19 - Realeza, que diz né?

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Bruna McLean.




A quinta-feira foi só mais um dia de correria. Trabalho, documentários para fazer e ler, e tudo que podemos imaginar. E para completar, o professor entregou dois livros para cada aluno, mas não eram livros normais, eram OS LIVROS.
O volume dos livros me assustava, toda vez que eu olhava para ele, e quando li a primeira página de um deles, percebi que livros daquele tipo não eram a minha praia.
Isso significa que tínhamos quatro dias para ler dois livros de quatrocentas páginas. Não sei onde está minha cabeça agora, porque ainda estou na página de número vinte e já nem sei mais o que li anteriormente.

Trouxe um dos livros para a loja de chás, enquanto não atendo ninguém, pelo menos estou lendo, ou melhor, tentando.

- Para quê essas caretas? - Jey indagou, brotando do meu lado. Tirei os olhos da leitura para respondê-la.

- Eu acabei de perceber que eu odeio esse livro. - Suspiro, tirando meus óculos para limpa-los, e depois os coloco novamente, cabisbaixa. - Eles entregaram dois livros de quatrocentas páginas, Jey, quatrocentas páginas. - Solto um choramingo, imagino o quao difícil é minha vida. Às vezes eu paro para pensar que só estou vivendo mesmo, sem nada mais. É tudo tão monótono.

- Nossa, nem me fale. - Ela dá de ombros, se afastando. - Fala sobre o quê?

- E você acha que eu lembro? - Faço uma careta, esfregando minhas têmporas. - Eu não lembro mais, e o pior é que temos que explicar o que a gente entendeu. Minha vontade é pesquisar um resumo rápido na Internet, decorar e falar lá na hora, mas seria injusto. - É uma boa ideia, mas nao posso fazer isso

- Uou! Eu faria isso. - Ela ri, enrolando o cabelo. - Brincadeira. - Ela diz depois, com um olhar sereno e sorriso no rosto. - Boa sorte.

Faço um gesto com a mão e continuo a leitura.
Nesse momento, estudo as cadeias alimentares, o que me deixa com uma pulga atrás da orelha.
Ainda bem que eu leio rápido, o que é um pequeno consolo para mim.

Horas depois, vejo Jey indo e vindo, e eu parada, lendo. Para piorar tudo, as páginas eram enormes.
Então, cesso a leitura, fechando o livro, porque fiquei com fome e quando estou com fome, tudo me enjoa, e eu fico com fadiga.
Pego meu celular, sem nenhuma notificação, e entro no WhatsApp, como quem não quer nada, para ver as mensagens que troquei com Howard ontem. Até Mary me pegar com um sorriso no rosto, enquanto digitava, e eu apagar a tela do celular. Eu e Noah conversamos muito ontem, até ele sumir e depois dizer que tinha ido correr pelas ruas.

A gente conversou sobre quase tudo. Já tínhamos trocado número de WhatsApp, e admito que fiquei vendo o perfil dele a cada vez. Ele está de costas, mostrando sua camisa de time branca, e um boné preto. Só destaca sua camisa, seu tórax e a paisagem no fundo. Fiquei triste por ele não mostrar o rosto.

Noah: Então... que dia vou ter o privilégio de comer uma comida sua? - Solto um sorrisinho.

Isso não soou muito agradável e eu coro de vergonha, quando percebo no que pensei.

Bruna: Howard, isso não soou algo muito bom. - Digito rapidamente. Mas, o que eu diria? - Esse é um privilégio para poucos, Noah.

Apago a tela do celular e vejo Jey sorrindo para um casal que estão ali na entrada da loja. Suspiro. Nada mais tedioso do que isso.

[...]

- Meninas, as vendas hoje foram muitas, assim como nos outros dias. - Nosso chefe diz, com um brilho feliz em seu rosto. Ele é um velho, não tão velho assim, mas já de certa idade. Barba por fazer e olhos da cor de mel. - Então, aqui está o pagamento de vocês. Ah, mais do que no mês passado.

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