Capítulo Catorze

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Mark não me soltou nos próximos minutos, me escutando chorar e molhar seu ombro com as lágrimas, que caiam tão depressa e em grande quantidade que eu não podia ter controle. Ele não se afastou de mim nem quando meus soluços foram diminuindo e as lágrimas cessando, quando agarrei sua camiseta a amassando entre os dedos dando um sinal para que ele se distanciasse caso quisesse, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, ele apertou um pouco mais seus braços envoltos nas minhas costas, deixando minha bochecha deitada em seu ombro. Não o ouvi falar muito, tenho certeza que ouvi um "vai ficar tudo bem" sussurrado em certos momentos apenas.

Meus pensamentos foram se organizando, minha respiração também estava mais tranquila, apesar do meu nariz praticamente entupido. Quando achei que fosse a hora, me desvencilhei voluntariamente, sentindo o abraço desafrouxar. Cobri o rosto com as mãos sentindo a dele vir para o meu ombro, na curvatura do pescoço. A carícia sutil que faz tira um pouco a gola do lugar e faz sua pele tocar a minha. Posso imaginar que ele está com suas íris coloridas coladas em mim, esperando meu próximo passo, mas o caso era que nem eu sabia direito o que fazer agora. Não estava me repreendendo mentalmente, nem me sentindo mal pelo o que acaba de acontecer, o que era um pouco anormal. E também acho cedo demais dizer como realmente me sinto depois disso.

Limpei as lágrimas úmidas e salgadas do rosto e suspirei virando meu corpo para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Não pude encará-lo, ainda não.

Bem, estava ciente de não saber como estava me sentindo, de fato, e isso pode ser um problema futuramente quando eu descobrir. Mas de uma coisa eu sabia: Não estava com cabeça para falar com mais ninguém pelas próximas horas, talvez pelo resto do final de semana.

O que é no mínimo ruim, já que Mark terá uma festa em sua casa que começa daqui a pouco. Já não estava muito animado em saber que teria que interagir com a família dele, quero dizer, claro que foi ótimo conhecer seus pais, mas é um pouco demais ter sido pego de surpresa com todos os outros parentes vindo para cá também. Eu realmente estava preocupado, não queria estragar isso, não acho justo ficar entre algo tão íntimo, ainda que todos aqui sejam receptivos e estejam deixando claro que está tudo bem.

Finalmente tirei o foco do chão e virei um pouco a cabeça, olhando o banco ao lado, onde dois idosos conversavam. Pelo meu campo de visão, noto que Mark olhou para mim ao mesmo tempo. Ficaria mal em pensar que ele está se preocupando se deve ou não dizer alguma coisa, mas deixarei para me culpar mais tarde. Agora eu só queria refletir um pouco.

— Mark — minha voz falha, consequência do alívio recente do nó na garganta. Não olho para ele.

— Você se sente melhor? — pergunta.

— Volta pra casa.

— O quê? — seu tom deixa evidente sua confusão.

Me inclino para descansar as costas no encosto, mexendo no cabelo durante o processo. Abaixo de novo o olhar antes de enfim subir os olhos para enfrentá-lo. Quando o faço, vejo que a confusão não estava presente apenas em seu tom, mas também em todo o seu rosto.

— Vai pra casa, ok? Sua família deve estar chegando, e seus pais reservaram um dia em que você poderia estar em casa com eles para comemorar — lembro, olhando dentro de seus olhos. — Hoje é um dia especial para os dois e eles esperam que esteja lá.

— Mas você também vai.

— Eu não posso ir, não hoje.

— E pra onde você vai?

— Pra casa do meu pai... — Arqueio uma sobrancelha, curvando o canto da boca por até eu estar meio surpreso com o que disse. — Não vai ter ninguém lá, mas... Quem sabe isso seja bom pra mim.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora