Capítulo Vinte e Cinco

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Escrevia repetidamente o dia e a data nas primeiras linhas do relatório dessa aula de teatro, sem ter nada de bom para dizer mesmo que uma aula empolgante estivesse acontecendo bem na minha frente. Depois de um tempo, desisti de tentar escrever e afrouxei um pouco o nó da gravata laranja, me afundando no assento macio e expirando o ar dos meus pulmões. Estava tenso demais, não podia evitar.

Enquanto isso, Jeno e uma moça estavam na parte do duelo de esgrima. Enchendo os olhos da professora de lágrimas pela devoção ao personagem. Eu acharia incrível, no entanto, a garota que pegou o papel da guerreira está errando falas e mais falas, tendo que fazer pausas a todo momento. Não sei se isso irrita mais alguém aqui, mas eu já não aguento mais.

Num momento crucial, ela desestabiliza o personagem de Jeno, o desarmando e o empurrando no chão, é quando ela finalmente vai contar o motivo de querer se vingar dele.

— Espere! Deixe-me resolver, eu posso me redimir. O que você quiser, faço o que quiser!!! — Jeno implorou para ela, suando frio e tremendo prestes a ter sua garganta dilacerada. Até me ajeitei na cadeira pra assistir melhor.

— Não tem como se arrepender, v-você, espera, não cortem a cena, eu posso fazer a partir daqui.

E ela errou de novo.

— Você perdeu o timing, querida — A professora disse, descruzando suas pernas.

— E errou o diálogo — O ajudante dela concorda.

— "É tarde demais para se redimir! Eu lhe dei tempo o bastante para pedir perdão e deixar seu cargo de general como prova de que estava arrependido. Mas você recusou. Continuou fingindo, mentindo para mim! Você conspirou contra meu pai e meu povo, esfaqueou meu irmão para tomar seu lugar e também quis me ludibriar. Você se aproveitou da minha vulnerabilidade, quis pôr um fim em mim para finalmente tomar o que me restou. Mas eu não deixarei!"

Ao finalizar a fala, todos os olhares do recinto estavam voltados para mim e eu me dei conta de que eu recitei o parágrafo da garota. Quando percebi, minhas bochechas esquentaram e eu abaixei a cabeça, apoiando o cotovelo na alça do assento.

— Isso foi ótimo! — A professora elogiou.

Jeno se sentou no chão, penteando o cabelo com os dedos e comentou:

— Foi bom até demais, professora, será que eu não poderia mudar um pouco o roteiro? Está difícil demais pra Hyungseo assumir a personagem, nenhuma outra garota quer esse papel.

— O que está querendo dizer? Quer mudar o par principal?

— Seria possível?

— Não é simples assim — O ajudante se pronunciou. — Donghyuck sabe as falas, mas colocá-lo como principal pode afetar o roteiro inteiro e não temos tanto tempo. Eu sugiro que nós demos mais alguns dias para Hyungseo aprender o roteiro e entrar nesta personagem.

— O que achou, querida?

Enquanto ela respondia, o sinal finalmente tocou. Mal esperei e arrumei minhas coisas, deixando o auditório e meus colegas para trás. Não topei com Mark na porta essa vez e sinceramente que bom. Assim é melhor, por enquanto preciso pensar em algo para ficar longe do dormitório. Ignoro todo o resto quando chego ao meu armário. Nele, coloco o código e destravo-o. Puxei o livro de história para fora e junto com ele algo caiu ao chão. Abaixei a cabeça vendo sobre os meus pés um maço de cigarros, ainda daquele que Mark me deu naquela vez.

Guardo o livro na mochila e recolho o objeto. Dentro dele ainda havia um último cigarro, que eu enrolei meses para pegar, e ainda não sinto vontade de fumar. Lembrar que comecei a fumar por causa de Junwon me dá ainda mais vontade de parar, mas também, talvez eu não tenha coragem de me livrar disso. Coloco de volta dentro do armário e ao fechar a porta, minha jaqueta pendurada dentro fica presa.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora