36 - pressão

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Arrascaeta não vai a hora de falar com Isis.

Sempre quando ambos sentavam para finalmente descansar, começavam uma ligação acalorada e falavam sobre tudo o que podiam e lembravam.

Mas hoje ela não ligou.

E ele imaginou que fosse por conta dos três jogos que ela teve, no decorrer de, literalmente, três dias.

E ele iria para o segundo jogo da semana no dia seguinte.

O time dela enfrentou, o Vôlei Renata, o São Bernardo Vôlei e Minas, cada um em um dia pela Superliga.

Os três jogos foram ganhos por elas, mas mesmo assim trazia muito cansaço.

O uruguaio ficou em dúvida.

Não sabia se ligava ou não, mas no fim preferiu ligar.

— Oi. — ela disse, passando as mãos sobre os olhos. — Desculpa por não ligar.

Ele sorriu, sem graça.

— Desculpa também, eu sabia que você estava cansando.

Ela revirou os olhos.

— Você deixa meu dia melhor. 

Ele ficou quieto por alguns minutos, levantando-se e indo para a cozinha.

— Você quer conversar?

Arrascaeta ouviu o suspiro pelo telefone.

— A pressão é horrível. Queria ser normal.

— A pressão, por mais horrível que seja, vai passar um dia, Isis. — ele disse. Ela tentou falar. — Escute. Você é uma jogadora incrível e vocês ganharam todas as partidas.

"Eu vi que você fez alguns pontos de segunda, vi seus jogos, as reprises do que não pude ver e você jogou para caramba. Levantou e chamou as meninas para o jogo. E ganhou a titularidade."

"Isis, você precisa pesar as coisas boas também, não adianta lembrar só das ruins. A pressão, os xingamentos, tudo faz parte do processo de adaptação. A torcida também ama você, eu consigo notar, sabia? É incrível como eles aplaudem você. Então, eu digo com total clareza que você vai ser uma jogadora foda pra caralho."

Ela não lhe respondeu imediatamente.

— E eu sei que você nem falou sobre o resto das coisas, mas tenho certeza que você pensa nisso todos os dias. — Arrascaeta disse. — Eu não te vejo sempre, mas te conheço o suficiente para saber disso.

— Obrigada por isso, amore mio. — ela diz, parecendo querer chorar.

O jogador pisca um olho para ela.

— Ponha para fora, amor. Vou deixar você descansar.

Ela concorda, sorrindo levemente para ele.

Camisa 14 - G. De ArrascaetaOnde histórias criam vida. Descubra agora