Capítulo Trinta e Nove

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A preguiça tomava boa parte dos meus músculos enquanto me esforçava para acordar logo, mas qualquer deslize me fazia voltar a cochilar. A claridade já ultrapassava o tecido da barraca e a iluminava por dentro. Como imaginei, não aguentei ficar acordado por mais que tivesse tentado. Houve um momento que fiquei sobre o peito de Mark, conseguindo responder aos seus assuntos apenas com sílabas e murmúrios. Parece que viro outra pessoa quando sinto sono. Ao contrário de mim, Mark virou a noite, eu acredito. Até porque não consigo imaginar que alguém acorde por vontade própria às 5 da manhã. Vejo que ele queria mesmo fotografar o amanhecer, uma pena não ter conseguido acompanhá-lo.

Finalmente abro os olhos e tateio os cobertores para pegar meu celular. Eram 06h02, estava frio. Esfrego as mãos no rosto. Não gosto de acordar cedo, mas hoje fiquei disposto num instante quando notei que Mark não estava dentro da barraca, alimentando minha curiosidade para saber onde ele estava. Termino de abrir o zíper e fico na entrada da barraca, os olhos ainda pesam. O encontrei no gramado, vasculhando a mochila que trouxe em silêncio. Ele puxa uma toalha e a coloca sobre o ombro quando me vê na porta, então sorri ao dizer:

— Você dormiu muito...

— Você não? — Esfrego o olho.

Mark veio até mim e abaixou na minha frente, então me beijou na testa. Começo a bocejar lentamente.

— Quer descer o monte? Ouvi dizer que se for pela trilha aqui perto vamos encontrar uma cascata.

— Uma cascata?! — Interrompo o bocejo. — Por acaso viu que horas são?

Exibo o celular para ele.

— E daí?

— E daí que está frio demais pra isso, a água deve estar congelante.

— A vida é curta pra não fazer isso ao menos uma vez. Podemos tentar.

Continuo o olhando nos olhos, não realmente acreditando que ele queria fazer aquilo de verdade. Após minha pausa, questiono:

— O que deu em você?

— Eu apenas estou feliz o suficiente pra tentar. Estava te esperando acordar pra gente ir.

Balanço a cabeça.

— Você está fora de si.

— Por favor, Hyuck...

— Não.

— Prometo que vai ser rápido. — Ele me chacoalha.

— Mark...

— Eu nunca fui lá... — Um biquinho cresce nos seus lábios. — Um mergulho e acabou, eu prometo!

A insistência e manha dele passam a mexer comigo, não significa que eu esteja gostando. Fico em silêncio.

— Depois... — Mark parece pensar. — Depois podemos comer o que você quiser de café da manhã.

Ok, não preciso pensar mais.

— Fechado!

Levanto da barraca e começo a dobrar os cobertores de dentro, nos organizando para guardar nossas coisas. Enquanto Mark desmonta tudo, eu visto um dos seus moletons para me manter aquecido. Esse era branco e sem capuz, com uma estampa atrás. Levamos tudo até o carro e o trancamos, antes de descer a trilha, Mark perguntou se eu não queria levar uma toalha para mim também, mas deixei claro que só vou para assistí-lo e não pretendo me aventurar como ele.

Tivemos que andar por cerca de 10 minutos que pareceram horas! A descida não era fácil, na verdade, era repleta de obstáculos, buracos disfarçados, arbustos frondosos, raízes que bloqueavam o caminho e uma grama grande o bastante para me dar coceira nos tornozelos. Me impressiona não encontrarmos nenhum urso ou inseto gigante por aí. Andamos mais que o necessário por estarmos meio perdidos. Estava quase pedindo para Mark me carregar no colo de novo, ou pelo menos pedir para voltarmos antes de nos perdermos de verdade. Antes que eu pudesse abrir a boca, ele quase saltou de alegria ao ver que havíamos chegado ao destino.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora