Capítulo Oito

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Deixo o copo na mesa atrás de mim e vejo Mark parado na escada, olhando na minha direção. Não sei se me viu com Xiaojun ou se olhou para mim no mesmo instante em que eu o fiz. Sorrio e aceno, vou me sentir mais seguro se ele estiver perto.

Caminho até ele, tendo que pedir licença algumas vezes. Quando o alcanço, seguro sua mão e saio puxando-o escada acima. Estou meio leve, mas ainda assim acho o toque dele o mais quente que já senti. Não é a bebida, talvez seja porque minhas mãos estão congelando.

Achamos o corredor dos quartos e quando finalmente tinha um destrancado, tiramos a sorte dele ser com uma linda e grande sacada acoplada. Mark se certificou de trancar a porta como pedi, soltando minha mão para fazê-la. Mal saí pelas portas de vidro e o ar gelado me fez desejar nunca ter deixado o calor humano da festa no andar debaixo. Que apesar de quase sufocante, pelo menos não me fazia tremer como estou agora.

Procuro disfarçar para Mark ao me aproximar da grade, a abraçando com os cotovelos. A noite, apesar de fria, estava muito bonita. As estrelas eram intercaladas por nuvens noturnas. As luzes da cidade eram tão encantadoras que eu não queria perder um segundo sem observar.

— Aqui, fica com isso — Mark diz, me tirando da distração. Viro para olhá-lo e vejo que ele tirou seu moletom preto. Usava uma blusa branca de mangas compridas por baixo, com certeza mais fina que seu agasalho aconchegante. Estou com frio demais para recusar, depois lido com meu orgulho — Sabia que ia ceder fácil...

Abre um sorriso me assistindo vestir sua roupa. Nunca tinha percebido o quanto seu perfume é marcante. É uma mistura de cheiros que mesmo em meio a fumaças de nicotina ao redor, permanecem fixos no tecido. A temperatura do moletom imediatamente me conforta e os tremores vão cessando. Embora nós sejamos da mesma altura, ele serviu em mim melhor do que nele. Não respondo escondendo os dedos gélidos nas mangas e sinto sua mão na minha testa.

— Ficou mais de um minuto sem reclamar, está com febre?

— Você não vive mais sem me irritar, não é?

— Então? O que viemos fazer aqui? — Segura a grade da sacada com as duas mãos, subindo no encosto.

— Você vai me dar cobertura enquanto eu vou fumar um.

— Como assim?

Solto um riso tirando uma caixinha retangular do bolso, onde dentro continha meu único baseado comprado hoje cedo. É muito mais fácil comprar aqui do que em Jeju.

Espero pelas contestações de Mark e até que ele tire meu cigarro de erva e jogue sacada abaixo, mas ele não diz nada. Apenas olha para o outro lado.

Pensei por um momento sobre aquilo dele ser tão bom que algumas pessoas podem se aproveitar disso. E fiquei receoso de eu estar sendo essa pessoa, quer dizer, não quero arrastá-lo para algo que não deseja fazer.

Não seja hipócrita, Haechan.

— Quero dizer... — Limpo a garganta — Se você quiser ficar aqui, claro.

Seu rosto volta para mim.

— Não quero te obrigar a nada, você não me deve nenhum favor e não precisa ficar se não quiser ou não achar legal...

— Acende logo isso aí.

— O que? — Ele ri ainda me olhando — Vai fumar comigo?

— Não se você demorar muito.

— Mas espera, você quer  fazer isso?

— Acha que é a minha primeira vez?

Mais calmo, sorrio colocando o cigarrinho entre os lábios em seguida e riscando o isqueiro para acender. Dá um pouco de trabalho pela corrente de ar leve atrapalhando a chama, mas logo consigo.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora