Carona

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O impacto dos meus pés sobre Hanma fez o garoto rolar alguns metros e cair de bruços, com o rosto para o chão. Eu caí perto de Baji, e senti um baque forte na queda, que surpreendentemente não doeu, por conta da adrenalina. Olhei para Baji e ele continuava desacordado, seu rosto coberto de sangue que molhava seus cabelos. Coloquei rapidamente a mão sobre seu peito e vi que ainda respirava, com alguma dificuldade.

Voltei os olhos para Hanma, que ainda permanecia deitado e me perguntei se o teria nocauteado. De repente o garoto começou a rir na mesma posição e então se levantou lentamente.

- É uma pena que temos que entregá-la inteira para a Gyaru! – Exclamou, andando na minha direção.

Os outros integrantes estavam agitados, alguns ameaçavam avançar contra mim. Hanma parou a alguns centímetros de mim, levantando uma das mãos para acalmar os demais. Ele esticou os braços em minha direção, segurando na gola da minha blusa e me suspendendo até a altura dos seus olhos.

- Um arranhãozinho apenas, eles nem vão notar. – Falou arregalando os olhos.

Hanma tomou um impulso e me arremessou com toda a sua força para frente, me fazendo voar por diversos metros. Caí sobre uma pilha de entulhos e metais, machucando as costas e a perna direita na queda. Abri um corte no cotovelo esquerdo. Senti minha visão turvar com o impacto enquanto eu olhava ao redor tentando localizar Hanma. O garoto vinha caminhando lentamente em minha direção. De repente, tive uma ideia. Suicida talvez, mas podia dar certo. Eu só teria uma chance.

Hanma se aproximava e eu continuei deitada, medindo as distâncias na minha cabeça. Segurei firme a barra de ferro sobre a qual eu havia caído e me levantei de uma só vez. Tinha que ser rápida. Ao me ver em pé segurando a barra de ferro o garoto soltou uma longa risada, com desdém.

- Agora eu fiquei com medo! Tá vendo isso, Kisaki? – Falou, se virando para trás em busca do líder da Valhalla.

- Pare de brincar, Shuji. – Kisaki falou rispidamente.

Hanma voltou os olhos para mim e eu decidi que aquele era o momento. Em um pulo, avancei sobre ele girando a barra na sua direção com toda a minha força, o fazendo recuar. Era isso que eu queria. Repeti o movimento no outro sentido e Hanma deu mais alguns passos para trás, ainda rindo. Precisava de uma última vez. Girei a barra de ferro no ar e ataquei Hanma violentamente. O garoto deu um pulo para trás e fez um sinal de "não" com os dedos da mão, me provocando. Eu abri um sorriso e soltei a barra de ferro.

- Desistiu? É fraca que nem o seu namorado. – Hanma revirou os olhos.

Ele estava onde eu queria, eu só não podia errar. A memória da luta com Baji invadiu minha mente como um relâmpago e por um segundo eu desejei voltar para aquele momento. Mas não podia, agora era de verdade e eu tinha que acertar. Respirei fundo, pensei em Baji e assumi minha postura de luta.

Hanma continuou relaxado, talvez confuso com o que eu estava fazendo. Os outros integrantes da Valhalla assistiam em silêncio. Não havia mais o que esperar. Avancei rápido sobre Hanma, surpreendendo-o. Parei a alguns centímetros dele, aplicando-lhe um chute baixo na sua perna da frente com toda a minha força. O garoto, que era muito alto, se desequilibrou como eu esperava, e eu apoiei a minha outra perna por trás da sua perna e o empurrei para trás com força, derrubando-o. Ao cair, Hanma bateu a cabeça em uma máquina que estava atrás dele, atingindo o chão já desacordado.

Não tive qualquer tempo para comemorar o meu feito. Os outros integrantes da Valhalla imediatamente começaram a se agitar e a me ameaçar. Um deles andou até mim, parando da minha frente com uma postura assustadora.

- Eu acho que a gente deveria mandar ela para Osaka em pedaços. – Falou entre os dentes e alguns membros gritaram concordando.

- Ei Chefe! Ela não vai apagar o nosso vice comandante e sair dessa assim né? – Um deles se dirigiu a Kisaki.

Kisaki estava a alguns metros, sua expressão era indecifrável. Ele percorreu o ambiente com os olhos, como se estivesse incomodado com alguma coisa e por fim soltou um suspiro. Parecia que as coisas não estavam indo como o planejado.

- Sem exageros. Temos uma encomenda para entregar. – Falou por fim.

Senti o chão sumir sob os meus pés. Mesmo que Baji tivesse dado conta de vários integrantes da Valhalla ainda havia ali muito mais do que eu poderia pensar em enfrentar. Eles se aproximavam de mim cada vez mais. Assumi minha postura de luta, embora sentisse cada centímetro do meu corpo doer. Senti raiva e frustração por não conseguir salvar Baji e os garotos da Toman.

De repente, barulhos de moto invadiram o lugar. Muitas motos, talvez dezenas. Das sombras surgiram diversos integrantes da Toman, liderados por Mitsuya. Smiley e Angry apareceram correndo e invadindo a roda da Valhalla, se colocando ao meu lado. A desvantagem da Valhalla era evidente.

Mitsuya seguiu de moto até alguns metros de onde Kisaki estava. Sem descer da moto, olhou ao redor analisando a situação. Ficou alguns instantes olhando para Keisuke.

- Então Kisaki, você quer um massacre? – Perguntou serenamente

Kisaki não respondeu. Embora tentasse esconder, seus olhos transbordavam raiva. Ele caminhou até um dos membros e lhe falou algo no ouvido. O garoto subiu na máquina que sustentava o contêiner sobre a água e começou e trazê-lo de volta, colocando-o no chão por fim.

Kisaki caminhou até Baji e sacou seu celular, tirando uma foto. Naquele momento quis impedi-lo pois sabia o que aquilo significava, mas não tinha mais forças. Aos poucos os integrantes da Valhalla montaram em suas motos e dispersaram. Dois deles recolheram Hanma e o colocaram em cima de uma moto, desajeitadamente. Kisaki foi o último a deixar a doca, lançando um olhar perverso para mim antes de finalmente se virar e ir embora.

Corri até Baji e o tomei nos braços. Os sangramentos haviam parado e a sua respiração parecia ter compensado, mas ele ainda estava inconsciente.

- Devemos leva-lo ao hospital. – Me dirigi à Mitsuya. Nesse momento os outros garotos estavam empenhados em abrir o contêiner.

- Certo. – O garoto respondeu.

- Nada disso. Estou bem. – A voz de Keisuke era fraca, quase irreconhecível.

Ao vê-lo acordar meus olhos encheram de lágrimas e eu o abracei forte, arrancando uma pequena exclamação de dor do mesmo.

- Vai ao hospital sim, você passou os últimos 30 minutos desmaiado. – Falei decidida.

- Vamos para a sede e lá decidimos isso, pode ser? – Pediu.

- Okay. – Aceitei.

- Baji, quem fez isso? – Reconheci a voz do líder da Toman, Mikey. Eles finalmente haviam conseguido abrir o contêiner.

- Shuji Hanma. – Baji respondeu.

- Vamos todos para a sede, agora. – Mikey ordenou.

Ajudei Baji a se levantar e o apoiei para andar. Ele mancava um pouco. Vê-lo em um estado tão deplorável estava cortando meu coração em pedaços, mas eu sentia que precisava estar forte naquele momento.

- Ei Baji, quer que eu chame um táxi? – Mitsuya perguntou.

- Por que? Ninguém vai me dar carona não? – Baji perguntou indignado.

- Eu pensei que... é que você tá bem ferrado, cara. – Mitsuya deu um sorriso triste.

- Tô bem pra andar no carona. Alguém só precisa dar carona pra Ay. – Falou, apontando pra mim.

- Eu...er... eu vim pilotando. – Falei, sem graça.

- Você o que? – Ele arregalou os olhos.

- Eu tinha que chegar rápido. Peguei uma moto na sede. – Respondi, desviando o olhar.

- Entendi. Então eu já achei a minha carona. – E abriu um sorriso. 

Cabelos Negros - Keisuke Baji x ReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora