Medos

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Fomos o caminho todo em silêncio, eu ainda não queria falar, minha voz estava de choro... E Rafael não sabia o que falar, eu odiava esse silêncio. A gente tava indo tão bem desde o jantar.

Ele estacionou o carro em frente a casa do meu tio, as luzes ainda estava acessa. Eu não queria entrar agora, não queria que ele me visse com cara de choro, de novo...

- Desculpa por ter entrado em um assunto delicado. Mais eu não sabia, se soubesse não teria perguntado.

- Você não tem culpa. - Respondi olhando pra ele ainda com as lágrimas no rosto, eu devia ter parado mais não consegui.

Rafael me olhou com um olhar encantador, o jeito que ele olhava nos meus olhos era diferente de qualquer outra pessoa, ele me olhava no fundo da alma. Parecia está me enxergando por dentro.

- Você vai ficar bem?

- Eu sempre fico. - Respondi sorrindo, mais sem sair do lugar. Acho que eu não queria entrar agora agora.

- Pode contar comigo pro que precisar tá?

Concordei com a cabeça enquanto enxugava o rosto. Eu queria sair daquele carro e ir direto pra minha casa.

- Obrigada... - Falei olhando pra ele novamente. - Me diverti um pouco.

- Garanto que dá próxima vez vai ser mais divertido. - Respondeu ele sorrindo.

- Não sei se vou está aqui.

- Porque? Pretende ir embora logo?

Era o que eu mais queria desde que cheguei... Eu sei que devia ficar ali pro meu próprio bem. Mais de quê ia adiantar? A minha vida não era ali. Alguém tinha matado minha mãe e eu parecia estar em uma colônia de férias enquanto meu pai quebrava a cabeça atrás dos assassinos.
Eu precisava ir embora, o mais rápido possível. Eu ia descobrir de alguma forma quem teria feito isso com minha mãe.

- Creio que sim... - Eu não podia contar pra ele como minha mãe tinha morrido. Isso já era demais aquela noite!

- Você podia ficar mais um pouco, acho que ia te fazer bem.

- Não sei... - Falei enquanto tirava o cinto. - Talvez...

- Bom, vou te convidar pra sair novamente antes de você ir embora.

Sorri enquanto abria a porta do carro.

- Até logo... - Falei me aproximando pra abraçar ele.

- Até... - Respondeu ele me abraçando forte.

Rafael tinha um corpo malhado, mais não tanto... Ele era grandão de um jeito bonito. Seus braços envolveram minhas cinturas, mesmo a gente sentando mais me senti leve de repente. Ele acariciou minhas costas com suas duas mãos, e senti sua respiração no meu pescoço. Merda... Eu não podia me apaixonar no momento, eu não estava pronta pra isso.

Me afastei dele um pouco mais rápido do que queria, ele me olhou confuso.

- Tchau... - Respondi olhando pra ele enquanto saía do carro.

Fechei a porta e não olhei mais pra trás. O que eu estava fazendo? Rafael era um cara incrível, ele tinha sido gentil comigo e eu estava tratando ele de uma forma seca.
Mais eu não podia me apaixonar e ele não podia gostar de mim, isso ia me atrapalhar com o assunto envolvendo minha mãe. Eu precisava focar nisso no momento, em descobrir quem matou ela, e não entrar em uma relação... Eu queria, queria muito conhecer alguém e ter uma pessoa do meu lado, mais eu ainda não está apronta pra isso.

Assim que entrei dentro de casa, tio Sam estava no telefone com alguém, ele acenou pra mim mais eu não consegui olhá-lo nos olhos. Fui direto pra escada e subi no quarto...

Fechei a porta e me abaixei no chão enquanto chorava. Porque estava acontecendo tudo aquilo comigo? Porque as coisas chegaram aquele ponto? Meus pais eram tão felizes um com o outro, e agora tudo sumiu... Sem a minha mãe do nosso lado, nada fazia mais sentido.
Me levante ainda chorando e peguei minhas malas que estavam ao lado do guarda roupa, eu ia embora no dia seguinte…

Tirei todas as roupas do armário e joguei em cima da minha cama, eu estava nervosa, não conseguia controlar o choro. Talvez eu podia pegar um voo hoje mesmo, amanhã já estaria em casa.

Enquanto eu jogava as roupas de todo jeito, meu tio bateu na porta.

- Hannah? Você está bem? Aconteceu algo?

Eu não podia responder, eu estava chorando. Porque ele tinha que vim atrás de mim?
Tio Sam bateu na porta novamente.

-Hannah, me deixa entrar...

Eu não conseguia deixá-lo falando sozinho. Abri a porta e me virei novamente pra arrumar a mala.

- O que está acontecendo? - Perguntou ele.

- Eu... Eu... Tenho que ir embora. - Falei me virando novamente pro armário e pegando as últimas peças.

- O que houve? Foi o Rafael?

- Não... Sou eu. Eu tenho que voltar pra casa e ajudar meu pai na investigação, ele está lá sozinho. - Eu estava tentando fechar a mala, tinha jogado tudo em cima do outro que ia ficar ruim de fechar.

- Hannah... Seu pai está bem, os policiais estão investigando, e tudo vai se resolver.

Me sentir na cama enquanto minhas lágrimas aumentavam. As coisas não iam se resolver assim e eu não queria mais ficar parada.

- A minha mãe morreu não faz nem um ano... E eu acabei de ter um encontro. Eu me diverti enquanto meu pai está lá sofrendo com a perda dela, você me entende? - Falei olhando pra ele enquanto enxugava o rosto.

Meu tio se abaixou na minha frente e segurou minhas duas mãos.

- Você não deve parar sua vida pelo que aconteceu. Tenho certeza que sua mãe quer te vê bem, e claro que você deve conhecer uma pessoa, quem sabe ter um relacionamento. Seu pai é um cara forte, e você puxou a ele... Mais não se cobre tanto, porque a culpa daquilo não foi sua.

Estirei meus braços e abracei ele enquanto caía em lágrima.

Talvez meu tio tivesse certo... Já estava perto de completar um ano da morte da minha mãe, e desde então eu tinha me fechado pro mundo. Eu não podia ficar a vida toda daquela forma... Eu precisava viver também.


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