15 - Eu não te odeio...

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— Você está livre agora? — Pergunto, e ela assente, se afastando de mim e sumindo das minhas vistas. Vejo o requebrado dos seus quadris e suspiro alto, ainda me perguntando porquê estou aqui.

Eu poderia ir embora, mas estou arriscando tudo por uma amizade com Bruna.
Nossa sério! Amizade?
Talvez algo mais, hum... um tipo de afeto?

Espero ela voltar, o que não demora muito, mas se ela demorasse mais, eu iria atrás dela. Bruna volta já com outra roupa. Vestia uma calça moletom preta, de pano mole e uma blusinha de alça curta, e para o frio da noite, ela vestia um casaco grande  assim ela estaria longe do frio. Além de cheirosa, ela é muito estiliosa também. Uma qualidade que Deus dá para poucos.

Me ponho de pé e fico ao seu lado. Fico uns dez centímetros mais alto que ela, que poderia colocar a cabeça no meu peito se quisesse.

— Então... — Coço a cabeça. — Quer fazer o quê? Quer comer alguma coisa?

— Ficaria agradecida se você, hum... pagasse uma pizza para nós. — Mais uma vez, fico surpresa com ela e solto uma risada um pouco alta, fazendo-a curvar as sobrancelhas, que imagino que doeu.

— Ok, McLean. Eu pago, eu pago. — Dou de ombros. — Vou te levar a melhor pizzaria de Nova York. Isso se você permitir, claro.

— Então eu quero! — Sorri.

Pego no seu pulso delicadamente e saio dali, puxando-a e correndo pelas ruas de Nova York. Ruas frias e escuras. O frio gélido da noite bate em nosso rosto, enquanto corremos.
Vou correndo devagar para que Bruna me acompanhe.

-— Noah! Para quê a pressa? — Ela pergunta, ofegante e dando pausas para respirar.

— A pizzaria fecha às nove, fofa. — Ela bufa e eu me viro para olhá-la, parando de correr. Ela está claramente irritada, e então vejo que ela ela gosta quando eu a chamo de fofa. — Por que não gosta do meu apelido carinhoso?

— Fofa para mim é deboche, e remédio para gente debochado é porrada. — Escondo um sorriso fatisfátorio no rosto e ponho apenas um de divertimento. — Se é que você me entende, Howard.

— Então você quer me bater? — Me viro surpresa para ela, que está vermelha de raiva. — Você não pode ficar assim tão vermelha de raiva. Olha o coração.

— Noah Howard! Se você não quer que eu soque esse maldito rosto seu, até você engolir todos esses dentes brancos, é melhor você ficar calado. — Me lança um olhar fulminante, e então, devido a ameaça dela, resolvo ficar calado, até chegarmos a pizzaria, a melhor de toda Nova York para mim. Isso porque sempre venho aqui, quando estou tentando fugir da realidade, e às vezes com a Sarah, que ama todo esse ambiente. Aqui é onde ela sorrir sem parar. — Uau! — Vejo os olhos dela, pela primeira vez, brilhando. Vejo estrelas brilhantes em seus olhos escuros, e isso de alguma forma me enche de uma sensação gostosa no peito, em apenas por vê-la á vontade.

— Vamos. — Ainda segurando o pulso dela, puxo-a até um cantinho da parede. Nos sentamos na mesa encostada na parede. Eu de frente para ela, sentindo uma coisa inexplicável em meu peito.

— Lembrando que isso é um jantar e que, nunca iremos gostar um do outro, né Howard? — Encaro ela, que fixa seu olhar no meu, mas ela não aguento nossas olhares fixos nem por um cinco segundos e já desviou, olhando para outro lugar, que não fosse para mim. Ótimo. Ela se sente intimidade perto de mim e isso é ótimo.

E por que não? — Indago, querendo que ela olhe para mim, que não desvie seu olhar, mas Bruna está com o olhar atento em outra coisa que não sou eu. — Estou tendo a gentileza de pagar uma pizza para você e sendo legal com você. — Bruna arqueia os ombros, agora olhando para os detalhes da toalha de mesa.

— Eu não te odeio. — Me pego inspecionando ela, agora com um sorriso maroto no rosto. Ela não me odeia! Pontos para mim.

— Por quê? — Indago, insistente.

— Porque ódio é um sentimento e eu não sinto nada por você! — O sorriso que há em meu rosto some rapidamente, quando ela diz isso. Logo em seguida, ela está sorrindo, como se eu estivesse me abalado com aquilo. Eu não me abalei, só... não gostei de ter ouvido.

*

Bruna McLean.

Estar aqui é definitivamente estar no paraíso. Que lugar mais aconchegante! O cheiro de lavanda que exala, a decoração linda e chamativa. Tudo isso me
deixa com um sorriso gigante no rosto. Sorriso esse que eu não dava desde que percebi que a vida tende a ser decepcionante as vezes.
E tem o Noah. Noah. Nome bonito e interessante.
Ele está sendo legal comigo e eu acho que não gosto dessa gentileza toda. Eu nem o conheço.

E agora ele não está mais sorrindo, quando eu falei aquilo. A verdade é que eu não odeio Noah Howard, mas também não chego a gostar dele.
Eu sinto alguma coisa, mas não seria agora que eu diria que eu sinto uma... atração (?) Por ele? Eu sinto o quê mesmo? Sinto meu coração gelar e duplicar as batidas quando estou perto dele; sinto meu sangue gelar; meu rosto esquentar e meu colo com tudo que ele fala e... eu sou eu, quando estou perto dele. Eu sou Bruna McLean quando estou com ele e abro mão das minhas restrições para xingá-lo.

Um homem vem nos atender e Noah escolhe uma pizza de sabor qualquer e eu concordo. Pizza de peperonni.
Nós não conversamos nada até agora e acho que isso tem a ver com o que eu falei agora a pouco. E minha mente não para de pensar.

— Noah! — Exclamo e ele levanta a cabeça para me olhar, agora com os olhos brilhando e aquele sorriso debochado. — Você disse que ia me fazer perguntas e que eu poderia devolvê-las.

— Ah sim...— Coloca o queixo na mão, me olhando com um olhar de bobão e tedioso ao mesmo tempo. — Sobre o quê você quer falar?

Olho pela janela e vejo Nova York, brilhante e brilhante. Essa vista, essa iluminação me deixa em êxtase. Me sinto nas nuvens olhando tudo isso e sinto que passaria horas assim, admirando aquela vista e até... até, talvez na companhia de Noah.

— Quantos anos você tem? — Pergunto, com um olhar decidido e um sorriso de quem ia aprontar. Se ele deixasse, eu faria todas as perguntas possíveis.

— Vinte e um. — Diz. Ele percebe meu olhar de aprontamento e diz em seguida: — Algumas perguntas são as suas próprias respostas, Bruna. E não, não me faça perguntas que ver que não irei responder.

— Arg, tá bom senhor Howard. — Sorrio. O homem veio deixar para nós uma coca-cola, enquanto a pizza não ficava pronta, então eu a ataquei, mesmo antes da pizza ficar pronta. Coloquei um pouco no meu copo e dei um gole.

— Não me chame igual chama outros garotos, McLean! — Quase cuspi o líquido na cara dele, mas me contive.

— Está ficando doido, Noah? Eu não te devo explicações de meus relacionamentos com outros garotos! E como você sabe que chamo garotos assim, hum? — Lanço um olhar fulminante para ele, que encolhe os ombros, mas não diz nada. Vendo que ele não iria falar nada, acrescento: — Você está cursando o quê?

— Contabilidade. — Responde distante. — E você?

— Nutrição. — Me preparo para articular a pergunta que eu mais queria uma resposta. — Por que você sai correndo do ônibus?

— Você me odeia?

— Claro que odeio, Howard.

— Então, se me odeia, nunca vai ter uma resposta para essa pergunta, se esse seu ódio não virar amor platônico. — Ele diz, com um olhar sério. Cheguei até achar que ele estava de brincadeira, mas ele não estava.

— Você me odeia, Noah? — Examino cuidadosamente entre as lentes dos meus óculos, enquanto ele fala.

— Não, Bruna, não odeio você.

Ele me olha, tão profundo, que sinto a mesa saindo do lugar em que estamos, para ir até as nuvens. É como se, por aquele olhar, eu conseguisse escorregar num arco-íris.
E me sinto tão corada e tão derretida com aquele olhar, que abaixo a cabeça, não sabendo o que dizer, porque Howard não me odeia, e eu também, definitivamente não o odeio, como eu digo que odeio.

•••
Seguinte...

"Que você é tudo que eu quero"

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