11. quando o desejo é levado pela maré

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Luca não conseguiu dormir aquela noite.

Foi apenas mais uma madrugada, muito antes do sol aparecer para clarear o Oceano, onde ele acordou de um sonho que teve de si mesmo saindo da água.

Ele já havia perdido as contas de quantas vezes aquilo aconteceu só naquela semana, e em todas elas Luca nunca conseguia voltar a dormir.

Ele permanecia acordado, deixando sua imaginação o levar mais longe do que ele poderia ir, lutando com as vozes dentro dele que o impeliam a correr e que também o mandavam permanecer onde estava.

E seu coração, no meio de tudo isso, batia depressa, sonhador, ansioso por alguma coisa a mais.

Luca permaneceu daquela maneira até que tudo estivesse claro e vivo outra vez, e os barulhos na casa indicavam que seus pais já estavam acordando. Ele olhou para o lado, notando a avó ainda roncando adormecida, e sorriu para a cena.

Ele estava prestes a se levantar para mais um dia quando ouviu um clique metálico muito próximo de sua cabeça e virou o rosto, dando de cara com a carapaça rosada de Principessa, um dos siris que o pai criava.

- Ah! - ele exclamou assustado, se levantando com pressa para se afastar das pinças dela. - O-Oi, er... Bom dia?

Mas ela parecia nem estar notando a presença de Luca, muito mais concentrada em pinçar algo que estava atrás da cama dele, e era daí que o clique metálico estava vindo.

Luca se aproximou, curioso e receoso, tentando descobrir o que ela estava fazendo. Parecia estar tentando puxar alguma coisa de trás da cama e, com mais alguns cliques, tirou de um monte de algas uma coisa redonda e suja de limo.

Assim que tinha o que queria, Principessa segurou-a fortemente nas pinças e começou a correr para fora do quarto de Luca. E ele não teria dado atenção àquilo se um vislumbre de dourado não tivesse captado sua visão.

Então ele se jogou para frente, apanhando o disco sujo e o erguendo no ar, trazendo Principessa junto. Luca começou a gentilmente balançá-la para que soltasse, mas ela pareceu irritada com ele por isso, soltando uma das pinças e tentando acertar seus dedos.

- Ei! Não faz isso! Isso é meu, você quem deveria soltar. Para!

Ele se irritou também, balançando mais forte, e ela soltou a outra pinça com o que só poderia ser um ruído de irritação, flutuando até o chão e correndo para longe. Luca sabia que, se ela pudesse, teria dado língua para ele.

Mas Luca não a deu atenção, voltando os olhos para o disco em suas mãos. Ele passou os dedos pela superfície para limpá-lo e constatou que era exatamente o que esperava que fosse: a medalha que ele tinha ganhado três anos atrás no Festival de Primavera.

Quando chegou em casa naquele dia, Luca lembrava-se de tê-la deixado ao lado da cama para que não a perdesse. Mas ele provavelmente se mexeu demais durante a noite e ela caiu nas algas, pois ele achou que a tinha perdido desde então.

Luca sorriu, feliz de que a tivesse recuperado. Ele sentiu aquela sensação engraçada de quando a viu pela primeira vez, passando o polegar suavemente pela pérola marrom que tinha no centro.

- Se você realmente trás boa sorte - ele sussurrou para o objeto -, eu quero pedir um pouco. Ouça o pedido do meu coração. Você pode fazer isso, não pode? Eu só preciso de uma chance...

Uma chance para ver o mundo, para conhecer coisas que não conheço, para seguir a voz dentro de mim nem que seja uma única vez.

Ele fechou os olhos com força, apertando a medalha contra o peito e acreditando de todo o coração que ela o atenderia.

- Só uma chance...

Mas toda sua concentração foi perdida quando um barulho alto soou do lado de fora e ele ouviu sua mãe gritar.

- Luca, o que está acontecendo?!

- Eu estou indo ver!

E ele saiu pela janelinha de seu quarto, nadando rapidamente até a pequena caverna onde os peixes ficavam.

Mas não havia nenhum.

Luca se desesperou, colocando as mãos na cabeça e gritando.

- Um peixe escapou! Um peixe escapou!

Ele olhou ao redor freneticamente, contatando que todos os peixes tinham escapado. Seu desespero cresceu ainda mais.

- Não, não, não! A minha mãe vai me matar! Caterina! - gritou para a peixinha que já estava nadando para longe, ouvindo seu balido antes que ela nadasse mais rápido. - Pera aí!

Luca pegou o pequeno cajado e nadou atrás dela.

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