capítulo 2

14.7K 905 97
                                    

Ana Olivares

Desde que me lembro eu vivo nesse sítio mesmo isso não sendo uma total verdade. Quando eu era bem pequena, antes dessa história de ser a prometida de um futuro capo, eu morava com a minha família na cidade, eu não me lembro de praticamente nada, mas me recordo que eu gostava muito.

Tudo mudou quando o acordo foi selado, meu avô convenceu o meu pai de que se eu vivesse no campo e convivesse menos com moças de espírito mais livre, maiores seriam as chances de eu permanecer virgem e pura pro casamento, sem ter risco algum de colocar todas as nossas cabeças a prêmio. E o meu pai? Bom, tanto ele quanto a minha mãe acabaram concordando e desde então eu tô aqui.

Mesmo gostando de viver por aqui eu meio que sinto raiva por não ter o direito de escolher ficar em qualquer outro lugar, mesmo depois que meus avós morreram os meus pais não me deixaram voltar pra casa, ao invés disso pra proteger o tratado eles decidiram se mudar pra cá onde estão desde então. Mas é claro que eu sempre dou o meu jeitinho de aproveitar.

Entre todas as aulas de línguas estrangeiras que eu tive que aprender e todo meu treinamento eu sempre consigo dar uma escapada de vez em quando, seja pra festa ou só pra ficar de bobeira com os meus amigos por aí.

— É verdade o que os peões estão comentando?— O Julio, um grande amigo daqui da fazenda, chamou a minha atenção se aproximando de mim na varanda de casa.

— Os peões falam muita coisa Júlio.— Respondi sorrindo pela brisa leve no meu rosto. Eu vou mesmo sentir falta disso.

— Seu noivo tá mesmo vindo com a família toda pra cá?— A voz do Júlio saiu baixa e talvez um pouco ressentida.

Resolvi dar mais atenção a conversa e me virei para ele tentando buscar alguma informação oculta.

— Ainda é prometido, e sim, ele e a família vão vir pro meu aniversário.— Não me surpreendeu em nada meus pais terem convidado a família Fontenelle inteira pro meu aniversário, já que é nesse dia em específico que vai ser oficializado o nosso noivado e exatamente um mês depois disso deve acontecer o casamento.

— Você sabe que isso de prometido é só burocracia. Escuta Ana, eu não quero que você vá embora.— Julio olhou para mim com os olhos transmitindo o sofrimento de suas palavras.

— Isso não é algo que esteja em seu domínio, Julio.— Respondi já me levantando querendo cortar qualquer tipo de conversa errada que possa surgir daí.

Eu não sou idiota, sei muito bem que ele sempre nutriu algum tipo de paixão boba por mim, mas acontece que eu nunca correspondi, mesmo que minimamente, e não é por causa do meu prometido. Eu não sou uma mulher que passou a adolescência inteira sem dar um beijo na boca, lógico que não, por que eu faria isso quando sei perfeitamente que ele deve fazer visitas frequentes aos bordéis da famiglia? Minha fidelidade vai ser obrigatória depois que a aliança de noivado estiver no meu dedo, até lá eu aproveito os meus resquícios de liberdade sim. Lógico que nunca passando dos beijos, as consequências seriam muito piores do que eu poderia enfrentar.

— Fica comigo, a gente consegue resolver isso, mas fica comigo.— Ele falou em tom de súplica se levantando e se aproximando de mim novamente, tentando a todo custo estabelecer contato físico.

— É melhor você me soltar.— Respondi forçando o ar pelo nariz. Digamos que quando eu fico com raiva, eu realmente fico com muita raiva, e com todo o treinamento que eu recebi com certeza acabaria machucando o Júlio que não passa de um homem de ego ferido.

— Podemos ser felizes juntos, esse babaca do seu noivo não vai te fazer feliz.— Ele disse apertando um pouco mais forte os meus braços e toda a paciência que eu estava lutando pra manter foi pelos ares.

Forcei minhas mãos para cima pra ter apoio nos braços dele e dei uma rasteira fazendo com que ele caísse imediatamente, em seguida forcei o meu pé no pescoço dele até que as mãos soltassem os meus braços de uma vez.

Que droga, essa porcaria vai ficar marcado agora!

Sem falar absolutamente nada eu voltei pra dentro de casa. Isso que dá tentar ser amiga de alguém, a pessoa acaba estragando tudo. Menos a Medy é claro, é a única amiga que eu tenho que é de fora da família. Minha tia e minhas primas dizem que ela não é confiável mas eu não acredito muito nisso, e se for, bem, em algum momento eu devo ficar sabendo.

— Filha! Meu amor, vem cá, estamos escolhendo os últimos detalhes da sua festa de amanhã.— Caminhei até minha mãe e minha tia que estão completamente inseparáveis nos últimos dias, organizando cada detalhe da minha festa de aniversário por ser a última que passarei aqui, e principalmente por que a festa de casamento vai ficar por conta do bom gosto da família Fontenelle.

— Mãe, pode contratar o DJ Song por favor? Ele tá fazendo uma turnê aqui no Brasil e eu quero uma grande festa antes de me mudar.— Os olhinhos dela brilharam por eu estar realmente empolgada com a festa já que no começo eu nem queria. Nunca fui contra festas de aniversário, sempre comemorei todos os anos, mas estava me parecendo desnecessário comemorar esse ano, na minha cabeça seria uma imagem triste. Eu assoprando as velinhas do bolo enquanto empacoto todas as minhas coisas.

As minhas primas Talia e Yasmin me convenceram que as coisas dependem da perspectiva com que nós olhamos para elas, e então eu decidi olhar como uma grande comemoração merecida.

— Claro querida. Tudo o que a minha princesinha quiser.— Ela disse anotando o nome do DJ em um caderninho logo acima da frase "LIGAR URGENTEMENTE" grifado pelo menos três vezes pra dar ênfase.

— Os Fontenelle vão chegar só na hora da festa?— Outro detalhe sobre mim, além do fato de ter uma raiva um pouco explosiva eu sou uma pessoa muito ansiosa, não posso dizer que não sei a aparência do Marco por que isso seria uma grande mentira já que eles são praticamente celebridades, vivem sendo capa de matéria mesmo nunca tendo dado nenhum tipo de entrevista, mas eu nunca conversei com ele.

Saber que ele é bonito é um prêmio para os olhos, mas e se ele for um grande imbecil? Aí eu vou estar presa pra toda eternidade com alguém que eu nem mesmo suporto. Preciso saber se esse é o caso ou não.

— Na verdade querida, eles vão chegar pela manhã, o pedido de casamento precisa ser feito antes da festa.— Arregalei os olhos com tanta força que se eu fosse um desenho animado eles teriam saltado pra fora nesse exato momento.

— Como assim mãe? Mas o acordo já foi feito a muitos anos, um pedido de casamento agora é totalmente irrelevante já que eu não vou poder responder que não.— Nem eu sei o motivo da surpresa e da indignação com o aviso da minha mãe, mas eu estava mentalmente preparada pra isso amanhã a noite! Agora eu tenho que me reorganizar.

— Eles são uma família muito tradicional Ana, o pedido vai ser feito e você vai aceitar lindamente. Na festa apenas o anúncio vai ser feito, não se preocupe.— Minha mãe disse e voltou a se concentrar em seu afazeres de festa com a minha tia que não disse uma palavra desde o começo da conversa, mas agora eu pude ouvir ela sussurrar pra minha mãe um "ela só está nervosa" e eu tive vontade de gritar.

Eu não estou nervosa como qualquer noiva ficaria, eu estou quase arrancando os meus cabelos de ansiedade querendo saber que tipo de futuro eu vou ter.

Respirei fundo controlando as minhas emoções como sempre faço.

Calma Ana, calma, você tem que se lembrar que as pessoas só podem te atingir até onde você permite, então mesmo que ele seja um babaca você só pode ser atingida se deixar.

E se ele me bombardear de alguma forma, eu vou contra atacar de alguma maneira por que homem nenhum vai pisar em mim e ficar por isso mesmo. Posso garantir isso com a mesma certeza que tenho de que meu nome é Ana Olivares.

Olá pessoalllllll tudo bom? A Ana é um pouco esquentada né? Será que ela consegue mesmo contra atacar com tanta força quanto ela pensa?
Não esqueçam, votem e comentem MUTO, isso sempre me incentiva. ♥️♥️

A Prometida Do Mafioso - Livro 1 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora