16. quando a chuva une e reúne

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Alberto sentia a dor o tomar por dentro mesmo que sua mente entorpecida não houvesse ainda terminado de processar o que estava acontecendo.

— Luca? — chamou, descrente e machucado.

Porque havia uma verdade intrínseca, quase escondida em meio a memórias e sonhos e esperanças, uma verdade que era tão dolorosa e cruel que Alberto precisava fazer uma força gigantesca para ignorar sua existência.

Que ele sempre seria sozinho, porque ele não passava de alguém que estragava tudo e, por este motivo, as pessoas sempre o abandonariam.

Foi assim com sua mãe, que ele mal se lembrava. Foi assim com seu pai, que ele preferia não se lembrar.

E ele sempre soube, bem lá no fundo, que seria assim com Luca também. Mas ele não queria acreditar, não queria aceitar.

Não com Luca.

Mas o dedo do amigo ainda estava apontado para seu peito enquanto as palavras dele o chamando de monstro se repetiam em sua cabeça, ecos sombrios em sua mente vazia, os olhos castanhos culpados doendo mais do que o que ele tinha feito.

Porque Alberto entendeu.

Ele entendeu que foi necessário, que Luca queria coisas que não poderia ter se revelasse quem era de verdade como Alberto fez. Ele entendeu que o amigo tinha sonhos, tinha vontades e que ele fez uma escolha.

Mas ainda doía. Muito.

Alberto ouviu Ercole gritar, mesmo que não tenha entendido as palavras que saíram de sua boca. Então Giulia pegou um pedaço de madeira e o afastou, gritando para que ele fosse embora, e aquilo também doeu.

Então ele virou as costas, nadando contra as ondas para se afastar de todos eles. Era o melhor que ele podia fazer.

Ouviu Luca gritar e arpões mergulharem ao seu lado, e olhou por cima do ombro uma última vez, o rosto carregado de arrependimento e medo do amigo o trazendo instintos de voltar, de se aproximar e falar qualquer coisa para deixá-lo bem, mas ele não podia.

Então Alberto nadou para longe e cada corrente marítima que batia em seu rosto parecia trazer algas que se alojavam em sua garganta, deixando-a com um nó que tornava difícil respirar. Seu rosto estava retorcido em um choro que ele não queria deixar sair, mas que estava se tornando cada vez mais impossível de segurar.

Quando chegou em sua ilha, porque era o único lugar no mundo que ele ainda tinha para retornar, correu morro acima e subiu na torre, parando no meio dela com a respiração pesada.

Foi até o pôster da Vespa e o arrancou do lugar com violência, tremendo dos pés a cabeça ao olhar para todas aquelas marcas na parede, iluminadas pelo pôr do sol que já não mais parecia tão bonito e vívido assim.

Então gritou.

De dor, de frustração, de mágoa, de tudo. Flashes vinham para ele com rapidez, memórias de dias com seu pai e dos dias com Luca e tantas coisas se atropelavam dentro dele naquele momento, como a perda de um futuro que ele almejava, a ideia de que agora Massimo o odiaria, a traição que ainda estava doendo assim como o abandono de alguns anos atrás.

Ele gritou de novo, o choro finalmente vindo, e de repente a tristeza sem fim se transformou em raiva, em fúria, em ódio – de seu pai, de Luca, do mundo, dos seus tesouros... E de si mesmo.

— Pai estúpido! — gritou, apanhando o chapéu que ele mantinha pendurado no pé da rede e o jogando pelo vão da torre.

Então olhou ao redor, sentindo ira por todas aquelas coisas que o lembravam o pai e por seu próprio hábito de continuar algo que Bruno havia começado.

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