14. quando a realidade é diferente

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Aquele primeiro dia em Portorosso estava se desenrolando de uma maneira completamente diferente do que Alberto tinha inicialmente pensado.

Ao que parecia, as coisas ali eram um pouco diferentes do que ele tinha imaginado.

Ele e Luca acabaram descobrindo que para conseguir uma Vespa só deles teriam que vencer uma corrida para conseguir o dinheiro e comprar uma.

E, como se isso tudo não fosse o suficiente, o Senhor Vespa era um idiota, as pessoas não receberam muito bem o qual é a sua, Stupido, a garota de cabelo vermelho com o carrinho de peixes era estranha e o pai dela era o maior homem que Alberto já viu na vida.

Era coisa demais para se processar em um único dia, mas Alberto não estava verdadeiramente muito preocupado. Na verdade, ele não estava nem um pouco preocupado. Ele e Luca eram livres agora, e desde que estivessem juntos tudo ficaria bem. Eles conseguiriam a Vespa deles de um jeito ou de outro, vencendo a corrida ou não, e então iriam conhecer o mundo todo, só os dois.

Mas isso não significava que eles não quisessem vencer, então naquela noite foram até a casa de Giulia para conversar com o pai dela.

Mas parecia que as coisas não estavam indo muito bem.

Alberto olhava para pai e filha conversando, apreensão e uma pontada de tristeza se misturando dentro do peito.

— ... e tem também a inscrição, filha. O dinheiro anda curto — falou Massimo com pesar, e Giulia se remexeu no sofá.

— Eu trabalho dobrado lá na pescheria, eu vou todo dia.

— Não consigo vender o que não tenho. O que falta é mais peixe na minha rede. Mi dispiace, Giulietta.

— Ahn, com licença... A gente pode ajudar — Luca falou, tímido, erguendo um dedo trêmulo e ganhando a atenção dos Marcovaldo.

E Alberto sorriu, sentindo algo clicar em sua cabeça e sabendo que naquela parte ele e Luca realmente poderiam ajudar.

— Entendem de peixe? — perguntou Massimo, desconfiado.

— O quê? Somos especialistas nisso! — respondeu Alberto, confiante, e Giulia sorriu para o pai, piscando os olhos de maneira pidona.

— Tem coragem de falar não?

Massimo suspirou, e Alberto julgou que ele deu uma boa olhada nos três antes de concordar com a cabeça.

— Se querem tanto, eu posso ajudar vocês.

— Que legal! — Luca exclamou, balançando o ombro de Alberto com animação.

Giulia comemorou também e abraçou o pai enquanto Luca e Alberto sorriam um para o outro, felizes de que tivesse dado certo.

Até que o gato subiu na mesa, rosnando para Luca de maneira ameaçadora, balançando o rabo para os lados.

— Machiavelli! Psss, não senhor! Não! — avisou Giulia, mas não adiantou de nada.

O gato pulou no rosto de Luca, que caiu para trás na cadeira e fez um estrondo ao cair no chão. O grito dele se juntou com os miados e rosnados de Machiavelli e o posterior grito de Alberto chamando o nome de Luca, pouco antes de se levantar correndo e tentar agarrar o gato para afastá-lo do amigo.

Ele conseguiu, mas então imediatamente se tornou o alvo dele, suas garras afiadas arranhando sua pele e o fazendo chiar.

— Machiavelli, para com isso! — gritou Giulia, tentando tirar o gato furioso de cima de Alberto. — Tenha modos! Onde está sua educação?!

— Tira ele de mim! — Alberto gritou, tentando empurrar o corpo peludo, mas as unhas dele estavam cravadas em sua blusa amarela e seu pescoço, o que estava tornando tudo mais difícil e dolorido.

Quando Giulia finalmente conseguiu tirá-lo de lá, Alberto andou para trás até chegar em Luca, se abaixando para ajudar o amigo a se levantar.

— Você está bem? — perguntou preocupado, passando um dedo pelo ferimento mais feio em sua bochecha. — Uhhh, isso tá ruim.

A resposta de Luca foi cortada quando Giulia gritou de surpresa. Alberto olhou rápido o suficiente para ver que o bichano tinha conseguido se soltar das mãos dela e voltava na direção deles com ainda mais fúria que antes.

Alberto empurrou Luca para suas costas e passou um braço protetor ao redor dele, fechando o rosto para o gato, pronto para receber as unhadas por Luca se fosse necessário.

— Machiavelli — ouviram a voz grave e poderosa de Massimo soar, e todos eles congelaram no mesmo lugar. — Pare.

E Alberto piscou surpreso quando o gato se sentou calmamente, lambendo uma das patas dianteiras antes de sair rebolando da cozinha.

O garoto mais velho não perdeu tempo antes de puxar Luca consigo para se levantarem, caminhando com ele para a porta de saída.

— Er, muito obrigado pelo jantar e por todo o resto, senhor Marcovaldo, mas nós já estamos indo — falou enquanto saíam, ouvindo os passos de Giulia atrás de si.

— Gente, desculpa pelo gato. Eu não sei o que deu nele.

— Tudo bem — Luca falou, uma nota de dor ainda em sua voz. — A gente está... Indo para o nosso...

Então olhou para Alberto, perdido sobre onde iriam passar a noite, e o moreno estava prestes a inventar qualquer coisa quando Giulia sorriu para eles.

— Ahh, vocês não tem para onde ir?

E quando ela os instalou ali no esconderijo na árvore, Alberto só conseguia pensar que aquelas luzinhas amarelas o lembravam as anchovas bebês que ele viu com Luca na ilha outro dia.

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