Brinco

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- Como assim atacada? – Perguntei assustada.

- A sede foi revirada, sem pista de quem foi, mas tenho suspeitas. – Respondeu Baji, entre os dentes.

- O que pretende fazer? – Falei mais baixo, me aproximando do garoto.

- Não sei, vou dar uma volta. – Falou, já se virando em direção à moto.

Nesse momento quis impedi-lo. Levantei a mão aberta em direção a ele, mas fechei os dedos com força, sentindo impotência e raiva. Não podia pedir que ele não tentasse salvar seus amigos da Toman, o que estava acontecendo era muito sério.

Me juntei à Yasu, as duas absolutamente cabisbaixas e preocupadas. A manhã passou lentamente e eu não consegui prestar atenção em uma só palavra do que os professores disseram. A todo momento, a imagem de Keisuke em perigo aparecia na minha mente, flashbacks daquela noite em que assisti ele apanhando pulavam diante dos meus olhos.

Ele era forte e corajoso. Talvez corajoso demais para mim, que tinha medo demais de perdê-lo. Acima de tudo, valorizava a gangue como uma família, e eu de certa forma admirava isso nele..., mas... por que isso tinha que significar perigo a todo tempo?

Yasu e eu almoçamos em silêncio, compreendendo uma a aflição da outra. A menina checava o celular a cada 5 minutos, apenas para lamentar ou balançar a cabeça negativamente no instante seguinte. Lembrei-me de em algum momento do passado ter olhado para ela e ter pensado que deveria ser louco namorar um membro de gangue. Pois é...

Tentei fazer meu melhor nas aulas da tarde, especialmente a de História, que era minha matéria preferida. Ao pegar meu caderno encontrei um desenho de alguns dias atrás. Eu havia desenhado Keisuke de cabelos presos com algumas mechas caindo sobre o rosto. Acho que esse era o jeito que eu mais gostava do cabelo dele.

O sinal tocou alto anunciando o fim das aulas do dia. Andei até a frente da escola com Yasu e nos despedimos com um abraço sincero. Minha maldita van escolar já aguardava os alunos. Fingi que não a vi e fiquei alguns minutos na porta da escola, na esperança de que Baji aparecesse com notícias.

Me senti estúpida achando que ele apareceria apenas pra isso. Me acomodei em um banco vazio da van, o mais distante possível de qualquer outro aluno, coloquei meus fones de ouvido e abri o aplicativo de mensagens.

- Hey, quando puder dá notícias. – Digitei

Enviei com um sentimento de que não teria resposta tão cedo. Contemplei a mensagem apagada logo acima da minha e lembrei que ainda não tinha solucionado aquele mistério. Ficaria para depois.

Novamente o motorista dirigiu como uma lesma pela cidade, me fazendo ter a sensação agoniante de estar perdendo tempo enquanto algo ruim poderia estar acontecendo. Mas o que eu poderia fazer? Eu sequer sabia onde eles estavam.

Cheguei finalmente em casa e subi as escadas derrotada. Abri a porta e encontrei a minha mãe na cozinha, preparando um café.

- Ay! Que susto! O que faz em casa? – Perguntou, levando a mão ao peito.

- Ahn? O que eu faço todo dia, mãe. Chego da escola essa hora. – Respondi, levantando as mãos.

- Claro...filha...er...óbvio! Essa hora. Tudo normal. – Ela parecia não achar as palavras certas.

- Mãe, pare de ser estranha. – Respondi pegando a jarra de café e me servindo.

- Não vai sair hoje? – Perguntou, colocando a mão no meu ombro.

A encarei muito surpresa e extremamente desconfiada.

- Mãe, tá rolando alguma coisa? Já sei! Você quer se livrar de mim para sair para um encontro com aquela pessoa né? – Me aproximei dela com um sorriso maldoso.

- Ayane! Não existe pessoa alguma! Não tenho tempo para isso! Só pensei que...sei lá... você quisesse sair com seu namorado hoje...- Respondeu, colocando os cabelos atrás das orelhas.

Soltei um longo suspiro e joguei o corpo pesadamente sobre a cadeira mais próxima. Coloquei as mãos sobre os olhos, deixando-as ali por um tempo.

- Que foi filha? Brigaram? – Perguntou, sentando-se também.

- Não, mãe. Baji tá com problemas. – Respondi, descendo as mãos e deixando as penduradas ao lado do corpo.

- Que tipo de problemas? – Ela estava interessada.

- Problemas grandes. E perigosos. – Olhei para ela desesperançosa.

Vi minha mãe fechar a cara e contrair levemente os lábios e então me dei conta da besteira que tinha feito. Não podia contar esse tipo de coisa para ela se tinha alguma intenção que ela aceitasse Keisuke. Ela nunca aprovaria nosso namoro se soubesse das guerras da Toman.

- Ay. – Começou a falar e em seguida deu um longo gole no café. – Se o Baji está em perigo, o que você está fazendo aqui?

Passaram-se 20, talvez 30 segundos e eu continuei absolutamente estática diante da minha mãe. Era impossível que eu tivesse ouvido o que ouvi. Ela continuou me olhando, esperando a resposta para sua pergunta, que ao que tudo indicava, era mesmo séria.

- Eu... eu... não sei. Eu não sei como achá-lo. – Respondi, acreditando que não era algum tipo de ilusão.

- Ora descubra! Você gosta mesmo dele, não gosta? – Ela estava mesmo falando sério.

- Gosto. Muito. – Me endireitei na cadeira.

- Então vai resolver isso, Ay. – Falou por fim, dando mais um gole no café. Ela não tinha a dimensão do problema, mas tinha conseguido me motivar.

Levantei em um pulo e andei até o meu quarto. Troquei de roupa muito rápido e sem pensar duas vezes vesti a camisa do Baji, uma calça preta e minhas botas mais confortáveis.

Passei pela cozinha e minha mãe ainda estava lá, vendo vídeos no celular. Quando me viu, abriu um sorriso.

- Você parece pronta pra guerra! – Falou.

- Er... vou levar isso como um elogio. – Fiquei muito sem graça e um pouco culpada.

- Fique atenta ao celular, vou ficar também. Se precisar de mim, ligue. – Falou, mandando um beijo no ar.

Desci as escadas e destranquei a bicicleta com pressa. Primeira parada: Sede da Toman.

Pedalei com toda a minha força contra o vento frio que congelava meus olhos e nariz, tentando chegar o mais rápido possível. A luzes de Tóquio passavam por mim como borrões.

Cheguei na sede e logo vi duas motos caídas próximas da entrada. Meu coração deu um pulo. Bati na porta duas vezes e ninguém atendeu. Girei a maçaneta e porta estava destrancada.

O cenário era assustador. Parecia que um furacão tinha passado ali. O salão estava vazio exceto por uma menina que estava em uma escada portátil recolhendo a bandeira da Toman que ficava pendurada na parede do fundo.

Fui andando até ela e então pude ver que a bandeira estava com um enorme rasgo no meio, quase dividida em duas. Me aproximei e então ela se virou para mim. Era bem bonita, tinha os cabelos ruivos e uma pinta próxima a boca.

- Ei. Você é a namorada do Keisuke, né? – Ela perguntou.

- Sou. Você é? – Me senti importante, apesar de toda a situação.

- Tachibana. Hinata Tachibana. Sou a namorada do Takemichi. – Respondeu.

- Entendi... Você por acaso sabe onde encontrá-los? – Com certeza o desespero transpareceu nessa hora.

- Não tenho certeza, mas tenho uma pista. – Ela começou a descer da escada.

- Já é alguma coisa.

A menina andou até uma das mesas no canto do salão e pegou um objeto brilhante. Voltou até mim e abriu a mão exibindo um brinco dourado com um detalhe vermelho no centro.

- Nós sempre fomos amigos, desde crianças. Quando fizemos 12 anos, eu dei esse brinco para ele, para ele usar quando furasse a orelha. Lembro que ele achou brega no primeiro momento, mas guardou com carinho. Nunca imaginaria que pudesse fazer isso.

- Estamos falando de Takemichi? – Perguntei confusa.

- Não. Estamos falando de Kisaki Tetta. 

Cabelos Negros - Keisuke Baji x ReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora