27 - Cara de coruja azeda?

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Deslizei meus dedos entre as lombada dos livros. Havia livros antigos, gastos, e históricos. Livros que eu não fazia ideia de quanto tempo estavam ali, e parei na seção que estava ganhando meu coração aos poucos. Os livros de romances.
Eu nunca fui uma garota que lia livros de romance, assistia filmes de romance, que suspirava de amores por algum rapaz e que escrevia cartinhas de amor... eu não era nada disso.

Nada disso fazia sentido para mim. O amor para mim era só uma teoria, a qual eu não acreditava nem nada. Mas os livros que eu estava lendo estavam me fazendo mudar totalmente de ideia, e tinha o Noah também.
Isso estava mudando meu foco, mas também estava me trazendo problemas, me fazendo mudar de ideia sobre as minhas teorias, sobre as coisas que eu não acreditava e não queria gostar.

— Eu pensei que você não lia livros. — Ouço Noah dizendo, a voz entre-cortada por ele estar escondido entre as prateleiras de livros. Havia outras pessoas ali, mas não tanto. E a bibliotecária também também estava ali, talvez havia ido fazer alguma coisa fora da escola. Ou não.

— Não gostava. Até agora. — Respondo, um pouco alto para ele escutar. Ele está na seção de aventura, e vejo lá os inúmeros livros. O pequeno príncipe, gatos guerreiros V.2, dentre outros. Me chamava atenção, mas nenhum milímetro da minha mente ou do meu coração queria ler outro livro que não fosse de romance.

— E o que fez você mudar de ideia sobre os livros? — Agora ele pergunta, já perto de mim, mas de costas para mim.

— Hum, pergunta difícil, mas vamos lá. — Penso por uns instantes. — Imagine que você está perdido, e  não há nada que te entenda, que faça com que você fique bem, que tire todo o vazio do seu coração e o deixe quentinho...— Penso nos livros que li. O mundo dos livros era totalmente diferente do que eu pensava. — ... e de repente, os livros aparecem! Eles me fizeram viajar por lugares diferentes, sem nem mesmo sair do lugar, sabe? Eu me senti bem, atraída por aquelas páginas cheirosas e significativas. Acho, acho que eu não quero mais nada à não ser ler esses livros.

— Uau. — Ouço sua voz rouca. — Isso é muito bonito de se ver. — Sorri e agora estamos olhando um para o outro.

Ele sorri de volta. A boca incrivelmente macia, e seus olhos fixos em algo a cima da minha cabeça.
Seus olhos não desviam daquilo e isso de alguma forma me hipnotiza. Sinto o quanto meu coração está batendo acelerado, tipo muito acelerado.
Se isso for amor, eu não sei se isso é bom ou a sensação de estar morrendo.

— Er...— Minha boca seca e as palavras não saem da minha boca. De repente ele se aproxima, colando nossos corpos.

Do jeito que estamos, me sinto minúscula perto de Noah. Temo que ele ouça as batidas aceleradas do meu coração, mas tento me acalmar. Para ele eu não devo sentir nada.

— Bruna...— Ele murmura, deslizando seu olhar para minha boca, e eu engulo em seco. Mas novamente seus olhos se fixam nos meus, serenos.

Um calor sobe em meu corpo, em forma de calafrio. Minhas bochechas queimam, meu coração queima, minhas pernas parece que estão virando gelatinas, porque Noah está aproximando seu rosto do meu e eu também estou aproximando meu rosto do seu, como se estivéssemos em sincronia.
De dois garotos que eu já beijei na vida, nunca senti tanta química igual com ele. Seu olhar me atraiu de tal forma, que me vi totalmente perdida, o foco, o mundo ao meu redor havia sumido. Mas antes de nossos lábios se encostarem, vejo uma Jey histérica, gritando por Noah na porta da biblioteca.

Um sentimento estranho invade meu peito, quando ele se afasta e sou obrigada a me afastar. Jogo meus cabelos em meu rosto, afim de que tape meu rosto corado e a vergonha.

Me afasto como quem não fez nada — e não fiz mesmo — e finjo estar procurando um livro qualquer. Ouço as conversas altas entre eles dois e acho que Jey está pedindo explicações sobre o que estava prestes a acontecer.
Meu Deus! O que eu vou fazer? Ela deve achar que sou talarica, certeza. Já não estava falando muito com ela e agora? E como vou olhar para a cara de Noah depois disso? Essa é a segunda ou a terceira vez que iríamos nos beijando!

Só que dessa vez foi diferente. Dessa vez eu quis, e por Deus, como eu queria que aquele beijo acontecesse. Ainda consigo sentir a respiração dele perto de mim, o seu perfume e a química que havia entre nós dois... só de pensar  nisso, um calafrio percorre minha espinha. Meu rosto esquenta novamente e então, começo perceber que estou começando me apaixonar por Noah!
Em anos, eu nunca pensei que fosse capaz de me apaixonar, mas agora, eu já não tenho tanta certeza assim!

Ouço mais vozes, até alguém chamar meu nome. Pego rapidamente um livro que havia uma garota linda, ruiva de vestido na capa e corro para a porta. Então vejo os garotos do F5, todos alinhados e quem me chamava era o próprio Maxon.

— Ah... oi? — Os cinco prendem seus olhares em mim e Maxon me analisa. Seu cabelo está ainda mais banhado de gel e me dá vontade de rir, por sua cabeça parecer um abacaxi por causa do seu cabelo.

— Estamos procurando alguém que leia, que esteja interessada a participar com a gente nos debates literários nos meios de semana; e disseram para falarmos com você! — Maxon fala tudo embolado e rápido, sem tropeçar nas palavras. O cara tem uma boa dicção.

— Logo eu? Eu não sirvo para isso, dá licença. — Falo e me viro para ir embora, até ele agarrar meu braço com força e me fazer ficar parado. — Ah garoto irritante!

Seus amiguinhos riem, mas não falam mais nada.

— Isso vai ser tão bom para nós, quanto para você, confie. — Reviro os olhos e vejo Noah e Jey em um canto da biblioteca, conversando, muito próximos. Arg... — Você vai se sair bem.

— Olha só, eu não quero participar dessa porcaria de debate! — Trinco os dentes. — Se eu quisesse, eu mesma procuraria vocês, não o contrário!

— Essa garota tem o gênio forte... Nossa! — Um deles diz e dá um tapinha no ombro do outro, e ambos riem cúmplices.

— Calados! — Maxon, exclama. — Você vai sim! Querendo ou não querendo!

— Uai... primeiro que você não manda em mim, seu cara de coruja azeda! E outra, minha opinião e decisão importa, viu?

— Cara de coruja azeda? — Os amigos dele riem ainda mais e ele faz uma cara zangada. — Você pode ganhar ganhar notas altas em seus documentários e o que vocês aprendem e fazem.

Eu precisava me sair bem em decorar aqueles nomes das plantas. Isso era a minha maior dificuldade até agora, mas como os cara manjavam naquilo, era perfeito. Não sei como, mas além de serem OS BAD BOYS, eles eram inteligentes e bons em tudo que faziam.

— Ok, eu aceito. — Reviro meus olhos com força. — Mas não quero você em meu pé!

Declaro. Noah ainda está lá, só que desta vez, ele está me olhando. Certeza que é porque o F5 está aqui, já que ambos chamam atenção por onde andam. Mesmo a minha. Não perderia meu tempo!

Não dou mais chance para ele dizer mais nada, então volto para a sala. Havia passado muito do meu tempo ali, era hora de me preocupar com outras coisas, contudo, o quase beijo não saía da minha cabeça.
Eu e ele, será que tem chances de acabar acontecendo? Eu praticamente o odiava, sempre me lembrarei disso, mas de repente, um sentimento novo por ele pulsa em meu coração, alto terrivelmente e infinitamente melhor do que ódio. Beirando a loucura.

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Seguinte...

"Um amor de fevereiro"

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