rosto.
– Que bobagem. – murmuro,concentrada demais na pequena mancha em sua têmpora.
– Não demore a atenção aí,esta mancha é de nascença. – explicou-me.
– Como não havia percebido? – uno as sobrancelhas.
– E por que perceberia?
Ela está me fitando enquanto sorri,um sorriso travesso e questionador,mas os olhos são desconcertantes o suficiente para acanhar meus gestos.
E por que perceberia não é mesmo? Exatamente,não há razão,mas o súbito aborrecimento infantil a me atingir se deve a ter notado tantos aspectos nela,a pequena falha na sobrancelha,o anel dourado ao redor das íris,as pontas irregulares do cabelo,mas não,uma marca de nascença passou despercebida.
– Por nada ora – retruco,estou finalizando a limpeza – talvez curiosidade.
Island levanta o queixo para que eu limpe a região entre a mandíbula e o pescoço,os olhos permanecem fixos em mim.
– Você é uma mulher curiosa então?
Tenho a impressão de estar ruborizada,mas a sensação é contínua ,são palavras tão triviais que me envergonham..
– Creio que sim.
Ela não ergue o rosto da forma que preciso,então pouso as mãos delicadamente em seu queixo,abaixando-o um pouco,sinto a ponta dos dedos formigarem,imagino que seja o resto de terra.
Quando termino, sinto que fiz uma cirurgia,estou com batimentos fortes e uma pressão estranha ao redor do corpo.Estou prestes a tirar os dedos de seu rosto,mas Ivy fecha a mão em meu pulso, semelhante ao gesto que lhe fiz, diferenciando-nos apenas a suavidade.
– Obrigada.
Penduro o pano na borda da tigela e expresso confusão.
– Me ofereci para limpá-la,não foi incômodo algum.
– Não,não sobre a ajuda...você ainda se empenha em compreender minha vida,e eu dormi com seu..
– Isto é um assunto encerrado.
– Eu sei,eu sei,mas..não entendo o porquê aceita meus convites,por que bebe chá na minha casa e conversa comigo,você deveria me odiar,atravessar para o outro lado da rua enquanto eu passo.
– Não odeio você Ivy Island.
Seus dedos arrastam pelo meu pulso até a minha palma,ela a aperta e olha para mim, as feições mergulhadas em confusão.
– Por que não odeia?
Suspiro,a pele dos dedos é quente,sua voz é próxima e seus olhos intimidam,não como os olhos do meu marido intimidam,é uma intimidação de outra natureza.
– Apenas não a odeio,sem razões mirabolantes,não a odeio e ponto final.
Island franze o cenho,é estranho vê-la compenetrada e desentendida,tão estranho que é engraçado.
– Está rindo de mim? – pergunta ela,bem humorada.
– Um pouco.
– Certo,irei superar.
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Ivy
RomanceDepois das montanhas e da floresta esquecida,a pacata e religiosa vila dos Prudentes atravessa um outono marcado pela guerra. Apesar do conflito territorial que acontece nas fronteiras,uma jovem mulher de reputação controversa está de mudança para...