Capítulo 10

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Marco Fontenelle

Na iniciação os jovens homens da famiglia aprendem que não importa o que seja, um homem feito sempre arca com as consequências de seus atos. E é isso que eu tô fazendo agora, aturando pacientemente a minha noiva que não me dirigi a palavra a horas nesse avião e quando olha pra mim é sempre com um olhar de desprezo.

Eu reconheço que beijar qualquer mulher que fosse no dia do aniversário dela não foi uma atitude muito inteligente então eu não posso querer que do nada as coisas fiquem bem e ela me receba de braços abertos. Então resolvi me concentrar no que pode ser resolvido imediatamente.

— Domenico, Enzo, Lucien temos que conversar sobre o desvio de dinheiro que anda acontecendo nos bordéis da famiglia e na vendas das armas. — Trouxe o assunto "trabalho" para pauta e as reações dos três foram diferentes. O Enzo e o Lucien torceram o nariz, mas esticaram as costas para ouvir com mais atenção, já o Domenico continuou comendo o sanduíche e olhando para mim.

— Tem razão filho, como eu já estou pra deixar o posto de capo, é responsabilidade de vocês manter a famiglia em ordem.— Meu pai disse participando da conversa. Mesmo ele estando a ponto de deixar o posto de capo, ele nunca vai conseguir deixar o trabalho da famiglia completamente, mesmo quando começar a ser o Don Giuseppe o homem vai continuar sendo temido até no inferno.

Quando eu era criança sempre pensava no meu pai como aqueles palhaços assassinos, sempre matando com um sorriso no rosto.

— A máfia italiana tem que continuar sendo a mais temida e mais respeitada.—  Tio Tom disse concordando com o irmão. A tia Luara não deu opinião no caso por que já voltou para a Escóssia junto com o marido e com as filhas dela deixando apenas o Lucien e o Enzo conosco. Como eles também ainda não assumiram seus futuros postos, não tem problema nenhum passarem um tempo por aqui.

Dei uma olhada para o lado e vi a minha irmã em uma conversa animada com a Ana. Não sei se fico contente ou preocupado com essa amizade.

Dei de ombros e voltei os olhos e a atenção para a conversa.

— Vai continuar sendo, eles cresceram vendo como os melhores agem, eles vão superar vocês.— Minha mãe disse com o peito estufado de orgulho me fazendo rir.

Eu e o Dom recebemos algumas missões logo que passamos pela iniciação, não era nada muito complexo, mas fazia o sentimento de pertencimento começar. Acho que é uma coisa parecida com patriotismo, qualquer um de nós morreria pela famiglia.

— Tá bom, mas enquanto ele não tiver um filho eu ainda mando aqui.— Meu pai respondeu empinando o nariz como uma criança mimada.

— E você sabe que isso não vai demorar nada pra acontecer. Você tá ficando velho.— Tio Tom acusa e cai na gargalhada logo em seguida.

— Velho é o seu passado.— O poderoso Giuseppe responde com a boca formando um bico muito engraçado. Eu sempre quis ter um irmão por causa da relação que eu sempre vi meus tios terem, principalmente o tio Tom com o meu pai. A tia Luara sempre foi muito apegada a eles também mas como se casou muito nova eu não tive a oportunidade de presenciar isso todos os dias.

Eu vivia pedindo um irmão até o dia que a minha mãe contou que Dio tinha relaxado meu pedido e enviado um irmão ou uma irmã pra mim na barriga dela. Eu lembro de ter ficado bem feliz e eu ainda era bem pequeno.

— Eu acho que uma nova liderança sempre levanta algumas dúvidas por parte das pessoas.— Dom disse dando de ombros. E o pior é que ele tá certo.

O meu pai e o meu tio assumiram como chefe e subchefe da famiglia com alguns problemas de percurso, os meus avós tinham acabado de falecer em um atentado e alguns homem filhos da puta tentaram convencer o conselho de que uma família que sofre atentados não é boa o bastante para comandar uma máfia do nosso porte.

Claro que o meu pai ficou sabendo todos os envolvidos e matou cada um deles, foi a solução mais direta e, segundo o meu pai, mais satisfatória que eles encontraram para espalhar o medo pelos membros da famiglia, ninguém iria ousar se levantar contra eles novamente.

Infelizmente esse manto de poder não se estende sobre mim o o Dom, seus sucessores, sempre tem os leais a nossa liderança, mas sempre tem os que põe dúvidas e nós mesmos vamos precisar conquistar o nosso espaço diante de todos. Acho que fica mais difícil a cada geração, sempre existe a comparação do "seu pai faria melhor".

— O começo sempre vai ser o casamento, você e a Ana precisam passar uma imagem de uma frente forte e unida, por que se as pessoas começarem a perceber qualquer problema entre vocês vão tentar fazer ataques de dentro da sua relação. Vão tentar minar tudo e se o casal líder não esta bem a famiglia fica vulnerável.— Meu pai disse e eu prestei atenção em casa palavra, afinal o homem é um gênio.

— Só que eu já comecei estragando meu casamento, ou seja, a famiglia fica vulnerável se souberem.— Constatei o óbvio jogando as minhas costas no encosto da poltrona.

— Não seja tão dramático, isso é a cara do seu pai. Você não começou muito bem, isso é fato, mas a maioria dos casamentos arranjados não começa mesmo. Vocês nem se conhecem ainda, as coisas vão ficar melhores.— Meu Tio disse e tem tanta cara de sabedoria essa fala que eu decidi nem contestar. O casamento dele não foi arranjado, mas ele viu de perto o dos meus pais e talvez nem tudo tenha sido tão bom quanto é hoje.

— Um casamento se constroi dia a dia querido. Não é de uma hora pra outra.— Minha mãe disse com o mesmo tom de sabedoria que sempre usa comigo.

— Mas a Ana é bem brava, pode ser que seja um pouco mais complicado pra você, mas é aquilo né, cada um com seus problemas.— Domenico disse zombando de mim.

O pior é que ele tem razão, eu tinha idealizado o tipo de noiva que veria esse casamento como uma grande oportunidade e que faria de tudo pra me agradar. A Ana não é assim, o que por um lado é bom, mostra que eu vou ter uma mulher forte do meu lado na liderança.

— Senhores, o avião já vai pousar, por favor queiram colocar os cintos.— Uma aeromoça fala passando no corredor.

Eu percebi que ela é uma nova contratada da família, eu nunca vi essa mulher na minha vida.

Ela me olhou como uma predadora e lambeu os lábios mantendo o olhar fixo em mim tentando ser sedutora. Imediatamente virei o meu rosto para outra direção até que o avião realmente comece a descer.

Quando chegamos no chão eu peguei a minha mala e fiz a gentileza de pegar uma das milhares de malas da Ana também, parece ser a que ela tem mais apego então acho que a gentileza não lhe passou despercebida. Os soldados podem dar conta das outras.

— Gostei de ver a força de vontade.— Domenico disse andando do meu lado e eu percebi pelo canto do olho que ele está descaradamente prendendo o riso.

— Do que você tá falando?— Perguntei claramente sem um pingo de paciência pra brincadeiras sem sentido. Eu estou morto de sono e morto de cansaço e não vou poder dormir agora por que tenho que resolver os problemas de desvio de dinheiro.

— A aeromoça, ela era bem bonita e você foi suficientemente forte pra virar o rosto diante de tanta sedução, que orgulho.— Ele zombou enquanto entrava no carro que iríamos dividir. O restante da família vai pra casa descansar e nós vamos voltar ao trabalho.

— Espero que Dio pense o mesmo e me recompense por isso.— Respondi com um suspiro cansado entrando no carro também.

Eu realmente espero ser recompensado.

Aproveitaram o capítulo pessoal? Escrevi com muito carinho pra vocês, espero que gostem.

Mas não esqueçam de comentar e votar MUITO viu? Eu estou sempre de olho por aqui♥️

A Prometida Do Mafioso - Livro 1 da série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora