Eu e @TheSstarLlama pensamos a mesma coisa sobre esse headcannon.
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Alberto sentia a água passando por seu corpo e sorria.
Sorria abertamente, aquele tipo de sorriso que denuncia nada além de uma felicidade gigante e transbordante que mal cabe no peito e no rosto.
Isso acontecia todas as vezes em que saía para passear com os pais.
Ele nadava veloz, não mais tanto quanto alguns anos atrás quando ainda era um pequeno monstrinho, mas ainda assim rápido e de maneira intuitiva, circundando corais e rochas, ao redor de cardumes e através de correntes marítimas.
Era como se ele fosse a própria água; como se eles fossem uma coisa só.
Então se escondeu atrás de uma grande rocha repleta de corais coloridos, encolhendo-se em si mesmo, circundando a cauda ao redor do próprio corpo e tampando a boca com as mãos para abafar a risadinha que escapou.
Ele e os pais estavam brincando de Esconder e Encontrar. Eles se revezavam para que todos tivessem sua vez de esconder, e então os outros dois procuravam; e Ciara era sem dúvidas a melhor na primeira parte. Ela parecia sempre saber quais eram os melhores esconderijos, e era rápida e esperta como um golfinho.
Já Bruno era o melhor em procurar. Ele parecia se guiar pelo cheiro, pelos mínimos sons e parecia até mesmo poder falar com as pedras, fazê-las dizer aonde seu alvo estava escondido.
Eles eram o perfeito equilíbrio um do outro e Alberto gostava de brincar com os dois, porque era sempre um desafio imprevisível quando era ele próprio quem se escondia.
Porque Alberto havia herdado a habilidade em se esconder de Ciara, ao mesmo tempo em que havia herdado a habilidade em procura de Bruno, e tudo isso junto com a sua própria perspicácia o transformaram em um exímio jogador. Ele conseguia se esconder bem ao mesmo tempo em que conseguia saber dizer quando seus pais estavam chegando, e então mudava de esconderijo de maneira furtiva.
Bruno costumava reclamar, dramático, dizendo: "Isso não vale! Assim nós nunca encontraremos você!". Mas ele nunca tinha verdadeiramente pedido para Alberto parar, então o menino sabia que era apenas uma implicância boba do pai.
Alberto então ergueu os olhos para cima, vendo cardumes coloridos e uma tartaruga dançarem acima de sua cabeça, os raios do sol tremulando na superfície da água muitos metros acima.
Ele adorava o sol. Bruno o levava para a ilha perto do continente a cada duas luas e, por mais que a viagem o cansasse um pouco, sempre valia a pena. Porque eram as vezes em que Alberto podia finalmente sair da água, e a transformação para humano sempre o alegrava.
Ele gostava de correr tanto quanto gostava de nadar, e a sensação da grama e dos cascalhos sob os pés era algo maravilhoso. Sentir a brisa e o sol na pele, acariciando e aquecendo, eram sensações que Alberto não podia sentir quando estava na água, e ele adorava que fosse algo exclusivo da superfície, porque a ilha era um dos seus lugares preferidos.
Talvez ele tenha se perdido demais em pensamentos, porque não notou seus pais se aproximando um de cada lado. Então apenas pôde gritar de susto quando os dois pares de braços o cercaram sem aviso, o atacando com cócegas, e Alberto gargalhou e se contorceu para fugir do agarre dos pais.
- Finalmente encontramos você! - exclamou Bruno, risonho, nadando atrás do filho de onze anos e o apanhando outra vez.
- Eu que deixei que vocês me encontrassem! - Alberto rebateu, sorrindo traquinas para o pai, que tinha um sorriso idêntico no rosto.
- Olha só! Então ele é igual a você, querida. Pois eu sei que nós só te encontramos porque você deixa que encontremos.
- Eu não sei do que você está falando - Ciara devolveu, sorrindo. - O Alberto é muito bom em me encontrar. Acho que você vai perder seu posto para ele, amor.
- Ah, eu vou, é? - Bruno arqueou as sobrancelhas para o filho, que apenas estufou o peito em orgulho.
Depois daquilo, Alberto disse que estava com fome e eles pararam para comer os saquinhos que Ciara trouxera.
Mas algo captou a visão do menino, algo avermelhado que brilhou com a luz do sol e ele apertou os olhos para tentar ver melhor, percebendo que era definitivamente um tesouro humano.
Alberto se animou, deixando o saquinho mordido de lado, nadando até as duas rochas grandes que faziam sombra no objeto avermelhado cravado na areia. Ele se aproximou com curiosidade, observando os filetes que se abriam como se fossem espinhas de peixe, e sorriu em empolgação.
- Papai, vem cá ver! É um tesouro humano! Uau, eu nunca tinha visto um assim. O que será que...
- Alberto! Não toca nisso! - Bruno exclamou, e o tom alto de sua voz assustou o garoto, que acabou se virando rápido demais e cortando o braço esquerdo em uma haste solta.
Ele engasgou, instintivamente tapando o local com a mão, sentindo a dor viajando por todo o seu braço e ombro. Olhou com raiva para o objeto que o machucou e bateu nele com a cauda, irritado.
E tudo aconteceu antes que ele sequer pudesse piscar.
Ele ouviu um clique e gritos e, de repente, as escamas rosadas e os olhos verdes de sua mãe estavam em seu campo de visão, os braços dela o empurrando para longe enquanto as hastes avermelhadas daquela coisa se fechavam sobre o ombro e parte do peito dela.
No segundo seguinte, seu rosto estava pressionado contra o peito do pai, como se Bruno quisesse impedi-lo de ver a cena que se desenrolava diante dele, mas era tarde demais.
A imagem do rosto de Ciara em meio ao vermelho escuro já estava gravada no fundo dos olhos de Alberto, arregalados em horror. Ele sugou uma quantidade mínima de água, sentindo seu corpo amolecer e a mente parar completamente, os ouvidos zumbindo um som agudo e contínuo.
Ele não percebeu que Bruno estava pedindo para ele fechar os olhos, nem que o pai o virou de costas quando não obedeceu. Ele não percebeu nada, não sentiu nem ouviu nada.
Seu peito doía de uma forma tão aguda e intensa que era quase como se ele não estivesse sentindo nada. Estava dormente, e seu cérebro entorpecido simplesmente não conseguia processar o que estava acontecendo.
Por que ele sentia que não podia olhar para trás?
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Mil Memórias
Fanfiction{Luca x Alberto} Memória. Por definição e conceito, é a capacidade que os seres vivos tem de adquirir, armazenar e evocar informações que ficam guardadas em um - e, às vezes, mais de um - local da mente. A memória pode ser fraca ou forte, pode ser i...