Terraço

1K 101 10
                                    

Observei seu rosto por alguns instantes, totalmente enfeitiçada. Vi seus olhos desviarem dos meus olhos para a minha boca.

- Vai ter que ser. – Disse a bartender. – Só tem mais uma dose de licor de uva.

Ele riu e eu fiquei ainda mais sem reação. Pus as duas mãos no balcão e virei o corpo, encarando as garrafas vazias nas estantes do bar, mas ele pareceu não querer deixar aquela tensão escapar. Continuava me olhando, sua perna direita encostada na minha coxa, levantando levemente o meu vestido.

A bartender depositou o Kamikaze "autoral" na nossa frente, com dois canudos pretos. Meu coração estava tão acelerado, que a qualquer momento poderia saltar do peito. Ele se aproximou primeiro, sem quebrar contato visual. Parecia que o bar, antes lotado e barulhento, havia ficado calmo e silencioso. Mexeu a cabeça levemente, me convidando e eu aproximei a minha boca. Chegamos aos canudos juntos, nos olhando intensamente. Ele colocou a língua no canudo antes de envolve-lo com a boca e eu me arrepiei inteira. Não me arrisquei fazer o mesmo, já estava extremamente difícil manter os olhos naquela visão diabólica sem perder a cabeça.

Terminamos o drink e permanecemos nos encarando por alguns instantes. Senti a mão dele subir pelas minhas costas e abraçar meu pescoço, lentamente.

- Quer conhecer o resto da sede? – Falou exibindo seus lindos caninos brancos.

Assenti com a cabeça, esboçando um sorriso.

Ele me pegou pela mão, me surpreendendo com o gesto e me puxou para o salão. Senti meu celular vibrar no bolso da jaqueta e pensei na minha mãe. Ela deveria chegar a qualquer hora.

Sua mão era grande e quente, os dedos eram longos. Notei que ele tinha curativos em dois deles e no punho.

Ele me conduzir através do salão aonde algumas pessoas dançavam até uma escada à esquerda que levava até o segundo andar. O segundo andar estava bem mais vazio e tinha algumas mesas de sinuca e algumas mesas onde pessoas jogavam cartas e conversavam em voz baixa.

Passamos por entre as mesas em direção ao fundo da sala. Em nenhum momento ele soltou minha mão. Em uma das mesas, dois garotos conversavam e assim que nos viram abriram um sorriso. Um deles era alto, tinha os cabelos longos e loiros, com um corte raspado nas laterais que deixava a mostra uma tatuagem tribal de dragão. O outro era menor, também loiro, tinha um rosto amável que contrastava com o sorriso malicioso que fazia enquanto balançava a cabeça negativamente direcionando o olhar para o garoto que me acompanhava.

Seguimos para uma escada em caracol e subimos. Estranhei, pois, achei que a casa tinha apenas dois andares.

Chegamos em um terraço aberto que estava quase vazio exceto por um casal. Assim que nos viram, olharam para ele e abaixaram a cabeça, saindo rapidamente do ambiente. Ao sair, o menino disse:

- Boa noite, capitão.

O garoto que ainda segurava a minha mão apenas moveu a cabeça.

Ficamos a sós e ele caminhou até o parapeito do terraço. Ele subiu em um pulo e sentou, com as pernas abertas, apoiando os cotovelos nas coxas. Ele vestia uma calça preta e uma blusa social branca, com as mangas dobradas até o cotovelo. Meu Deus, como ele era perfeito.

Ele me chamou com os dedos. Hesitei, mas então segui lentamente em sua direção.

Parei a alguns centímetros de distância. Senti então o perfume hipnotizante que havia me levado à loucura por duas vezes. Era ele..., mas é claro, só podia ser ele.

- E aí? Menina do dragão azul. -Perguntou maliciosamente juntando as mãos.

- Hey.- Respondi observando sua blusa que estava um pouco aberta revelando parte de seu peitoral desenhado.

- Pode chegar mais perto, eu não mordo. – Ele disse mordendo o lábio inferior.

- Tô bem aqui. – Respondi colocando a mão na cintura.

- Ok. – Ele respondeu levantando as mãos.

- Então, garota de Osaka... o que procura por aqui? – Ele perguntou passando a mão por seus cabelos presos fazendo algumas mechas se soltarem do rabo de cavalo e caírem sobre seu rosto.

- Como sabe que sou de Osaka?

- Eu tenho minhas fontes.

- Não sei... o que tem de interessante? – Não pude conter a maldade nas palavras.

Ele desceu do parapeito e se aproximou de mim. O perfume cada vez mais forte me envolvendo e eu cada vez mais convencida de que não se tratava de um perfume e sim do cheiro dele... do corpo dele... dos cabelos dele. Ele parou a alguns centímetros do meu rosto, seus olhos fixos nos meus, pude sentir sua respiração. Ele passou uma mão em volta da minha cintura enquanto a outra adentrava os meus cabelos revoltos acariciando a minha nuca. Arrepios percorreram meu corpo me fazendo soltar um suspiro trêmulo. Ele sorriu ao ver a minha reação e me puxou para perto pela cintura, fazendo nossos corpos se encaixarem perfeitamente.

Apertou ainda mais forte minha cintura me fazendo arder. Seus olhos agora estavam vidrados na minha boca. Senti seu cabelo tocar o meu rosto e em seguida ele colou seus lábios nos meus, selando-os lentamente.

Meu coração disparou e tive vergonha pois sabia que ele podia senti-lo. Fiquei presa naquele momento, imaginando o que viria a seguir, mas ele afastou os lábios e me olhou com um sorriso um pouco confuso. Algo parecia tê-lo perturbado.

Desfizemos o enlace e ele encostou no parapeito passando a língua pelos lábios como se saboreasse algo. Olhei aquele garoto maravilhoso na minha frente e senti a curiosidade me invadir. Lembrei de todas as interrogações não respondidas sobre ele, lembrei do novato da escola, lembrei do perfume na escola, enfim, eram muitas dúvidas...Decidi começar do básico.

- Posso... saber o seu nome? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

- Curiosa... – Ele respondeu.

Nesse momento me dei conta de um som familiar no fundo e percebi que ele já estava ali há alguns minutos.

Merda. A buzina da mamãe.

Cabelos Negros - Keisuke Baji x ReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora