4 - Ah céus, desculpe!

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Quando ele veio na nossa direção, fixou seus olhos nos meus por uns cinco segundos, enquanto caminhava rapidamente até nós. Desviei o olhar rapidamente, como se não queria nada, - e não quero! - olhando para Jey, que não conseguia
disfarçar a cara de que estava adorando vê-lo caminhando, quase desfilando até nós duas.

Deu vontade de revirar os olhos.

Nossa o cara é bonito, o cabelo e sorriso muito chamativo, mas não era motivo para ficar boquiaberta por um cara igual ele. Ainda mais um cara que sai correndo, igual um maluco.

- Boa noite - Ele diz, parando onde Jey atendia, não eu, o que é ótimo. Muito bom. - Quero um chá e erva-doce, fazendo favor.

- Ok. - A garota fala, agora parecendo está normal perante ele, o que me deixa intrigada. - Aqui!

- Valeu. - Ele diz e dá de ombros, antes de sair quase desfilando para a mesa onde estava sentando á poucos minutos. Agora sim pude respirar direito, até porque, o cara ainda cheira bem, não que eu estivesse reparando nele. Longe de mim!

- Valeu? Qual é a desse cara? Valeu não é obrigada. Arg...- Jey começa murmurar de um lado para o outro, com as mãos na testa. Ela estava realmente irritada com uma atitude dessas.

- Não acredito que você está cobrando atenção de um estranho. - Começo negar com a cabeça, fazendo uma cara de decepcionada para ela, que começa negar. - Logo ele.

- Estranho? - Ela abre a boca para gritar, mas eu a calo, antes que nosso chefe apareça e nós expulse daqui. - Ele é o meu primo. Idiota!

- Primo? - Agora com certeza eu estava diante de uma coincidência muito grande. Eu estava muito surpresa. - Como assim? E por que você estava olhando para ele como se ele fosse o céu no Terra?

- Ah, eu acho ele gato, tá legal?! - Dá de ombros, escondendo sua cara de apaixonada. Fiz uma careta do tamanho do mundo, quando percebi que ela estava apaixonada por ele. Céus! Apaixonada! - Eu... ele é bonito, Bruna... e, por que você está rindo? - eu realmente não consegui disfarçar minha risada e eu estava prestes a gargalhar bem alto, quando nosso chefe apareceu, me fazendo engolir o riso.

Jey estava apaixonada pelo primo dela. Existe mesmo isso? Será que é pecado?

Sorte minha que nunca apaixonei por algum primo meu e nem sei se isso iria acontecer, porque todos eles são feios, fedorentos, imaturos e idiotas em todos os sentidos.

Dá pra imaginar que quando eu era mais nova, nenhum garoto me olhava, enquanto eu sofria de amores, mas depois que mudei, muitos já me pediram chance, mas nunca dei. Não sou tola dessa maneira.

E também nunca me apaixonei e nem sei como é estar apaixonada. Já li dois livros de romance, uma vez e olhe que não sou de ler livros de romances, - que a pessoa apaixonada suspirava de amores; as mãos tremiam, as pernas ficavam bambas, e quando você iria ver alguém, o estômago contorcia, nas chamadas borboletas na barriga.

Nunca vivi isso e não pretendo tão cedo.

- Você pretende fazer o quê amanhã? - Saio do meu transe com Jey falando comigo, um pouco mais alto, sinal de que ela já havia me feito a pergunta uma ou duas vezes, mas eu não tinha escutado.

- Nada, ué. Por quê? - Olho para ela, que enrola mechas de seu cabelo nos dedos. Jey é uma ruiva pálida, cheia de sardas e de bochechas sempre coradas. Era muito fofa e bonita.

E eu com minha auto-estima super baixa, não podia nem chegar perto de alguém assim tão bonita, que já me sinto insuficiente.

Ao contrário dela, sou mais branca que papel, cabelos loiros, olhos numa mistura de verde com casatanho, nariz empinado e corpo igual uma tábua. Não sei porquê sou assim. Meu corpo é tão diferente das outras meninas da minha idade e eu sou tão pequena, que às vezes as pessoas me confundem com uma criança.

Para quê vida melhor?

- Vamos sair, sei lá, comer alguma coisa?! - Ela parece super ansiosa, enquanto torcia as mãos e me olhava com um sorriso bobão. - Ah, Bruna. Vamos por favor!

- Ok. - Reviro os olhos, correndo para me abraçar, mas nesse movimento, ela acaba derramando chá quente em nós duas.

Pulo de susto e sinto o líquido queimando a região da minha barriga, mas não muito. Jey está muito assustada, limpando o balcão, quando se afastou de mim, pedindo milhares de desculpas.

- Ah céus, desculpe! - Murmura aqui e ali, limpando o balcão. E eu levanto um pouco o vestido, já que ninguém poderia me ver, e vejo minha pele vermelha, mas não tanto. Dá de aguentar, eu acho. - Não foi minha intenção. Eu só me empolguei.

- Não tem problema - Murmuro, engolindo um gemido que iria sair pela minha garganta, mas só sai um grunhido. - Você só precisa tomar mais cuidado pra não fazer isso com outra pessoa.

- Eu sei, eu sei! - Resmunga.

Reviro os olhos e ignoro a minha pele pinicando. Vejo o primo da Jey me chamando para ir até a mesa deles, então vou até lá, dando um olhar de nervosismo para Jey, que apenas rir, com as bochechas coradas. Como sempre.
Vou andando até lá em passadas confiantes e paro diante deles.

- Pois não. - Minha voz sai mais firme do que eh previa. Todos os olhares estavam sobre mim, e eu apenas ignoro.

- A conta, filha. - Uma mulher já de idade fala, me observando.

Eles me pagam tudo certinho e eu os agradeço, já sabendo que o meu chefe ficaria muito contente pelas vendas de hoje.
Antes de ir embora, arrisco um olhar para o garoto do ônibus, e ele estava conversando com a garota de cabelos cacheados, mais uma vez. Tenho certeza que são namorados pela proximidade ou os toques que eles trocam.

Dou de ombros e volto para o balcão, me sentindo tão cansada. O sono de meio-dia não me ajudou muito. Só saio daqui às 9:00 da noite, o que me permite dormir muito pouco, eu acho.

O pessoal vai indo embora aos poucos, e Jey começa limpar as mesas e eu vou indo levando os copos sujos para a pia. O ruim de ter só duas funcionarias é porque fazendo de tudo um pouco.
É só mão de vaca desse meu chefe, que não contrata mais pessoas. Mas também, o salário é muito pouco.
Só estamos aqui porque precisamos.

Ao contrário de mim, Jey precisa ajudar a avó doente, que não tem condições. Jey mora com sua avó, pelo que eu sei. Aliás, ela está sempre
tentando se aproximar de mim, mas não gosto disso, dessa sua aproximação. É a primeira vez que vamos sair juntas, como amigas.
Espero que seja bom, não entediante. Estou
dando uma chance á ela, para talvez, hum, sermos amigas. Quem sabe.

Logo eu que não tenho ninguém.

•••
Seguinte...

"Com viver apenas com suas recordações"

O Garoto Do Ônibus || Concluído ✔️ Onde histórias criam vida. Descubra agora