21. quando a saudade faz visita

4 0 0
                                    

Caro Alberto,

Genova é incrível, muito mais do que eu pensei que seria. Mesmo que Giulia houvesse me falado sobre ela antes, não chegou nem perto da realidade maravilhosa que a cidade é.

Você ficaria surpreso ao ver como aqui é enorme, muito, muito maior do que Portorosso. Há tantas ruas grandes que se cruzam com muitas outras, formando um labirinto que eu tenho certeza que me perderia se não tivesse Giulia e Elisa, a mãe dela, comigo. E há tantos carros rodando por elas que é uma loucura, e todos eles são barulhentos e alguns são tão grandes quanto uma casa. Dá para acreditar? Além dos carros, há muitas pessoas andando de bicicleta ou em uma pequena prancha de madeira com rodinhas, e eu pensei que seria algo que você gostaria de tentar andar.

Também há pessoas com Vespas coloridas, e isso também me lembra você.

Mesmo que não tenha se passado muito tempo desde que saí de Portorosso, menos de um dia, eu sinto tanto a sua falta... Desde que nos conhecemos éramos inseparáveis, então agora sinto como se estivesse algo faltando aqui do meu lado. Queria ter conhecido Genova com você, porque sei que adoraria passear pelos pontos da cidade, principalmente pelo aquário. Você acredita que os humanos descobriram uma forma de colocar um pedaço do mar aqui em terra firme? Foi a coisa mais incrível do passeio de hoje.

Giulia me disse que amanhã nós iremos comprar roupas e materiais para a escola, e eu estou ansioso para começar as aulas, mas não vou deixar que o Bruno me impeça de tentar. Farei isso por mim e por você também, então me deseja sorte!

A casa de Elisa é muito bonita e da janela do quarto que ela me deu eu tenho uma vista realmente extraordinária da cidade, por estar em uma parte mais alta, e posso ver com perfeição o grande farol no porto e todo o Oceano além dele. Olhando para ele agora, aqui sentado escrevendo para você, quase consigo te imaginar saindo da água e vindo correndo me abraçar e me chamar para subir até o topo do farol com você. E eu iria, com toda certeza.

Diga ao senhor Marcovaldo e a Machiavelli – mesmo se ele ainda me odiar – que sinto saudades dos dois, e mais ainda do trenette al pesto que é nosso preferido. Espero poder ver todos vocês novamente em breve.

Com carinho,

Luca.

P.S.: Escreva de volta o mais rápido possível!

Alberto terminou de ler a carta e havia um sorriso involuntário e incontrolável espalhado por seu rosto.

Deitado no chão do seu novo quarto, com as pernas apoiadas na cama e Machiavelli enrolado e ronronando ao seu lado, Alberto releu a carta de Luca mais duas vezes antes de beijá-la e apertá-la contra o peito, contra o coração que batia apressado o enviando ondas de carinho por todo o corpo.

— É bom saber que você está bem — ele murmurou, olhando para a caligrafia que, apesar de ser desajeitada, ainda era bonita. — É melhor do que a minha, se eu for bem sincero... Ei, Machi, o Luca disse que está com saudades de você.

Ele sorriu para o gato, mas o felino nem ao menos moveu uma orelha como reconhecimento.

Alberto não se importou e continuou falando:

— Ele também disse que está com saudades de mim... E vai precisar me mostrar o que é essa prancha de madeira com rodinhas. Será que Massimo me deixaria ir para Genova um dia desses? — olhou de volta para Machiavelli, que desta vez abanou as orelhas ainda ronronando, o som parecendo quase com um motor de barco. — É, eu também acho que deixaria, mas só se eu trabalhasse bastante na peixaria com ele.

Ele então ficou em silêncio por algum tempo, ainda apertando a carta contra o peito, sentindo uma emoção engraçada se remexer ali dentro: saudade. Já fazia algum tempo que ela não se manifestava nele e agora parecia ter voltado com toda a força possível.

Mil MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora