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Naquela tarde ao voltar para casa, Sinueh encontrou o pai na sala da grande residência que possuíam na região nobre do Rio de Janeiro. Ela não encontrou a madrasta, e entendeu que ela devia estar ocupada fazendo compras como de costume. O pai era um homem muito severo que vivia para os negócios. Que grande ironia ela estar rodeada de homens que se preocupam apenas com ascensão financeira. Ela se via sozinha e antes de falar com seu pai, ela olhou para a grande pintura de sua mãe que ainda resistia por ano após seu falecimento. Foi uma forma de seu pai ser condescendente com a dor da filha, por isso permitiu que a pintura permanecesse em memória a sua amada esposa. Após casar novamente com uma moça treze anos mais jovem, Gisela, ela apenas se preocupa em manter as aparências, quando na realidade vive um relacionamento falido.

Aparências era um mundo que Sinueh conhecia muito bem, pois desde a juventude isso se tornou a bolha em que ela estava envolta e não conseguia fugir. Ela sentia saudades da época em que sua mãe estava presente em sua vida, pois era ela que plantou a ideia do amor idealizado e passava todas as noites no quarto da filha para contar histórias com finais felizes de amores desmedidos que iam até as últimas consequências apenas para desfrutarem do maior sentimento que ainda não pode ser descrito em palavras. Isso a perseguiu por anos. Um ideal que era falho. Que não funcionou, porque a primeira pessoa a quem ela confiou plenamente seu coração não a pertencia, e ela entendeu que amor não se trata de posse, e por isso, conheceu seu martírio na terra.

Ela não podia dizer que não sentia nada por Alejandro, ele tinha algo que a atraia e mesmo sendo uma dor em seu ego admitir isso, não tinha como negar este fato quando sua consciência perdia drasticamente para os batimentos acelerados que ele arrancava dela quando estavam próximos. E por conta disso, agora ela estava numa grande confusão.

Sinueh encarou o pai e por um momento sentiu remorso por ter que dar-lhe uma notícia tão importante sem a presença da pessoa que a deveria estar apoiando. Isto seria uma ofensa para o grande Javier Gavilan Estrabao, dono da maior rede de exportação frigorífica do Estado. Ela e o pai não tinham mais um elo como antigamente, na maioria das vezes mantinha-se afastada tanto de seus afetos, quanto de suas ordens. Mas hoje, ao olhar para ele ali sentado em sua frente, ela decidiu que estava na hora de fugir do castelo que ela mesma construiu ao seu redor e encarar a realidade. Ela precisava contar para o pai o que estava acontecendo e pediria um punhado de benevolência e apoio. Sabia que a inflexibilidade do pai a pegaria em cheio, mas ela manteve-se disposta a encará-lo de frente, sozinha, não apenas por ela, mas também por quem estava carregando em seu ventre.

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