3. quando a rivalidade começa

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N/A: Esse capítulo foi todo ideia da @DizzyCloud (perfil no Spirit) e eu amei tentar imaginar e escrever ele. Obrigada por isso, Dizzy!

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Voltar para Portorosso todas as férias de verão causava uma nostalgia gigantesca que Giulia pensava que nunca seria diferente.

Ela simplesmente amava Genova e a escola, mas ela não poderia negar que era muito mais divertido voltar para o pequeno vilarejo à beira-mar, junto ao seu papa e Machiavelli na pequena e aconchegante casinha perto da água.

Portorosso era onde estava seu coração.

Ela desembarcou do trem e seu papa já estava esperando por ela na estação, com seu chapéu marrom e o sorriso quase que totalmente escondido pelo bigode, mas que ela sabia que estava lá.

Giulia pulou do trem para os braços dele, aspirando o cheiro de peixe e maresia e molho que ele exalava, cheiro que ela sentia tantas saudades quando estava longe. O braço dele quase a esmagou, e ela riu enquanto balançava as pernas no ar.

- Eu estava com tantas saudades, papa!

- Também estava, Giulietta - ele respondeu, a voz emotiva, e ela adorava quando ele a chamava pelo nome todo.

- Tenho tantas, tantas, taaaaantas coisas para te contar! - exclamou, pulando do abraço e olhando para ele com olhos animados. - O senhor sabia que o bicho-preguiça dorme cerca de 20 horas por dia?! É só um pouco mais que os coalas, que dormem cerca de 18 horas por dia. São os animais mais preguiçosos que eu conheci até agora! E a língua de um tamanduá pode chegar até dois metros de comprimento! E também...

Massimo sorriu para sua pequena tagarela, apanhando a mala dela do chão e começando a caminhar de volta para casa. Giulia continuou falando por um bom tempo, nem sequer prestando atenção no detalhe de que o pai não comentava as curiosidades e fatos interessantes que ela estava contando, porque sabia que ele era um homem calado.

Mas ela também sabia que isso não o fazia menos orgulhoso dela, e nem menos interessado no que ela tinha para dizer, como delatavam suas sobrancelhas arqueadas e os olhos atentos.

Eles chegaram até a casinha e Giulia se apressou para deixar a mala em seu quarto, abrindo a janela e pulando no galho em frente a ela, caminhando com cuidado até chegar em seu pequeno refúgio na árvore do quintal.

Giulia olhou para a água e sorriu, aspirando longamente o ar limpo e levemente salgado como se respirasse pela primeira vez em muito tempo.

E os dias passaram tranquilamente enquanto ela ajudava seu pai a pescar e a vender os peixes, e quando menos notou já chegara o dia em que se iniciariam as inscrições para a tão aguardada Copa Portorosso.

Giulia ainda tinha oito anos e, pelo regulamento, ela não podia participar; só quando completasse dez. Mas ela gostava de assistir a corrida e de toda a euforia que ela trazia para o vilarejo usualmente tão quieto.

Então ela terminou de vender os peixes daquele dia com pressa, correndo até a praça para dar uma olhada nos corredores daquele ano.

E quase foi ao chão quando esbarrou em alguém alto e esguio que entrou em seu caminho de repente.

O garoto se virou para ela com uma expressão de nojo e desgosto que a irritou imediatamente.

- Olha por onde anda, piccoletta. Você vai amassar o meu suéter - falou ele, parecendo não ter muito mais do que treze anos, mas com a arrogância de um adulto ao alisar o pequeno suéter cor de rosa.

- É você quem tem que olhar por onde anda - ela rebateu, se endireitando e erguendo o queixo. - Foi você quem entrou no meu caminho.

- Isso é o que você diz. Agora vamos, saia da minha frente, eu preciso me inscrever para a Copa.

Ela entortou os lábios, permanecendo parada, e o garoto de cabelos pretos a olhou com raiva antes de lhe dar uma cotovelada para tirá-la do caminho, seguindo adiante com o nariz erguido e o andar pomposo.

Giulia o observou ter a mesma atitude mesquinha e arrogante com todos os outros moradores no caminho e corredores que estavam se inscrevendo, chegando até a mesa e abrindo um sorriso claramente falso para a funcionária do patrocinador.

- Quero me inscrever.

- Ok, certo. Oh, você é novo aqui? Eu tenho certeza de nunca ter te visto antes.

- Eu acabei de me mudar para cá com meu pai. Portorosso será minha casa agora e nada melhor do que me familiarizar com ela do que participando da corrida, não acha?

A Sra. Marsigliese parecia completamente perdida entre rir para ele em simpatia ou franzir as sobrancelhas com a atitude, e por fim apenas balançou os ombros.

- Muito bem, e qual é o seu nome?

- Ercole Visconti, madame.

- E você vai correr sozinho ou tem uma equipe, Ercole?

Ele pareceu pensar por um segundo, logo em seguida pegando dois garotos que estavam ao lado dele pelas golas das camisas e o puxando para perto, apresentando-os a mulher.

- Aqui está minha equipe. Andem, digam seus nomes.

- Ahn... Guido.

- C-Ciccio...

Giulia não conseguia acreditar em tamanha cara de pau. Ele evidentemente nem ao menos conhecia os dois garotos, e mesmo assim os estava forçando a entrar em sua equipe! Ela balançou a cabeça para a cena, observando Ercole pagar a taxa de inscrição e dar meia volta com um sorriso arrogantemente orgulhoso nos lábios.

- Venham, idioti! - chamou ele por cima do ombro, e logo os dois garotos estavam um de cada lado dele. - Nós precisamos treinar! Vocês precisam estar em forma, porque eu não quero que nada e nem ninguém me atrapalhe de vencer.

Ele então passou por Giulia outra vez e crispou os lábios para ela.

- E eu vou vencer.

Giulia sentiu uma grande onda de raiva queimá-la por dentro e deu um passo à frente, apontando o indicador para o peito de Ercole.

- Quando eu tiver idade o bastante, vou me inscrever para a corrida também! E então vou vencer você e colocar um fim na sua arrogância e o seu império do mal!

Ercole riu alta e debochadamente por um curto instante, então a olhou com maldade e se inclinou para falar perto do rosto dela.

- Qual é o seu nome, piccoletta?

Ela não se intimidou, porém, e ergueu o queixo outra vez.

- Giulia. Meu nome é Giulia.

- Bem, Giulia, esse vilarejo é meu agora, eu mando aqui. Então vai ser eu quem vai ganhar essa Copa e todas as outras que eu puder, e não vai ter nada que você possa fazer para mudar isso.

Ele então se afastou e caminhou para longe, deixando para trás uma Giulia que fez a si mesma uma promessa: de que ela venceria aquele garoto e livraria seu amado vilarejo da maldade dele.

- Espere e verá, Ercole. Espere e verá.

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