Capítulo Vinte e Um

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Cinco metros. Mark estava a cinco metros de distância de mim, no salão principal do acampamento, disparando seus olhares na minha direção. Queria ignorá-lo, mas sempre que eu tinha a sensação de que ele estava me observando, instantaneamente meu olhar era puxado, provando que eu não estava errado. Ou então, eu quem tinha o trabalho de olhá-lo, incitando-o a fazer o mesmo. Nossa conexão era curta, mas constante.

Não estávamos nos falando desde o começo do passeio, mas depois que descemos a montanha mais cedo que o previsto graças ao meu "desaparecimento", Mark tem me olhado assim. Olhares suspeitos e ao mesmo tempo carentes. Eu juro que queria não entendê-los, mas eles fazem com que eu me sinta muito mais tumultuado. Eles querem me dizer algo que eu não sei se quero saber. Então farei o que sei fazer de melhor; fingir que não tem nada demais acontecendo.

Essa reunião no salão principal está acontecendo desde o fim de tarde, pois o orientador dará uma palestra sobre a biodiversidade da região, o que complementa as aulas que já estamos tendo há semanas e nos ajudará a escolher o tema da pesquisa de amanhã.

Mesmo que ficar seja opcional, a professora Eunhye está de marcação em cima de mim e de Xiaojun desde que descemos o Monte Junhyuk. E mais uma vez eu me tornei o centro das atenções. Não é tão legal quanto parece, ainda mais quando todos à minha volta estão suspeitando desse sumiço repentino. Uns nem hesitaram em questionar e vieram ficar perto de mim só para perguntar sobre isso para Xiaojun.

De repente eu senti um dejá vu. Uma sensação nostalgicamente ruim de quando eu estudava no colégio católico e estava arrumando problemas por não suportar aqueles olhares me julgando. Direcionando a mim uma culpa que ninguém deveria carregar. Não acho que ninguém aqui pense que eu arrastei Xiaojun comigo para que a gente se perdesse de propósito na montanha, porque eu tinha segundas intenções, é que lembrar daqueles dias e relacioná-los ao que está acontecendo agora me deixou tonto.

Cansado, esperei um momento em que a professora estivesse ocupada e ninguém mais tivesse olhando para mim e cochichando. Isso aconteceu quando as luzes do palanque se acenderam e olhares ansiosos se voltaram para ver Johnny chegando. Sem esperar mais, saí de fininho por trás, dando o fora do salão pela porta de emergência. Segui olhando para trás, checando se não teria ninguém que tivesse notado e sinto meu corpo colidir com o peitoral de alguém mais alto do que eu. Alguém da mesma altura que Jeno. Levanto a cabeça e me afasto, encarando um par de olhos pretos.

— Vai a algum lugar? — Johnny sorri enquanto pergunta.

— Não — Limpo a garganta. — É, sim. Eu preciso voltar pro alojamento.

— Tem certeza que não vai fugir e correr o risco de se perder na floresta?

— Tenho. Não quero ficar aqui, todos estão olhando pra mim e... Espera, eu não preciso explicar, preciso?

Johnny dá uma risada e olha rapidamente as folhas que segurava. Ele não me olha mais quando responde:

— Não vou contar pra ninguém. Cai fora.

{...}

Acordar cedo não me deixa com muito ânimo para nada, lavar o rosto com água fria não funciona pra me despertar, então eu ao menos espero que meu mau humor não arruine o dia de ninguém. Ainda relutante, vesti uma camiseta branca de mangas longas e uma bermuda preta, me arrependendo assim que Xiaojun e eu deixamos o alojamento e nos deparamos com o ar gelado da manhã. Mas é claro que eu não voltaria atrás.

Na tenda do refeitório, notei que meus colegas já não lançavam olhares indiscretos para nós dois e sequer falavam sobre o acontecido ontem. Era um alívio. Sinal de que estavam agitados demais para as atividades de hoje, coisa que eu custaria a ficar. Claro que o cuidado com a gente estava mais redobrado, mas o clima estava tranquilo.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora