Capítulo Vinte e Seis

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Enquanto caminho em direção ao banheiro masculino, me distraio ao jogar Nintendo. A essa hora, todos os outros estão jantando, o que me garante um banho tranquilo e sozinho, sem fila de espera ou muitos caras aqui.

Perco a minha partida a qual estava me dedicando e xingo baixinho, mas logo isso não tem mais importância quando vejo uma sombra correr ao outro lado no banheiro. Relevo. Uma pessoa ou outra não deve fazer diferença. Entrei no recinto repleto de umidade e fumaça branca, encontrando um garoto seminu esfregando seu próprio sabonete no peitoral enquanto a água do chuveiro escorria por todo seu corpo. A pele dele era suave e delicada, suas costas possuíam uma linha na coluna e os ossos da clavícula eram salientes. Aquele era Renjun.

Posso entender sem contestar ele ter decidido tomar banho a essa hora, para que ninguém o veja. Bem, parece que eu estraguei seus planos, mas ele certamente estragou os meus também. Largo minhas coisas no banco. Não escolho as cabines essa vez, decido tomar banho ao seu lado, mas pulando um chuveiro para manter certa distância. Tranquilamente, ligo o chuveiro. Enfio a cabeça embaixo da água e envio os cabelos molhados para trás. Noto que seu olhar cai sobre mim, e ele para de olhar quando percebo.

Não está com medo de mim também? Renjun me pergunta, fazendo concha de água com as mãos para lavar seu rosto.

— Eu deveria?

— Não finja que não sabe do que está correndo por aí sobre mim.

— Não estou fingindo. — Movo os ombros, aplicando uma quantidade de pasta na ponta da escova, passando a escovar os dentes em seguida.

Renjun continua em silêncio enquanto finaliza seu banho. Quando termino a higiene bucal, ele desliga o chuveiro e pega sua toalha para começar a se secar. Observo o jeito como dá batidas suaves na pele para que o pano absorva a água, sem esfregar ou causar atrito. Me pergunto como pode ser tão delicado, mas meu pensamento foge quando percebo um hematoma em sua costela. O machucado tinha o formato de uma nuvem, colorido em um tom forte de roxo. Achei esquisito, só até me preocupar ver marcas parecidas em outras partes de seu corpo, como na cintura, pernas e tornozelos. Além de várias partes de sua pele ralada e irritada como se tivesse sido atropelado por uma bicicleta. Termino de escovar os dentes e cuspo a espuma refrescante. Ele não se secava com cuidado só por ser delicado, mas aparentemente por estar dolorido.

— Andou brigando por aí? — Eu pergunto ao me enxaguar.

Pela postura rotineira dele, não duvidaria que perdesse a paciência a ponto de bater em alguém, mas o garoto leva um tempo até me responder.

— Não.

— Tem certeza? — Olho para trás.

Renjun não fala nada, começando a se trocar. Começo a me lavar com sabão.

— Eu apenas caí.

Sua resposta me faz perceber que há algo de errado acontecendo para que ele esteja assim tão recluso. De repente, não faz mais sentido achar que essas marcas foram causadas por alguma briga. Quando limpo, desligo o chuveiro e passo a me secar sem qualquer sutileza, vendo-o juntar suas coisas.

— Alguém fez isso com você? — Vou direto ao ponto, já estou seco o bastante para me vestir.

Renjun parece ainda mais incomodado com o assunto e sequer me olha nos olhos.

— Já disse que eu caí.

— Onde?

Ele estala a língua.

— Por quê quer saber?

— Porque não me parece que caiu, parece que apanhou.

Vesti uma regata, reorientando meu olhar a ele. Posso ver suas mãos tremendo levemente enquanto segura sua bolsa e sua voz também soa baixa quando me questiona lentamente:

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora