BÔNUS | DUAS OPÇÕES

6.4K 531 1.6K
                                    

— HEYOON JEONG

Eu sinto que vou morrer.

— Any, por favor! Eu não aguento mais! — Ofego.

É fim de tarde de quarta-feira, às nuances do céu resplandecem tons de laranja, rosa e lilás. Por ser período de férias, o parque está lotado de crianças brincando, adolescentes fazendo piqueniques e adultos com suas tentativas de fazerem exercícios. A ciclovia ao redor do parque, lugar onde estamos, não tem um trânsito tão congestionado, mas realmente há uma considerável quantidade de pessoas fazendo a mesma atividade que nós duas.

A resposta do meu corpo para o exercício físico é puramente dolorosa, a dor irradia dos meus pulmões para o abdômen, depois para todos os músculos e de repente, até minhas articulações latejam. Meus pés dão um último impulso nos pedais antes que eu desista de acompanhar o ritmo da pilota brasileira. Saio de cima da bicicleta, levando até uma área de grama. Apoio o veículo em uma árvore e me jogo no chão, sentindo meus músculos amolecerem.

— Ok, cinco minutos de descanso! — Ela bufa ao longe, revirando os olhos de indignação.

Levam poucos segundos para Any estar deitada ao meu lado também. Yoga, andar de bicicleta, malhar horas, assistir filmes clássicos, lições de pianos... Essa tem sido nossa rotina. Não faço ideia de qual cartilha de tratamento de drogas ela tirou essas atividades, mas Gabrielly só conseguia me deixar exausta e enjoada da sua presença.

— Por que tudo isso? — Minha voz é claramente irritada. — Eu jurei que não usei mais nada depois daquele dia.

Eu detestava gostar tanto de Any Gabrielly ao ponto de sua decepção me machucar. Seis meses atrás, se Any tivesse me flagrado em uma situação parecida, eu teria afogado sua cabeça na mesma pia onde eu estava cheirando. Mas, ela era amável demais para não amá-la de volta.

— E eu acredito em você. — Any devolve de forma compassiva. — Só quero te vigiar para ter a certeza de que realmente não vai usar outra vez.

— Você não entende não é? — Pergunto sarcástica, a risada fraca quase pula da minha boca em direção ao ar. — Imagino que para a Miss Perfeitinha estamos estragando nossas vidas. — Esbravejo com as mãos.

Eu uso aquele termo para ofendê-la. De alguma forma quero que a pilota perca a paciência comigo, me trate mal e me dê um motivo para ficar com raiva dela também. Sei que, se Any me magoar de volta, a balança vai equivaler-se pois no momento, seu lado pesa mais. Cada grama de desapontamento o qual Gabrielly esboça, me faz sentir-me péssima porque é um lembrete em tempo real de que estou sempre magoando quem eu amo.

— E estão. — Gabrielly continua a transmitir calma.

Any não vai perder a paciência, porque ao contrário de mim, ela é bondosa e amável. Essa é a parte que realmente me dilacera, não importa o quanto eu tente, ela nunca vai ser igual a mim. Eu estava drogada quando acabei com seu carro, quando transei com Josh e ao invés de me odiar por isso, ela está aqui, se esforçando para resgatar uma parte de mim que não existe mais.

— Não dá para estragar o que você já perdeu há bastante tempo. — Murmuro, em um tom que beira o inaudível.

— Você ainda tem Josh. Tem Savannah. Tem a mim. Você ainda tem Joalin. — Any lista de forma carinhosa, acariciando mínima mão.

— Definitivamente não tenho. — Balbucio, o nó na minha garganta me impede de falar firme.

— Ela sabe? — Any percebe a minha tristeza momentânea.

Não importa o que eu faço ou quem eu seja, meu destino e o de Joalin são como cargas iguais se repelindo. Nascemos para ficarmos juntas, não para viver uma vida inteira ao lado da outra.

RUN 🏁 !¡ BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora