• As 7 chamadas perdidas

Chamada número 6 | Antenor

"Sua chamada está sendo encaminhada para caixa postal, e estará sujeita à cobrança após o sinal"

Antenor e Josie, duas vidas, dois amigos, dois reféns. Assim como todos os outros 5, o garoto também não teve sorte. 

Ele perdeu todo mundo que amava, e agora a coisa que mais queria, era se reencontrar com eles. 

O comandante estava cansado, todos estavam. Essa coisa de matar não era saudável, não podia ter acontecido, mas aconteceu. 

--- Não precisava ter ligado, as chances dele atender são mínimas. --- disse ele. 

Suas mãos amarradas à corda já deixavam marcas, e seu rosto já não era mais o mesmo. Seu brilho sumiu, aquele garoto alegre e feliz não existia mais.

Desde a primeira morte, do primeiro tiro, ele desejou que fosse o próximo, seria melhor se sentisse logo o impacto da bala antes dos seus amigos. Seria menos dolorido se ele não os visse morrer na sua frente, um por um.

Assim como todos os outros, um filme também passou pela sua cabeça. Seus amigos não estavam mais lá, apenas seus rastros de sangue, os invasores haviam os levado para outro cômodo.

Olhando para Josie, se lembrou de quem estava ao seu lado, e de quem estava do lado dessa pessoa, e assim por diante, até finalmente chegar nele, o próximo a dar adeus.

Ele morreria sem antes conseguir se formar, como prometeu a sua mãe. Morreria antes de se tornar um jogador de futebol famoso, e pior, morreria antes de presentear Sarah com um anel de compromisso. Tudo isso doía demais, então por que resistir?

Acabar com isso logo seria um grande alívio para ele, a dor do luto era pior do que qualquer outra coisa. Luto por Sarah, luto por Lian, luto por Louis, luto por Jean, luto por Lucas, e em breve, Josie sentirá a dor do luto também. 

--- Boa sorte, espero que um dia a gente possa se reencontrar. --- disse ele, antes de sentir a bala contra seu peito. 

Luto por Antenor. 

••• 

Antenor, 18 anos, o único repetente da turma. Ser mais velho que os demais alunos não era uma coisa ruim, embora estivesse na maioridade, tinha alma de criança. 

Morava com seu irmão mais velho, um traficante. As pessoas costumavam confundir as coisas, diziam que o garoto era como o irmão, um criminoso, mas não, Antenor tinha plena consciência de que tudo isso era errado, tinha sua dignidade intacta. 

Ele não tinha opção, morar debaixo da ponte não fazia parte de seus planos. 

Goleiro do time, responsável por muitas vitórias, medalha de ouro, jogador caro, como diz o ditado. O futebol era sua maior paixão, assim como Sarah, a primeira e única. 

Amigo de todo mundo, simpático, carismático, bom coração, nunca fez mal para ninguém, e se fez, certamente não era ele. 

Decepção da família, alegria dos amigos. 

Sua passagem na terra infelizmente chegou ao fim, mas de uma coisa podem ter certeza, ele nunca será esquecido. 

Antenor, a sexta vítima.