9. quando o destino intervém

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Luca estava animado naquele dia. Seria o décimo Festival de Primavera que ele participaria, e Luca gostava muito deles.

O Festival era um evento que acontecia todos os anos perto do equinócio, em uma celebração pelos meses de fartura que tiveram até então e um pedido de que continuasse assim até que o Outono e o Inverno chegassem.

Também era uma ótima oportunidade para que os integrantes da comunidade mostrassem os melhores e maiores frutos de seu trabalho e cultivo.

Era bastante comum que houvessem apresentações de dança, competições de todos os tipos, uma feira com comidas novas e muito mais. O Festival durava uma semana inteira e no último dia os campeões das competições recebiam troféus e medalhas. Era divertido, tanto de participar em algum torneio quanto de simplesmente aproveitar.

- Luca! Você já terminou de checar os peixes?! Lorenzo, os siris também estão prontos?! Vamos, gente, estamos ficando sem tempo! Nesse ritmo nós vamos chegar atrasados! - veio a voz nervosa e alterada de Daniela, tirando Luca de seus devaneios.

O garoto suspirou, saindo de perto da mesa onde estava ajudando a avó a fechar os últimos saquinhos de lanche.

No primeiro dia de Festival, Daniela sempre ficava nervosa. Ela parecia ter a certeza de que tudo daria errado se eles não saíssem logo de casa, então sempre era a primeira a acordar e já se colocava a delegar ordens enquanto os apressava. Nos primeiros anos, Luca ficou assustado e levemente estressado, mas já tinha se acostumado àquela altura.

Saiu da casa e nadou até a pequena caverna dos peixes, se certificando de que todos estavam ali.

- Você está ótima hoje, Monalisa - ele comentou, sorrindo. - Quem sabe não ganha uma medalha? Giuseppe, nem tenta.

Empurrou de volta o peixinho que estava tentando escapar, checando mais uma vez se todos eles estavam bem e em ordem.

Não muito tempo depois, eles saíram de casa. Luca seguia na frente escoltando Monalisa, Pietro e Matteo, os três maiores peixes do cardume. Logo em seguida vinha Lorenzo com Nina, Luigi e Principessa, as suas maiores apostas naquele ano para o campeonato de siris. Daniela e Anna, a avó, fechavam o comboio.

O Festival era sempre aprontado em uma clareira limpa não muito longe, e Luca já conseguia ver as algas pintadas de cores variadas antes mesmo que chegassem. Quando já estavam se aproximando, Daniela pegou o pequeno cajado de Luca e se afastou com os peixes ao mesmo tempo que Lorenzo se apressava para inscrever os siris no campeonato.

Então o garoto se viu sozinho com a avó, que sorriu para ele e deu uma piscadinha, e Luca soube que aquilo queria dizer finalmente nós chegamos aqui, agora sua mãe vai nos deixar em paz.

Ele riu, se agarrando no braço dela para que pudessem olhar as novidades daquele ano.

- Oh, Luca, olhe! - exclamou Anna, apontando para uma pedra plana onde um homem preparava conchas. - Um jogo de adivinhação. Quer tentar?

- Quero, vamos!

Eles se aproximaram e o homem sorriu para eles, se aprumando atrás da pedra.

- Sejam bem-vindos, entusiastas do destino! - ele exclamou alto, gesticulando fortemente e dando ênfase em cada palavra. - Hoje, descobriremos se a sorte está ao seu favor. Se você acertar três das quatro apostas, ganhará esta incrível medalha dourada que é um talismã para boa sorte pelos próximos cinco anos!

Ele apontou um disco dourado pouco menor que a palma da mão de Luca, liso e brilhante com uma pérola escura cravejada no centro.

- Uou... - o garoto sussurrou, encantado.

Ele costumava jogar nos Festivais, e ao longo dos anos havia ganhado alguns prêmios que deixava guardados perto de sua cama. Mas aquela medalha... Luca não sabia o motivo, mas queria muito ganhá-la.

- Você só precisa descobrir... - o homem olhou para baixo, movendo os dedos para revelar uma pequena e brilhante bolinha que reluziu com o sol e fez Luca sorrir. - ... onde está a pérola.

A bolinha foi colocada na pedra lisa, e então uma concha grande a cobriu. Outras duas conchas idênticas foram colocadas ao lado da primeira, e Luca se aprumou no lugar, determinado.

- Está pronto?

- Sim - respondeu, os olhos cravados na primeira concha.

Então o homem começou a movê-las, tão rápido que Luca quase não conseguiu acompanhar. Quase. Porque quando elas pararam de trocar de lugar, ele sabia exatamente onde a pérola estava.

- Certo, onde ela está?

- Aqui - apontou a concha da direita, e sorriu quando a bolinha foi revelada. - Isso!

- Muito bem, Luca - elogiou Anna, passando a mão na cabeça do neto.

- Próxima aposta agora!

Uma quarta concha foi adicionada à fileira que logo começou a se mover rapidamente. Desta vez, Luca teve mais dificuldade em acompanhar, e acabou errando.

Ele fez um muxoxo decepcionado, mas a avó o deu tapinhas nas costas.

- Não desista, você ainda tem duas chances.

- Mas e se eu perder?

- Nem tudo nessa vida é sobre ganhar ou perder, borbulha...

Luca continuou olhando para ela com expectativa, e ela soltou outra risada.

- Mas você quer ganhar, não quer? - perguntou, e Luca acenou freneticamente com a cabeça que sim. - Então vamos ganhar!

Ele abriu um sorriso animado e se voltou para o homem, que estava adicionando a quinta concha na pedra. Quando elas pararam de se mover, Luca ficou bons segundos em silêncio, ponderando, antes de apontar a do centro.

- Isso! - exclamou outra vez quando a bolinha reluziu para ele.

- A última rodada. A decisão final. É agora ou nunca - falou o homem, colocando a sexta concha na pedra.

Luca sentia seu coração batendo rápido quando elas começaram a se mover outra vez, porque estavam mais rápidas do que antes e ele entrou em desespero porque, quando pararam, ele não sabia. Não sabia onde a pérola estava. Tinha-a perdido de vista.

E quando o homem perguntou sua resposta, ele ficou em silêncio. Torceu as mãos juntas, observando cada uma das conchas, sem ter a mínima ideia de qual era a certa.

Olhou para a avó, buscando ajuda, e ela apenas acenou com a cabeça para ele, ainda sorrindo, e Luca respirou fundo, voltando a olhar para as conchas.

Qual é a certa?

Seu olhar foi puxado para a da extrema esquerda, e de repente a certeza o encheu. Sem dar tempo para a dúvida o tomar, ele apontou para ela.

- Tem certeza? - perguntou o homem, e Luca afirmou com a cabeça.

- Sim.

- É sua resposta final?

- É.

- Bem, então...

Nervoso, parecia para Luca que a mão dele estava se movendo mais lentamente que uma lesma marinha. Ele viu os dedos se fecharem ao redor da concha e mordeu o lábio em antecipação, então o soltou em um arfar incrédulo quando a pérola foi revelada.

- Eu... ganhei?

- Ahá, Luca! - exclamou Anna, abraçando o neto. - Ganhou, borbulha!

- Ganhei! - ele gritou, rindo, e o homem atrás da pedra também riu.

- Meus parabéns, garoto! Eu devo admitir que nem mesmo eu sabia onde ela estava. Foi um verdadeiro golpe de sorte. Mereceu a sua medalha.

Ele pegou o disco dourado e o pousou nas mãos de Luca, que o segurou com cuidado, arrastando o polegar pela borda.

Então o apertou contra o peito, sem conseguir explicar o porquê sentia o coração tão acelerado e uma emoção forte o tomando.

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