Fui obrigada a lavar meu All Star do cocô do cachorro, xingando um monte de palavrões. Minha vida só pode tá tão parada mesmo, pra aparecer uma emoção dessas.
Almocei vendo Mary contar a vergonha minha para o meu pai, que passou o almoço todo me atentando.
Além de ser anta, eu ainda sou desastrada e sem destino. Falta mais o quê?
Após o almoço, acabei cochichando um monte, e acordei toda soada as três da tarde. Eu tinha que fazer uns relatórios para amanhã e me arrumar para trabalhar.
Então tomei um banho, vesti uma jardineira, - short - e uma blusinha amarela, soltando meus cabelos. E sim, dessa vez eu penteei.
Mary estava costurando alguma coisa sentada em frente a TV, assistindo uma novela mexicana e isso não me deixou de ir lançar uma para ela.
- Eles nem ficam juntos. - Digo, passando reto para a cozinha. Chegando lá, peguei a garrafa de café, chacoalhei para ver se tinha e... glória! Tinha café sim.
- Shiii...- Ouço ela falando. - Fica queita Bruna! Não me lembro de ter perguntado você.
Mostrei a língua para ela e coloquei um pouco de café na xícara para mim, indo para o quintal de casa. Não é muito grande, mas eu me divirto muito aqui, ainda mais quando estou sem nada para fazer.
Há um balanço, que eu brincava quando era mais nova e plantas para todos os lados. Mary gosta muito de plantas. E também, há um pé de tamarinho enorme.
Sento na calçada, tomando meu café e olhando para a rua. Nosso bairro é humilde, mas muito calmo também. Gosto daqui por ser assim, tudo tão calmo e é raro eu gostar de alguma coisa.
- Ei! - Alguém chama minha atenção. - Aqui sua anta! - Olho para os lados e lá está Jey, acenando para mim. Ela não é minha amiga, mas é uma parceira do trabalho.
- Ah, oi. - Falo, quando ela se aproxima de mim, segurando umas duas cartolinas na mão e uma tela branca na outra. - O que você está fazendo aqui?
- Meu Deus, Bruna! - Ela nurmura, fazendo uma careta raivosa. - Nem para receber alguém você presta, eu hein. Isso é forma de receber alguém?
- Tanto faz. Agora responda minha pergunta!?- Dou de ombros.
- Eu preciso da sua ajuda...- Se sentou ao meu lado, colocando a tela na calçada. - Preciso que você me ajude pintar um quadro. - Jey faz faculdade de moda. - Preciso pintar um look nessa tela, mas não sei por onde começar. Você tem uma ideia?
- Ué, Jey. Tu sabe que não pintor muito bem. - Olho para ela, que nega com a cabeça.
- Você é ótima nisso. - foi a minha vez de negar com a cabeça. - Vem, vamos lá. Faz alguma coisa! Você precisa me ajudar.
- Ok, ok. - Me rendo, levantando da calçada e Jey faz o mesmo, pegando sua tela.
Eu e ela entramos pra dentro de casa e Mary ainda estava lá, no mesmo lugar. Ela olha para nós, e logo depois volta a prestar atenção na sua novela.
Dou de ombros e começo ajudando Jey no que ela precisa, mesmo fazendo todo o trabalho, sem ela fazer nadinha.
[...]
Às 6:30, meu pai me deixa na loja de chás, beijando minha testa. Sorrio para ele. O sorriso mais forçado da minha vida.
Jey já está lá no balcão, e sorri para mim, coçando o olho em seguida.
- Ai meu olho...- Continua esfregando.
Dou uma olhada pelo lugar, vendo só algumas pessoas aqui, que vem quase todos os dias. Eu bebo chá, mas ainda prefiro um cafezinho.
- Vai onde?
- Trocar de roupa, ué. - Mostro a sacola para ela, que ergue o polegar pra mim e continua coçando o olho.
Vou até o banheiro e troco de roupa, vestindo um vestidinho rosa e um chapéu também da mesma cor. Acho essa roupa muito fofa. Termino tudo e volto para o balcão, onde eu fico junto com a Jey, atendendo e fazendo os chás.
São poucos funcionários, mas ultimamente, o nosso salário está sendo pouco, pois os clientes estão muito pouco. Fico com o coração na mão, porque preciso ajudar em casa.
Meu pai não trabalha, vive vendendo quadros, mas não é o suficiente. Mary vende seus bolos, mas não é todos os dias. Ainda estamos passando o aluguel da casa, comprando remédios para Mary que tem problema do coração. Dentre tantas outras coisas.
Estou me desdobrando ao máximo para ajuda-los, e pagar minha faculdade também.
- Ei! Volta a terra. - Estrala os dedos em meu rosto, rindo em seguida.
- Me erra garota. - Reviro os olhos e pego meu celular, entrando no Instagram. Nada de novo.
Mexo um pouco, mas depois o guardo, a ponto de vê quatros pessoas entrando na loja de chás. Não pude deixar de ficar espantada, quando vi o mesmo garoto que saía correndo do ônibus.
Ele estava com um homem, uma mulher e uma garota de cabelos cacheados. Eles se sentaram na mesa e pegaram o "cardápio." Fiquei em choque porque agora ele estava diferente. O garoto não estava nervoso, não balançava as pernas. Ao contrário: ele olhava para a garota como se ela fosse o céu na terra.
Achei aquilo bem fofo.
Talvez fosse sua namorada, vendo a forma como ele olhava para ela. Os dois estavam conversando, quando ela puxa os cachinhos dele. O rapaz ri, jogando a cabeça para trás.
O sorriso dele era lindo! Nunca tinha visto alguém com um sorriso tão lindo.
- BRUNA! - Levo um susto com Jey me chamando, e me atrapalho toda. Nesse grito, o rapaz acabou olhando para mim por uns segundos, com a sobrancelha arquiada e ainda com aquele sorriso no rosto.
- Garota...- Respirei fundo, quando desviei meu olhar do dele. - O que deu em você?
- Você não para de olhar pra lá. O que aconteceu? - Ela indaga. - Você precisa ir atendê-los!
Só então volto a realidade, pegando o caderninho no balcão e forçando meus pés á irem até lá. De repente, sinto minhas pernas virarem gelatinas, mas consigo andar até lá, e parar diante deles, que me olham.
- Boa noite. - Falo e a garota sorri. - O que desejam?
Na hora de falar o nome do chá, ambos se atrapalham todos, mas depois conseguem falar para mim, que anoto e peço para esperarem. Ando de volta para o balcão, engolindo em seco.
- Morreu por ir até lá? - Nada impede Jey de fazer uma piadinha escrota.
- Já lavou essa sua bunda hoje? - Devolvo, fazendo ela rir e negar com a cabeça. - Credo!
Preparo todos os chás, com a ajuda da Jey e coloco na bandeja. Ela então sorri e sai, levando a bandeja. Vejo ela indo até lá, toda confiante, coisa que não sou nenhum pouco.
Confiante.
Não confio em ninguém, ainda mais em opiniões de outras pessoas. E elogios... não gosto de elogios. Não mesmo!
- Ôh Bruna...- A garota já brota do meu lado. - Que garoto lindo. Chega deu um calor, que... meu Deus!
Tudo que consigo é rir dela, enquanto se abana olhando para o garoto.
Não sai da minha cabeça que ele estava todo nervosinho hoje e agora já está calmo. Ele deve ser muito bipolar mesmo, para agir assim. Isso me faz pensar também, que eu não tenho nada a ver com isso.
Nada a ver, Bruna!
Do nada ele se levanta da mesa e vem na nossa direção, caminhando em passadas rápidas.
•••
Seguinte..."Não me conformaria"
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O Garoto Do Ônibus || Concluído ✔️
Novela JuvenilBruna só tinha 19 anos, não merecia ter que carregar o fardo de tantas coisas sobre si já com tão pouca idade. Uma garota que corria atrás dos seus sonhos e desejos mais profundos do coração, marcada pela vida difícil, tudo que ela queria era uma op...