Cabelos Negros - Keisuke Baji x Reader

Noite de Outono

Esfreguei levemente os olhos, a luz que outrora ofuscara minha visão ainda me incomodava.

À minha frente havia apenas uma moto. Havia ficado para trás, supus. Sobre ela, um garoto olhava para mim enquanto apoiava um dos pés no chão e um dos cotovelos na direção, curvando um pouco o corpo. Ele era alto, vestia um uniforme preto com inscrições douradas. O uniforme era um pouco largo, mas ainda sim pude notar seu corpo forte e definido. Tomei coragem para encará-lo.

Ele exibia um sorriso misterioso, seus dentes brancos reluziam e pude notar que seus caninos se pronunciavam como que para serem notados, adicionando mais mistério e sobrenaturalidade. Seus olhos castanhos me examinavam curiosos e ao mesmo tempo enigmáticos. Seu rosto comportava aquele sorriso e aquele olhar harmoniosamente. Ele era absolutamente lindo. Por último, o vento leve daquela noite de outono em Asakusa agitava seus longos cabelos negros, fazendo uma mecha cair sobre seu rosto.

- V-valeu... – Balbuciei.

Seu sorriso se abriu ainda mais. Ele ajeitou o cabelo atrás da orelha e deu partida na moto. Olhou para mim mais uma vez e por um instante senti que ele fosse dizer alguma coisa, mas no instante seguinte ele acelerou a moto e sumiu na escuridão.

Fiquei ainda alguns instantes parada em frente ao carro, tentando processar o que tinha acontecido. Coloquei instintivamente a mão sobre a minha tatuagem e nesse momento não pude conter um sorriso tímido. Meu sorriso durou pouco.

- Ayane! Por que tanta demora? Eu quero dormir! Estou cansada, dirigi várias horas e...- Minha mãe começou a reclamar pela janela da frente do apartamento.

- Indo, mãe! – Interrompi e automaticamente me senti aliviada por ela não ter visto nada do que acontecera alguns instantes atrás.

Peguei os colchões e voltei ao apartamento. Minha mãe me esperava com uma cara feia que precisei ignorar para não entrarmos em mais uma discussão de horas. Tomei um banho rápido e deitei em uma das camas que já estava inflada. Minha mãe já estava roncando.

Fui tomada novamente pelos pensamentos ansiosos. Ainda não havíamos sequer definido para qual escola eu iria. Tinha medo de não me adaptar à essa "nova vida" que minha mãe estava planejando para a gente, mas havia me comprometido seriamente com ela. E eu estava disposta a tentar.

Estava quase adormecendo, perdida em pensamentos, quando minha mente foi invadida pela imagem daquele garoto. Ele estava ali, sorrindo, seus longos cabelos balançavam e ele me olhava fixamente. Senti meu coração acelerar e meu corpo esquentar, os pelos da minha nuca se eriçaram e um arrepio percorreu meu corpo, me fazendo tremer. O que estava acontecendo comigo?

Na manhã seguinte acordei com o som da conversa da minha mãe com uma vizinha, na porta de casa.

- Muito obrigada Sra. Kato. – Disse minha mãe.

- À disposição, Sra. Matsui. – Respondeu a mulher.

Levantei e encontrei minha mãe sentada no chão da sala. Sua expressão transparecia felicidade e entusiasmo. Estranhei.

- Ayane, tenho ótimas notícias!

- Ok. – Disse, tentando mostrar interesse.

- Já decidi para qual escola você vai! – Disse minha mãe juntando as mãos numa palma empolgada.

- Achei que fôssemos decidir juntas... o que houve com o plano original? – Levantei uma sobrancelha e desejei um café forte.

- Nossa vizinha, Sra. Kato foi muito gentil e me deu as informações necessárias para que pudesse fazer essa escolha. Tenho certeza que você vai gostar. – Ela ainda mantinha as mãos elevadas e neste ponto eu já começava a sentir pena.

- Entendi... e quais seriam essas informações? – Perguntei já sabendo a resposta.

- Erm... ela me disse coisas sobre currículo, atividades extras, preparação para faculdade e... bem... sobre os alunos. – Disse vacilante.

- Ok, você se certificou que a escola não tem marginais, é isso? – Falei secamente, fazendo minha mãe abaixar as mãos e mudar a expressão.

- Sim Ayane, é isso. Nada que deveria te surpreender, uma vez que esse foi o nosso acordo.

- Tudo bem, tudo bem. – Disse levantando as mãos em rendição. – Quando eu começo?

- Hoje.