A VARANDA de Ivy Island é quase do tamanho da minha sala de estar, toda revestida de branco e rodeada por uma cerca baixa, onde rosas pingadas de chuva estão penduradas em cestos.No canto esquerdo há uma mesa redonda de madeira com duas cadeiras,do lado direito - aonde estou sentada - um sofá pequeno faz companhia a mesinha de centro, com um arranjo de margaridas embelezando a rigidez da madeira.
O que ela faz da vida? Onde conseguiu dinheiro para tanto luxo?
- Perdão pela demora - Ivy Island aparece,fechando a porta da frente - me retirei para colocar roupas mais apropriadas.
O vestido que ela usa é verde pálido com raminhos dourados subindo pela saia, simples mas elegante.
- Não estou lhe fazendo uma visita - rebato - quando a chuva passar irei embora.
Ivy Island solta um riso incrédulo.
- A senhora não acredita em mim não é mesmo? Nunca vai acreditar.
- Não a conheço, como acreditaria? E a reputação diz muito sobre uma pessoa.
- Diz muito sobre o que outros acham de uma pessoa.
Encaro-a rapidamente, viro o rosto logo em seguida, sinto a chuva gotejar para dentro de mim, desfocando um pouco, todas as minhas certezas.
O céu briga com as nuvens agora, quebrando trovões e jogando raios na terra dos mortais, engulo a seco,sempre odiei tempestades.
- Senhora Fraser.. - a ruiva ergue a voz cansada - está tremendo de frio, e um raio pode cair perto da varanda a qualquer instante..seria bom que viesse para dentro.
- Não vou entrar na casa de uma..
- Está bem, entendi! - Island me interrompe, impaciente - eu sou uma puta do norte e minha casa fede a imoralidade, entendi senhora Fraser!
Antes que eu possa falar qualquer coisa, ela me dá as costas e volta para o interior da casa, batendo a porta.
Sinto uma espécie de culpa invadindo meu peito, é algo completamente irracional de se sentir devido as circunstâncias,vê-la magoada deveria me deixar, no mínimo, satisfeita.
Mas a tristeza nos olhos dela se parece demais com a minha,a raiva em sua voz se parece demais com a raiva que me consome todos os dias.
A teimosia no entanto, foi maior que a empatia, com os braços cruzados e sola da bota arranhando a madeira do chão, permaneci na varanda por quase uma hora, até que um raio se chocou contra as margaridas,partindo minha resistência ao medo.
Ando pela varanda, envergonhada de bater na porta, praguejo baixinho os raros xingamentos que ouço de Daniel, sinto um constrangimento absoluto se apoderar de mim, criador mas que dia infeliz!
Outro raio atinge o chão, perto o bastante para fritar meus nervos.
A porta é aberta, Ivy Island me fita com preocupação.
- O céu está pegando fogo senhora Fraser, será que não pode ao menos por um minuto..
- Sim eu aceito!
- O q-que?
- Eu..gostaria de entrar se, hã..for possível.
- Ah, certo, certo.
Ela não faz perguntas sobre minha repentina mudança de opinião, o que traz alívio, toda a situação é um verdadeiro mal estar.
Ivy Island abre a porta, dando passagem para mim, o interior da casa é semelhante a varanda: aconchegante e enfeitado.
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Ivy
RomanceDepois das montanhas e da floresta esquecida,a pacata e religiosa vila dos Prudentes atravessa um outono marcado pela guerra. Apesar do conflito territorial que acontece nas fronteiras,uma jovem mulher de reputação controversa está de mudança para...