Capítulo Treze

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Toco os ramos verdes do salgueiro que me abriga do dia ensolarado. É um bom motivo para ficar bem humorado. Saio debaixo da árvore ao ver que Oli já tinha se desinteressado pelo hidrante vermelho na calçada e agora queria o pneu de uma lata velha estacionada ao lado. Com isso ele arrastava Mark por aí, que o obedecia indo aonde ele quisesse ir. Eu, como figurante, apenas acompanhava em silêncio.

Nós não conversamos muito desde o café e depois que ele me viu quase chorar. Também porque notei que Mark estava meio inquieto. Checava as horas no celular sempre que podia, ficava olhando para os lados e eu sabia que não era porque estava desconfortável comigo. Diferente de seus pais, que estão alegres para a festa de família, ele parece afetado com alguma coisa. Espero que não seja por aquele mesmo motivo.

— Que dia bonito! — eu digo, a fim de quebrar o gelo. Olhei para cima vendo o céu num azul claro, com rastros brancos de nuvem por todo lado. — Até parece que fico mais animado.

— Eu também... — Mark responde, olhando o chão que pisava e esperando seu cachorro marcar território no pneu do carro.

Em seguida ofereceu a guia que segurava. Levo um susto com a força que seu cachorro tinha ao andar na frente, me puxando para conseguir farejar o quanto pudesse. A risadinha de Mark cortou o clima estranho entre nós dois.

— Quer me contar sobre o que houve hoje de manhã?

Mordo o lábio inferior desviando os olhos para Oli e depois para um terreno enorme onde tinham outros cachorros de muitas raças distintas correndo para lá e pra cá ou brincando com seus tutores. Parecia como um parque para cães, assim como estava claro que o cachorro de Mark conhecia muito bem aquele lugar, por me conduzir ainda mais alvoroçado.

— Quer mesmo saber? — pergunto.

Mark assente, certo do que queria e dá atenção ao Oli, que balançando seu rabo impacientemente, sentou ao comando de seu dono e teve sua guia retirada, não esperando um segundo para correr terreno adentro.

Achei que iria direto atrás dos outros cachorros, mas ele late e quer mesmo é saber de assombrar os poucos pombos que bicam na grama. Com o cachorro livre, caminhamos pela estrada de pedra até um banco de praça, onde apenas Mark sentou.

Não é que eu estivesse desconfortável em falar sobre isso, é que não estou acostumado a me abrir. Das vezes que tentei, acabei com um peso na consciência logo depois, imaginando que talvez tivesse falado demais. Sempre tive a sensação de que ninguém estava interessado de verdade e eu deveria apenas calar a boca e guardar meus problemas para mim.

Suspiro olhando um pitbull brincar de frisbee com uma menina que usava roupa de academia. Tento me distrair ao ver que não importando o quão longe ela lançava, ele corria e chegava lá antes do disco atingir o chão.

— Donghyuck-ah — Mark diz e eu retorno o olhar para ele. — Foi por causa dessa noite? Olha, desculpe, se tiver uma próxima vez, juro que eu vou escolher dormir no chão.

Percebo seu tom meio preocupado e ao mesmo tempo em que tenho vontade de sorrir com a sua solidariedade a ponto de ceder sua cama, quero socá-lo por ter me lembrado desse ocorrido. Não faço nenhum dos dois e apenas volto a olhar os cachorros.

— Não se preocupe, Mark, não foi por isso.

— Então foi pelo quê?

Expirei todo o ar presente nos pulmões e resolvi finalmente me sentar ao seu lado. Ainda não sei como dizer isso ou começar, mas se Mark quiser realmente me ouvir, ele vai escutar. Mesmo que eu me arrependa depois.

— São só uns problemas de família — digo, acariciando o bolso e notando que ainda tinha um maço dos que Mark me deu — Nada com o que você deva se preocupar.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora