15. quando a sabedoria do mar é repassada

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Buongiorno!

Alberto acordou sobressaltado com o cumprimento alto na voz grossa de Massimo, sem querer chutando o rosto de Luca com o susto.

Ele olhou para baixo com desorientação, ainda se sentindo sonolento, vendo o homem grande balançando uma faca na direção da saída.

Andiamo, vem! — chamou, apressado, e Alberto sentiu que todo o resquício de sono havia corrido para longe de seu corpo.

Abriu um sorriso grande, pulando do esconderijo na árvore e aterrissando no chão ao lado dele. Calçou rapidamente as galochas azuis e as luvas amarelas, correndo para alcançar Massimo que já estava caminhando para perto do barco.

Alberto sabia perfeitamente do perigo que o cercava de todos os lados – ali, em um barco no meio da água, correndo o risco de a qualquer momento se molhar e ter sua verdadeira forma revelada, para então morrer nas mãos daquele homem que admirava tanto.

Mas ele não conseguia se preocupar com aquelas coisas no momento. Tudo o que ele podia se concentrar era na sensação boa que estar ali com Massimo trazia para ele, que ter o homem o ensinando coisas que não sabia o fazia ter vontade de aprender ainda mais. Ele estava adorando sair para pescar.

— Você precisa ter certeza de que a rede não se embolou quando afundou no mar — Massimo falava, calmo e centrado como sempre era no Oceano, movendo a boia para os lados com o gancho. — Então precisa fazer isso. Só até saber que ela se abriu completamente, ou então os peixes não vão entrar.

Ele então ligou o motor e levou o barquinho até a próxima boia, começando a puxá-la. Alberto sorria, empolgado, começando a puxar também. Ele sempre deixava a mão direita apoiada na cintura para trabalhar só com a esquerda, como um desafio para si mesmo. Ele tinha tanto respeito por Massimo ser alguém tão forte mesmo com a falta de um dos braços que pensou que queria se tornar forte daquela maneira também.

Porque não era apenas força física, era uma força que vinha de dentro.

Então uma sombra na água chamou sua atenção e o coração disparou, pedindo aos céus que não fosse o que ele estava pensando.

— Monstro marinho! — Massimo gritou e Alberto arregalou os olhos em surpresa e apreensão quando, em um piscar de olhos, ele lançou um arpão diretamente na sombra.

Mas respirou aliviado quando viu que era só um monte de algas.

Ainda bem. Ainda bem...

Então Massimo se virou, apoiando a mão em seu ombro, e Alberto sentiu algo quente no peito com a proteção e a segurança que sentiu por trás daquele gesto.

Ele quase sorriu, mas então Massimo retirou a mão e seus olhos foram atraídos para os tons de lilás e roxo no lugar onde ela esteve. Limpou rapidamente, antes que o homem visse, e eles continuaram puxando a rede.

— Esta aqui também não pegou quase nada — Massimo murmurou, olhando para os míseros cinco peixes que se debatiam no fundo do barco. Então olhou para Alberto com diversão. — Tem alguma explicação para isso, senhor especialista em peixes?

Alberto sorriu para ele, então se levantou e olhou ao redor. Na sua visão, não era como se ele estivesse olhando para a superfície brilhante da água, mas sim estivesse debaixo dela mapeando as rotas dos cardumes ao redor das pedras e corais que ele conhecia de cor.

— Hmmmm. Os peixes não passam aqui esta hora na manhã. Acho que eles vão estar mais para aquele lado.

Então apontou para alguns centímetros à esquerda de Massimo, e o homem olhou para lá com confiança antes de ligar o motor.

E essa era uma coisa que o garoto gostava em Massimo: a confiança que ele depositava em Alberto. Mesmo que no início ele tenha ficado desconfiado a respeito se Alberto sabia mesmo o que estava fazendo, agora ele quase confiava no moreno de olhos fechados. E isso tornava a pescaria ainda melhor.

Ele gostava daquele sentimento. De terem pessoas confiando nele. Sentia isso com Luca, que acreditava em todas as coisas que dizia e parecia achar que Alberto resolveria todos os problemas que aparecessem. Bem, ele iria resolver de qualquer forma, fosse pelo bem estar de Luca ou para que o fizesse feliz.

Mas ter Massimo confiando nele era diferente, ainda mais porque ele sentia certo carinho vindo do homem grande, carinho que fazia farol para o seu próprio.

Quando eles voltaram para a casa dos Marcovaldo depois de um dia inteiro de pescaria e um barco carregado de peixes, Alberto se sentia quase melancólico por saber que, quando ele e Luca ganhassem a Vespa, teria que deixar Massimo para trás.

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