Truques

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Entramos na escola ainda abraçados. Os olhares e comentários continuavam enquanto caminhávamos pelo saguão até que encontramos Yasu, sentada em um banco. Ao nos ver a menina não conseguiu conter a expressão de surpresa.

Seguimos os três para a primeira aula do dia, matemática. Baji se sentou na carteira ao meu lado, reclinando-se relaxadamente. Tudo parecia muito natural para ele.

A aula começou e eu me esforcei para prestar atenção. Matemática era a minha pior matéria, e minhas notas em Osaka não tinham impressionado o departamento acadêmico da Kokusai nem um pouco. Precisava me recuperar.

Meu celular vibrou sobre a mesa. Discretamente o peguei e abri debaixo da mesa. Havia uma mensagem no aplicativo de mensagens.

- Vontade de te beijar agora.

Abri um sorriso e corei. Olhei ao redor checando se alguém me olhava e então olhei para Keisuke. Ele me olhava sem disfarçar, o rosto apoiado em uma das mãos, como se admirasse uma obra de arte. O professor de matemática soltou um pigarro alto, chamando a nossa atenção para a aula.

O restante da tarde passou voando. Ficamos juntos o dia todo e a cada intervalo procurávamos um lugar escondido para nos beijar ou passar alguns minutos abraçados. Na saída, Baji me disse que teria uma reunião da Toman em meia hora e se ofereceu para me deixar em casa. Foi doloroso ter que recusar.

- Minha mãe...ela tá na minha cola. – Disse, apontando para a van escolar.

- Ela sabe de mim?

- Sabe quase tudo e não tá muito feliz. – Falei mirando o chão.

Baji pareceu ficar triste com a notícia. Eu não queria dizer para ele que ela tinha proibido o nosso namoro. Nos abraçamos e nos despedimos. Antes de entrar na van, o vi subir em sua moto e prender os cabelos em um rabo de cavalo. As pessoas da escola pareciam ainda não ter esgotado o assunto.

- É ela... a namorada dele... – Ouvi uma voz atrás de mim.

- Daquele gato? Ele era tão esquisitinho né? – Outra menina falou.

- Ouvi dizer que eles dois são de uma gangue perigosa... – A primeira falou.

Rapidamente busquei meus fones de ouvido na mochila, conectando-os e colocando qualquer música no volume mais alto. O que quer que tinham para falar de mim, não estava interessada agora. Tinha outras coisas para pensar.

O condutor da van dirigia lenta e cautelosamente, me deixando irritada. Estava me acostumando com a velocidade alucinante da moto de Baji.

Me deixou na porta de casa após um longa (talvez nem tanto) viagem. Vi a Suzuki azul estacionada na calçada e subi as escadas me preparando para um novo confronto.

Entrei em casa, encontrando minha mãe sentada no sofá, ainda com a roupa do trabalho. Sua expressão era calma, porém séria. Cumprimentei-a, tomando o cuidado de tirar os sapatos na entrada, para não desagradá-la ainda mais. Andei até meu quarto, me jogando na cama sem nem tirar os sapatos.

Ouvi seus passos em direção ao meu quarto e fiquei apreensiva. Ela apareceu na porta com um sorriso no rosto.

- Ay, suas jujubas de cereja acabaram. Vamos fazer umas compras? – Perguntou.

- Claro, mãe. – Respirei aliviada.

Troquei de roupa, passando a mão pela blusa de Baji no fundo do armário. Quis vesti-la, mas tive uma ideia melhor e a coloquei na minha bolsa. Senti um aperto no peito. Por que as coisas não podiam ser mais fáceis?

Entramos no carro em silêncio e partimos em direção ao mercado. Quando paramos no primeiro sinal, decidi ligar o rádio. Esperei a expressão contrariada da minha mãe, mas ela não veio. Tínhamos gostos musicais muito diferentes.

Cabelos Negros - Keisuke Baji x ReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora