Capítulo Vinte

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— Claro que sim. É assim que funciona uma amizade, ou que deveria.

Ele respirou por um instante e abaixou sua cabeça, encarando agora seus passos. Penso que vai continuar a falar, mas pelo contrário, ele se calou. Então decidi dizer, perguntando se havia alguma coisa acontecendo com ele.

— É que eu ando pensando demais, Haechan, tipo, parece que minha mente vai explodir.

— Pensando em quê?

— Em coisas minhas, sobre mim. Estava ruim, mas piorou desde que você me dispensou.

— Okay, olha, não acho que ficar pensando nisso seja produtivo...

— Não pensei em você exatamente. É que, eu já não sabia mais no que acreditar, cara. Se era no que me diziam ou no que eu sentia. Eu só pedi pra gente ficar porque achei que precisava provar alguma coisa pra mim mesmo.

Pelo menos ele é sincero.

Xiaojun vira o pescoço para observar a paisagem de pinheiros que desciam vastamente a montanha e não diz nada por um momento. Já eu, acho que por agora, serei melhor como ouvinte.

— É complicado pra mim ainda, mas você disse algo que faz sentido. Não sabia direito o que eu estava procurando, mas não ia achar em outra pessoa.

O escuto, mantendo o mesmo ritmo que os pés dele. Ao olhar para o chão, vejo que meus cadarços estão se desfazendo outra vez. Quero abaixar para enfiar no tênis, mas prefiro dar atenção ao Dejun, então retorno o olhar para ele.

— E o que você concluiu?

— Sei lá, é que tem as meninas... Mas tem também os meninos e... Antes eu achava que era só doideira e que eu tinha que me decidir, porque não sabia nada a respeito disso. Foi quando resolvi que rótulos eram uma besteira sem tamanho.

— Pode parecer, sim, mas acredite, eles são necessários demais.

— Sim, eu aprendi isso. Aprendi também que talvez eu possa não ser gay, mas hétero com certeza é algo que não sou.

— Este é um bom começo.

— Então, cara... Eu acho que posso ser bi — Revela com uma gota de entusiasmo na voz. Talvez ainda fosse surpresa para ele realmente afirmar. Sorrio.

— É a primeira vez que está dizendo isso?

— Em voz alta, eu acho que sim.

Ele assentiu abaixando o olhar e sem dizer mais nada eu o abracei, apertando Xiaojun pelos ombros.

— Fico feliz que tenha achado as respostas para suas perguntas e confiado em mim para contar.

Digo ainda agarrado à ele. Nos afastamos.

— Eu quis conversar em particular, mas é que isso estava fritando minha mente.

Dou um soquinho em seu ombro, ainda sorrindo.

— Agora você disse!

— Disse! — ele sorriu. — Bissexual. Então eu sou... Ah, mano, isso é o máximo!

— Você é o máximo, Dejun.

Passamos os próximos minutos de caminhada para não sei ao certo onde, conversando acerca disso e do que poderá vir a seguir para Xiaojun. Ele está feliz em se auto afirmar, mas acha que precisa se preparar um pouco para contar aos pais. Eu sugeri que ele deixasse isso ser natural. Ele poderia querer apresentar um rapaz tanto quanto uma moça à sua família e deixar que eles mesmos entendessem sem que tenha que ser explicado. Mas também sugeri que ele fizesse o que achasse melhor, afinal, da parte mais importante, ele já sabia.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora