Chamada número 4 | Lucas

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"Sua chamada está sendo encaminhada para caixa postal, e estará sujeita à cobrança após o sinal"


Desde o momento da invasão até o primeiro disparo, Lucas chorava compulsivamente. O garoto não usava mais o óculos, eles foram quebrados pelo comandante como castigo por ter cuspido no rosto de um dos atiradores. 

Os soluços entravam em sincronia com as lágrimas, como uma melodia desesperadamente dolorosa. 

--- A sorte não está do seu lado hoje, garoto. --- o homem puxou o gatilho, mas logo soltou a arma ao se assustar com um grito que estourou seus tímpanos. 

--- Uma crise, ele está tendo uma crise de pânico! --- Josie disparou. 

Ela se lembrou da primeira vez que presenciou o garoto tendo essa mesma crise de pânico meses atrás, quando estavam no meio de uma atividade avaliativa. Ninguém entendia do assunto, não sabiam como lidar com situações assim, não sabiam como ajudar, mas Josie sabia. Ela correu até ele, segurou firme seu rosto, o olhou no fundo dos olhos, e fez tudo que fazia com sua irmã mais nova, o acalmou até que sua crise passasse. Foi nesse momento que tudo começou.

Ela tentou apartar essa crise denovo, tentou fazê-lo se acalmar, mas diante daquela situação, era impossível.

Nem todas as palavras reconfortantes dos amigos fizeram o garoto se acalmar. Os invasores deram-lhe diversos socos e chutes, mas de nada adiantou. Seus gritos altos de dor arrepiavam até a última espinha, uma situação de pânico não só para ele, mas também para todos os seus amigos, ou melhor, o que restou deles. 

--- Já chega, vamos dar um fim nisso. --- o disparo foi feito, a crise de pânico acabou, o garoto estava morto. 

••• 

Lucas, 16 anos, o melhor aluno da classe. Nunca teve amigos de verdade, apenas pessoas que faziam dele um dicionário humano, uma calculadora. 

Mudou de escola diversas vezes, ninguém aguenta sofrer bullying por muito tempo. 

Campeão das Olimpíadas de Matemática no 8° ano, dono das melhores redações, amava ler e escrever histórias, um verdadeiro gênio. 

Sua vida era simples e monótona, se baseava somente em estudar e respirar, não havia aventuras, não havia sorrisos, não havia nada, somente seus livros de cálculos que tanto amava.

O grupo de 7 amigos entraram em sua vida de repente, e mesmo que não quisesse criar laços afetivos, foi inevitável. E o que falar de Josie? Uma garota marrenta que mexeu com seus sentimentos, algo novo que nunca tinha sentido antes. Namoro? Ele não sabia ao certo o que isso significava. 

Josie entrou na sua vida como um furacão, revirando tudo. Desde o dia em que ela o ajudou com a crise, o primeiro beijo na enfermaria, e até na última troca de olhares, ele se sentiu amado por ela. O que tiveram foi puro, sincero, uma relação digna de uma bela história. 

Não era justo terminar assim, o garoto Lucas não merecia isso, era bom demais, gentil demais, doce demais, era tudo demais que se pudesse imaginar. O gênio da matemática faria falta, muita falta. 

Lucas, a quarta vítima. 



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