24. quando as palavras vibram

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Caro Luca,

Fico feliz em saber que Genova conquistou seu coração, e eu só posso imaginar como ela deve ser maravilhosa baseado nas suas descrições. Você vai precisar me mostrar o que é essa prancha de madeira com rodas, porque definitivamente é algo que eu quero saber como funciona, além do aquário, é claro. Ainda não consigo acreditar que haja um pedaço do mar na cidade, parece o tipo de coisa que Giulia contaria como uma pegadinha.

Por aqui as coisas estão indo bem, também. Agora moro com Massimo e durmo no quarto que era de Giulia, e espero que ela não se incomode com isso, porque eu estou tornando-o cada vez mais meu. Saio com Massimo para pescar todos os dias e, ei! Hoje fiz isso na minha forma original, e foi muito divertido. Depois da pescaria, ele comprou papéis para cartas e novas músicas que acho que você gostaria de ouvir.

E talvez você queira saber que seus pais e sua avó estão bem e sentem saudades de você todos os dias. Eu vou visitá-los sempre que posso, e eles sempre comentam sobre como queriam poder te ver logo. Mostrei a eles a carta que você os enviou e eles disseram que vão aprender a escrever para te responder, mas, enquanto isso, me disseram apenas para te contar que estão felizes por você e te amam muito, além de desejarem boa sorte na escola.

E, ei, lembra-se da tartaruga que segurou a rampa para nós certa vez na ilha? Ela agora vive comigo, e se chama Caligola. Ela e Machiavelli ainda não se dão muito bem, mas acho que isso vai mudar com o tempo, assim como está sendo comigo. Ele agora não rosna mais para mim e nem me arranha quando passo, então acho que é um progresso. Disse a ele que você sente saudades e ele quase mexeu as orelhas em resposta.

Eu também sinto saudade de você e sim, se eu pudesse, nadaria até Genova e te levaria até o topo do farol para que você me mostrasse a cidade. Sinto sua falta aqui do meu lado, mas ao mesmo tempo estou feliz que você esteja conhecendo tantas coisas e prestes a começar na escola. Aliás, boa sorte! Quero que me conte tudo sobre o seu primeiro dia e que, quando você voltar para Portorosso, me mostre as anchovas no céu com o telescópio e me conte tudo o que puder sobre elas e sobre todas as outras coisas que aprendeu.

Diga a Giulia que sinto saudades e mande meus cumprimentos a mãe dela. Massimo me pediu para dizer que também sente falta de vocês. Espero que o tempo passe depressa para que eu possa te ver de novo.

Com carinho,

Alberto.

Luca terminou de ler a carta e havia um sorriso emotivo em seu rosto, pequenas lágrimas se formando nos cantos dos olhos e um misto de sentimentos espiralando no peito.

Releu a carta mais duas vezes e então a apertou contra o coração, sentindo-o bater forte.

Ele nunca tinha conhecido a saudade, ao menos não daquela maneira, com aquela intensidade gigantesca.

Durante aquela semana que se passou, ele mal teve tempo de poder senti-la totalmente, de tão ocupado que ficou aprendendo mais sobre a escola, aprontando seus materiais e continuando os passeios para conhecer a cidade.

Mas naquele momento, ao correr os olhos pela caligrafia desigual e torta de Alberto, com algumas letras invertidas e até de tamanhos diferentes o contando sobre sua casa e sua família, parecia que a saudade havia voltado com toda a força e crescido mais do que ele pensou ser possível.

Sentia falta dos pais, do mar, do sol que parecia brilhar diferente e o vento que parecia soprar diferente naquele lugar que detinha grande parte do seu coração.

Luca passou o dedo pela caligrafia, sorrindo com doçura para como ela era única e tão Alberto, e releu o parágrafo em que ele falava sobre seus pais e avó. O menino estava contente que tivessem bem e torcendo por ele. Mal podia esperar para ler as cartas que escreveriam.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2022 ⏰

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