Após uma semana em Genova, Luca podia constatar sem nenhuma sombra de dúvida que os humanos eram realmente fascinantes.
Eles eram extremamente criativos e engenhosos, desenvolvendo soluções para os problemas do dia-a-dia e fazendo coisas que o menino jamais poderia pensar em fazer.
Haviam as pequenas casas juntas no mesmo lugar que Giulia disse se chamarem “apartamentos”, haviam os carros e ônibus, uma coisa chamada torradeira e outra chamada banheira!
Luca adorava a banheira.
Giulia e Elisa disseram que não seria muito prudente ele nadar no porto, porque as pessoas se assustariam e as coisas sairiam do controle, e ele ainda tinha que tomar muito cuidado para não se molhar na rua com as dezenas de fontes que haviam espalhadas pela cidade.
Mas tudo isso o deixava com saudades da água, de sua forma original e simplesmente mergulhar, de maneira que a banheira se tornou uma solução improvisada para aquele pequeno problema.
Toda vez que estava calor demais ou que ele precisava tomar banho ao fim de um dia, enchia a banheira grande e branca e ficava mergulhado nela por um longo tempo, mesmo que a água doce em nada pudesse se comparar com a água do mar e não houvesse muito espaço para se mexer.
Ele também constatou que viver em uma cidade grande era muito diferente de viver em Portorosso, que por si só era muito diferente de viver no mar.
Ali, as pessoas tinham horário para fazer tudo, seus dias eram repletos de compromissos e a palavra que parecia resumir tudo era pressa.
Os humanos viviam apressados; ao andar pelas ruas, ao falar com as pessoas, ao fazerem suas refeições. A semana era dividida em dias específicos e cada dia era dividido em horas, e eles pareciam tentar encaixar todos os seus infinitos compromissos naqueles curtos espaços de tempo, e às vezes não dava muito certo.
Luca achava tudo isso insano. Era tão melhor poder viver sem afazeres e aproveitar o dia livremente...
O lado bom daquilo tudo, ao menos, é que ele não teria muita coisa para se preocupar além da escola. Giulia o explicou tudo o que poderia sobre como ela funcionava e então aquele seria seu primeiro dia. Luca se sentia incrivelmente nervoso.
Ele encarava os portões de ferro com olhos receosos e temerosos, apertando a alça da mochila amarela onde carregava todos os seus livros e outros materiais. E, assim como Giulia, estava vestido com o uniforme azul escuro. Ele achou engraçado que todas as crianças humanas tivessem que usar a mesma roupa, todos os dias da semana.
Então respirou fundo, pensando em Alberto. Se estivesse ali, o garoto mais velho com toda certeza estaria sorrindo encorajador para ele, o instruindo a...
— Silenzio, Bruno — mandou, sentindo a mão de Giulia se apoiar em seu ombro.
— Não se preocupe, Luca, você vai se sair bem — ela sorriu, e o menino afirmou com a cabeça. — Agora vem, vamos procurar nossa sala. Sempre precisamos entrar alguns minutos antes do sinal bater, para pegarmos bons lugares e não corrermos o risco do professor chegar antes de nós...
Ela continuou falando, puxando-o pela mão por entre o mar de corredores, alunos e portas, e Luca se pegou pensando que era tudo tão cheio de normas e detalhes que pareciam intermináveis, coisas demais para ele aprender e nem teve sua primeira aula ainda.
Quando começou a se desanimar um pouco, porém, sacudiu a cabeça para os lados.
Eu vou pegar o jeito ao longo do tempo. Não preciso saber de tudo isso agora. Está tudo bem.
Quando eles finalmente chegaram até a sala certa para a primeira aula, foi bem no momento em que um barulho alto e estridente soou por todo o lugar, fazendo Luca chiar e tampar os ouvidos. Giulia riu, continuando a puxá-lo para se sentarem nas carteiras avermelhadas, um ao lado do outro.
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Mil Memórias
Hayran Kurgu{Luca x Alberto} Memória. Por definição e conceito, é a capacidade que os seres vivos tem de adquirir, armazenar e evocar informações que ficam guardadas em um - e, às vezes, mais de um - local da mente. A memória pode ser fraca ou forte, pode ser i...