- SENHORA Fraser? O que faz aqui?
A pergunta de Ivy Island é genuína,não rude - o que seria preferível,assim eu poderia respondê-la da maneira mais breve e ofendida possível e por fim lhe daria as costas.
Mas a surpresa estampada em sua postura desmonta a coerência de alguém que apenas esperava hostilidade.Ela toma a iniciativa ao andar até mim,destruindo todos os ensaios mentais que construí.
Por que ela não pode ser hostil?
- Está tudo bem?
A proximidade turva o nosso entorno e me permite ver os detalhes do vestido,a flor branca e minúscula presa a sua orelha e o cabelo meio amarrado por uma fita brilhante.
- A-ah é..sim,obviamente.
Island sorri.
- Obviamente?
- Creio que você entendeu.. - resmungo.
Ela estreita os olhos e curva os lábios novamente.
- Não,não entendi.
- Eu.. - pigarreio - bom,o senhor Calam foi muito grosseiro.
- Sim ele foi,mas não é uma surpresa.
- Imagino que não.
Abaixo o queixo para procurar o outro quilo de açúcar na cesta,uma tentativa ingênua de ganhar tempo para elaborar uma frase coerente,pelos céus,é como retornar aos desastrados quinze anos.
- A senhora pode olhar para mim?
Engulo a seco,desprovida de coragem para encará-la de verdade,eu acreditava que as poucas vezes em que estivemos juntas seriam suficientes para não parecer tão estúpida quanto da primeira vez em que a confrontei sobre Daniel - pelo visto sou estúpida de maneiras inéditas.
Um suspiro pesado deixa os pulmões quando permito que nossos rostos estejam alinhados,os traços continuam os mesmos,mas remontados pela minha mente durante o hiato realizado de comum acordo,vê-la na forma de si mesma ainda me assusta.
Ivy Island desmancha o sorriso astuto,o vestido pálido não combina com a sua respiração suspensa e as maçãs da face,corando lentamente até tomar o seu colo inteiro.
- Você está vermelha. - sussurro,porque parece que descobri um segredo.
Ela encolhe os ombros e põe o cabelo para trás,retomando o sorriso espirituoso.
- Vermelha feito um tomate ou uma pimenta?
Solto a risada que não deveria.
- Acredito que um tomate.
- Minha pele é..sensível ao clima,dada a frescuras,infelizmente.
- Entendo,quero dizer,não entendo,porque não fico parecida com tomates ou pimentas. - provoco-a.
Island levanta a sobrancelha e apoia as mãos no quadril,ainda cercada de rubor.
- Está zombando de mim?
- Não foi a intenção. - arrasto o sorriso para o canto do rosto.
- O que eu gostaria de saber senhora Fraser,são as suas intenções me seguindo até a trilha. - seu tom é questionador, mas não afiado.
Considerando nossa última conversa e como fui abrupta ao cortar qualquer interação adiante,a confusão de Ivy Island faz completo sentido,eu disse que não havia afinidades e nossa dinâmica não tinha cabimento,mas aqui estou,tirando um quilo de açúcar da cesta e lhe propondo um acordo:
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Ivy
RomanceDepois das montanhas e da floresta esquecida,a pacata e religiosa vila dos Prudentes atravessa um outono marcado pela guerra. Apesar do conflito territorial que acontece nas fronteiras,uma jovem mulher de reputação controversa está de mudança para...