Capítulo Trinta e Dois

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A sala se esvaziou completamente, restando apenas eu, carteiras vazias e o esqueleto humano em tamanho real ao lado da lousa que foi colocado ali para a nossa revisão. Fiz o possível para participar da aula, mas não estava muito interessado em copiar textos, discutir sobre exercícios e nem repassar as bolinhas de papel que Jeno me pedia constantemente. Agradeço por isso tudo ter enfim acabado. Termino de desenrolar os meus fones de ouvido e os enfio nas orelhas, mas assim que me levanto, percebo que na mesa de trás onde Mark estava sentado, seu moletom preto estava desdobrado e de qualquer jeito na superfície.

Observo aquela peça nos primeiros segundos, sentindo algo incontrolável começar dentro do peito. Tento ser contra ao que desejo, mas não evito os meus pensamentos e minha vontade de querer furtar sua roupa tão usada e talvez a minha favorita. Sinto saudade do seu cheiro, sendo essa a minha principal motivação. Inclino a cabeça para a porta, podendo ver um pedaço da desorganização de estudantes que estava naquele corredor, mas sem sinal de Mark. Ele é tão cabeça-de-vento que não me surpreenderia nem ter notado que esqueceu isso aqui, o que de certa forma, é uma vantagem para mim.

Aproveito a chance que tenho e pego aquele moletom macio, abrindo a parte do peitoral entre os dedos e alisando os detalhes. Não resisto ao aroma que o tecido exalava por ter ficado tanto tempo embebido na mistura de perfumes e do seu cheiro natural. Inalar aquele ar teve quase a mesma sensação que ganhar uma doce massagem cerebral. Não sei como deve ser feita uma massagem no cérebro e nem tenho certeza do que causaria, mas sei que me senti leve e relaxado sem muito esforço. Estou a um passo de vestir e usar como se sempre tivesse sido meu.

— O que está fazendo? — Escuto uma voz que reconheço e meu coração para de palpitar por um instante.

Seguro o moletom com mais força e tenho coragem de olhar para trás, me deparando com o novo namorado de Mark parado na porta, me encarando com os braços cruzados. Gostaria de poder estalar os dedos e parar tudo para ter tempo de fugir.

— Por que veio aqui? — Prendo a roupa entre a alça da minha mochila, torcendo até minha alma para que ele não tenha o visto.

— Mark pediu para que eu viesse buscar o casaco que ele esqueceu — Ele aponta. — Este aí que você está segurando.

— Ah! — Tento exclamar. — Quer dizer, esse aqui?

Sem ter para onde escapar, tirei o moletom dali e ofereci para ele com as duas mãos.

— Desculpe, achei que fosse meu.

Procuro sorrir de um jeito amigável e não parecer nada suspeito, pelo menos não mais do que já pareço. Mas Renjun não está para brincadeira, ele sabe muito bem o que eu estava fazendo e deixa isso claro quando estala a língua, arrancando a peça de mim e agradecendo quase forçadamente ao me dar as costas. Neste momento, tenho vontade de poder me enfiar debaixo da terra e fingir que nunca sequer existi. Se Renjun contar a Mark o que me viu fazendo, com que cara eu terei coragem de olhar para ele de novo? O que vou inventar para me explicar? Será que ele acreditaria se eu dissesse que apenas confundi ou me encararia como o esquisito que sou?

Boa, Haechan, por que você simplesmente não seguiu sua vida? Por que ao menos não pegou a droga do moletom e foi embora antes de alguém chegar? Não há nenhum pensamento sensato na sua mente? Sério mesmo?

Eu sou patético. PATÉTICO!

Alguns minutos esperando minha vergonha diminuir, sabendo que nada do que eu fizesse poderia reverter o que acabou de acontecer, vou embora da sala. Encontro a galera de sempre embaixo da marquise, conversando sobre como está indo a revisão de cada matéria. Entro na roda ao ver que era um ambiente seguro, pois Mark não estava lá, nem o seu namorado ou o irmão dele.

Pelo Olhar Dele - MarkhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora