O meu pai ficou possesso quando ouviu o que a garota disse. Como não prestei atenção, não sabia sobre exatamente do que ele estava me acusando, apenas o senti puxando meu braço e perguntando insandecido o que eu pensava que estava fazendo quando resolvi dar trela para alguém daquela família. Diante disso, não sei o que aconteceu, apenas comecei a divagar novamente...
Uma lembrança que tenho do meu pai durante a infância foi quando cheguei da escola correndo. Augusto, nosso motorista, tinha ido me pegar e eu pedi para que ele entrasse um pouquinho, o motorista não havia entendido o porquê, mas atendeu o meu pedido. Eu tinha me metido numa confusão durante o intervalo porque duas meninas rabugentas ficaram espalhando pelo colégio que eu não tinha pai. Isso parece estúpido, mas eu tinha apenas 8 anos e aquilo de fato me incomodou. Meu pai nunca teve tempo para ficar comigo, brincar ou até mesmo perguntar o que eu tinha feito na escola. Tempo era algo que ele não gostava de desperdiçar, muito menos comigo. Levei Augusto para falar com a coordenadora e ela explicou o que tinha acontecido. Pedi para que ela não ligasse para meus pais, implorei na verdade, e disse que ela poderia falar com o motorista que ele reportaria todos os detalhes a minha mãe. Com relutância ela aceitou e assim, quando ambos terminaram a conversa, Augusto e eu fomos direto para o carro. Quando entrei, comecei a chorar silenciosamente e ele como cavalheiro que era, me estendeu um lenço. Ele era sempre tão doce e gentil comigo desde sempre. Durante o caminho até em casa eu dei a minha versão dos fatos e ele escutou tudo sem fazer julgamentos, até mesmo contou que uma vez havia presenciado algo parecido com minha mãe quando ela era adolescente. - isso ela nunca havia me dito- enfim, o Augusto me ajudou a recompor-me e disse que uma dama nunca deve perder a compostura e o porte de elegância era o que conduzia uma mulher a maturidade, além de exalar superioridade aos demais quando "imprevistos" como esses ocorrerem no futuro. Ele era tão sábio, sempre tão disposto a me explicar coisas das quais não sabia.
Ele até mesmo me disse que eu parecia muito com vovó, a mamãe nunca falava dela, mas ela e o papai não eram muito de contas coisas para mim. Assim que chegamos em frente de casa, Augusto disse que eu deveria tentar ser compreensiva com papai porque ele era muito importante e trabalha muito para me dar todas as coisas que quisesse, e que apesar do pouco tempo, ele tinha certeza de que eu era uma pessoa importante, mesmo que papai não fosse de falar isso. Eu assenti e fui correndo entrar na casa. Vi que a porta do escritório estava aberta e não vi o papai lá dentro. Eu entrei rapidamente e procurei um cartão que estava no bolso da frente da minha mochila. Subi na grande cadeira dele que ficava de frente para uma mesa maior ainda, a qual estavam vários papeis em cima, acho que eram importantes. Papai sempre dizia para não entrar porque estava trabalhando em assuntos importantes. Eu inocentemente deixei o meu cartão em cima dos outros papeis na intenção de que meu pai nota-se e assim ele pensasse que fosse algo importante também. Só que quando ia levantar para sair , a alça da mochila prendeu num dos braços da cadeira e fez com q eu caísse e empurrasse um copo com café sobre a mesa. Antes que pudesse entender o que tinha acontecido e o que exatamente tinha dentro do copo, vi o meu pai na porta com uma cara de bravo vindo em minha direção. Ele apenas me pegou no colo e me virou de costas, não entendi o que ele queria até que senti o meu bumbum esquentar e arder muito com as palmadas que ele me dava, foi uma sensação horrível e para mim, durou tanto, mas aí então minha mãe apareceu e gritou para que ele me soltasse. Assim ele fez e me empurrou para perto dela, eu estava com o rosto banhado em lagrimas, ele estava muito bravo comigo e depois começou a brigar com mamãe. Eu pedi desculpas e disse que só queria deixar um cartão para ele. Apontei e ele foi olhar o que era. Leu e perguntou o que significava aquilo, ele e mamãe ficaram olhando esperando minha resposta. Disse que tinha feito um cartão comemorativo pelo dia dos pais. A professora tinha escolhido os cartões mais enfeitados e acrescentou um envelope bem bonito para que pudéssemos entregar aos pais quando fossem à escola, mas como ele não apareceu, eu deixei em cima da mesa dele. Meu pai apenas disse que não tinha o que comemorar porque eu não era filha dele e tudo que sabia fazer era estragar as coisas e apontou para a mesa bagunçada. Lembro de ter abaixado a cabeça e deixado mais lágrimas caírem em cachoeira, juntamente com os pingos do café derramado e que corria na quina da mesa formando uma pequena poça no tapete importado do escritório.
Minha mãe começou a chorar e me levou para fora daquela sala. Fomos até o quarto e ela me abraçou na tentativa de me confortar. Tudo o que ela dizia era que papai não tinha intenção de falar aquelas palavras, embora eu fosse pequena, não tinha tanta certeza da afirmação dela em defesa.
...
Agora olhando o meu pai me puxando pelo braço perguntando porque havia mentido, e gritando em frente aquelas pessoas, fui puxada do passado e recobrei a consciência do que estava acontecendo. Me senti envergonhada e mamãe apenas pedia para ele me soltar. Foi então que ouvi a voz da garota a frente.
- Ei cara, você não entendeu que só falei aquilo para zoar você? - o tom de voz dela era até humorado. Como ela conseguia?
- O que está dizendo? - papai se virou para encará-la.
- Nós não nos conhecemos e eu nunca falei com ela. Só queria deixar você irritado. Todos aqui puderam conferir que isso é muito fácil. - ela disse em tom de deboche.
- Presta atenção como fala comigo! Você é só um verme. O que faz aqui?
- Não fale dessa forma com a minha filha, Alejandro. - A mãe da garota se meteu da frente dela e enfrentou meu pai.
- Como assim filha? Então é verdade o que ela disse?
-Sim. Não se lembra dela agora? Essa é a Lauren, minha filha mais velha. - Depois dessas palavras, meu pai pareceu suavizar o rosto e até poderia dizer que ele ficou sem palavras. Alejandro Cabello sem ter o que dizer? Isso é novidade para mim. Não entendi muito bem o que aconteceu, apenas ouvi ele dizendo a mãe dela que o conserto do carro sairia do bolso deles. Dito isso, ele retornou para casa e fez um sinal para que mamãe e eu fossemos com ele. Mamãe pediu desculpas e dirigiu-se para dentro de casa. Antes que pudesse me virar, vi o rosto da garota que agora estava perto de mim e a ouvi dizer baixinho.
-Desculpe por aquilo. Não sabia que iria te meter em problemas tão grandes assim. Parece que seu pai realmente me odeia agora. - fiquei olhando para o rosto dela e numa fração de segundos, todas as palavras que conhecia haviam sumido da minha mente e tudo o que fiz foi balançar a cabeça em concordância.
-Acho melhor você ir. - ela quem se pronunciou novamente e a vi subir os degraus de sua casa, quando se virou acenou para mim e eu apenas acenei timidamente e fui o quanto antes para dentro encontrando meu pai bufando no sofá.
- Ela falou a verdade? Não minta para mim! - engoli em seco e afirmei com a cabeça. - Entra aqui, precisamos conversar! E então fomos em direção ao tão precioso escritório dele.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Redemption
RandomUma rixa antiga entre vizinhos era o que deveria manter duas famílias terminantemente afastadas, mas não foi isso que o destino tinha planejado