22. quando a dinâmica muda

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No dia seguinte, o sol da manhã queimava ardido nos ombros e nuca de Alberto quando ele saiu com Massimo para pescar.

Faziam apenas quatro dias que Luca havia partido, mas parecia ser muito mais. Ele sentia saudade.

Felizmente, Alberto havia desenvolvido uma rotina diária muito parecida com a que tinha antes de Luca e Giulia partirem para Genova: acordava cedo todas as manhãs, alimentava Machiavelli e Caligola antes de fazer o desjejum com Massimo e, logo depois, eles partiam para o mar pescar.

Eles não tinham um horário fixo para retornar, dependia muito se conseguiriam encher o barco de peixes rápido ou não, mas quando voltavam para casa Alberto geralmente ajudava Massimo na pescheria durante o resto do dia ou vendia os peixes pela cidade com o carrinho como Giulia costumava fazer, ou então ia visitar os Paguro e passava um bom tempo com eles.

Não era realmente muita coisa a se fazer, mas ao menos mantinha sua mente ocupada o bastante para não se permitir afundar na saudade que sentia, tanto de Luca quanto de Giulia. Ele também sentia falta da menina ruiva e elétrica, bem como do jeito espontâneo que era muito parecido com o seu próprio.

Mas Luca... Era diferente, de alguma forma. Alberto tinha saudade de ouvi-lo chamar seu nome e segurar seu braço para chamar a atenção, ou de ouvi-lo dizer Silenzio Bruno antes de fazer algo que tinha proposto.

Parecia que, sempre que fazia algo, não importasse o quão grande ou pequeno fosse, havia um vazio ali do seu lado. Às vezes ele até mesmo se virava, a boca aberta para contar algo a Luca ou dizer algo para fazê-lo rir, mas então se dava conta de que não havia ninguém.

E, à noite, ele se deitava e olhava as anchovas no céu, se lembrando das noites em que Luca dormiu ao seu lado no esconderijo na árvore, as noites em que ele ainda o tinha próximo.

Eram momentos em que ele pensava se tinha feito a coisa certa em permanecer em Portorosso. Mas então se lembrava do que Massimo disse para ele na estação de trem, de que às vezes a vida seguia caminhos diferentes e que pessoas se separavam e depois retornavam.

Alberto só esperava que Luca retornasse para ele.

— Você está distraído hoje — a voz grave de Massimo o trouxe de volta para a realidade, e o garoto piscou os olhos verdes para o homenzarrão à frente dele. — Está tentando decifrar onde os peixes estão?

O moreno sorriu para ele, meio incerto, e apertou a mão na ponta do banco que estava sentado.

Ele gostava do fato de que Massimo não tocava em certos assuntos ou mesmo o pressionava para que contasse qualquer coisa, deixando-o livre para resolver seus problemas sozinho e pedir ajuda quando precisasse. Então ele sempre comentava coisas simples ao invés de fazer uma pergunta direta, a menos que fosse estritamente necessário ou que ele sentisse que devesse.

E, mesmo assim, Alberto sempre sentia vontade de contar as coisas para ele ou lhe fazer perguntas.

E, para ser bem sincero, realmente tinha algo que o estava incomodando.

— Na verdade, eu... Eu queria saber se você está mesmo bem com... — ele se interrompeu, não sabendo exatamente como continuar a frase, e então simplesmente mergulhou a mão esquerda na água.

Quando tirou-a do mar e a ergueu ao lado do corpo, escamas arroxeadas e reluzentes brilhavam ao sol em um contraste completo com sua pele humana cor de caramelo. Abriu um novo sorriso receoso quando Massimo ergueu as sobrancelhas grossas e olhou-o nos olhos com intensidade.

E eles ficaram se observando durante alguns instantes que pareceram ter durado muito tempo, até que Massimo soltou uma risadinha e se aproximou dele, os passos pesados fazendo o barco balançar para os lados até que ele parasse ajoelhado na frente do garoto.

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