.38 Estoicismo - Parte I

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POV LAUREN

"— Você não vai mais falar comigo?"

Este foi o estopim para o meu eu altruísta perder o duelo interior que aguentei durante toda a viagem de volta. Gritos eram enviados ao meu subconsciente colocando a pessoa que estava ao meu lado num caminho perdido. Percebi que não tinha volta. A aura que emanava dela naquele momento jorrava compostos fétidos e isso me deu fez sentir um refluxo surgindo... Desisto!

Eu desisto de você! — Falei paulatinamente para que ela ouvisse em pleno e bom som.

Desiste de que? — Sua voz esganiçada retumbou em retorno a mim.

Você é completamente sem noção. Só pensa em você! — Disse-lhe com todas as letras.

E o que tem a ver com desistir? Nunca te pedi nada. — Agora ela retornou a mesma de antes... a garota com os olhos temerosos de segundos atrás foi embora. Como pode isso?

É aí que você se engana. Porque quem olha, quase vê um pedido de ajuda. — Ela faz menção em negar, mas a impeço. — É um pedido, sim! Ou acha que sei que não tem um amigo sequer? Por que será, Camila? Deve ser porque ninguém quer ficar perto de uma pessoa tão corrosiva quanto você. Eu desisto porque cansei de dar espaço para quem não consegue demonstrar um pingo de compaixão ao próximo. Porque você não é quem achava que fosse, e com isso não quero dizer que esperava perfeição, o que eu esperava era qualquer ato de generosidade que fosse. Por que você deixa o seu lado pérfido ser uma extensão que cobre o que há aí dentro? — Apontei para o lado esquerdo do seu tronco, um pouco abaixo da clavícula. — Queria dizer que não, mas me sinto doente partilhando do mesmo ar que você.

Por que está sendo tão má assim? — Aperto as mãos no volante para evitar tentar afastar a dormência dos membros inferiores que começo a sentir, e em conformidade, a minha cabeça parece querer explodir e jogar para fora os neurônios não queimados devido a forte temperatura que me permeia. Os latidos do filhote começam a se misturar com a respiração ofegante de Camila e embora não esteja olhando para ela, sei que ela espera por uma resposta.

Olho para trás, e vejo o filhote numa agitação latente, e sem que eu possa pará-lo, ele pula até o colo dela, ansiando por atenção, mas ela parece irritada e o tira de cima de suas pernas, colocando-o de volta no banco de trás. — Olha, Lauren, ninguém é perfeito.

É essa sua resposta para fundamentar suas ações? "Ninguém é perfeito"? Eu sei que não sou perfeita, Camila, e tampouco serei um dia. Sei que você também não é, mas sabe de uma coisa que eu quero que passe bem longe de mim? Essa sua falta de sensibilidade, maturidade e decência.

Você está assim só porque não agi igual a você ao longo desse período que tivemos que andar por aí acompanhada de alguém que nem conhecemos? — Ela perguntou exasperada e franzindo a sobrancelha para mim, como num desafio.

— Qual é! Eu não tenho que te falar onde você está errada. — Disse por vez. Olhei para o meu lado da janela e tentei me distrair com os carros passando do outro lado da rua. Droga! Que péssima hora para isso começar a acontecer.

Será que dá para prestar atenção em mim? Olha só Lauren, não tenho o hábito de ser assim cordial assim, eu preciso conhecer um pouco... sei lá.

O problema não era esse, e sim o fato de mais uma vez você se achar superior a alguém porque essa pessoa não apresenta qualidades monetárias. — Falei me virando novamente para ela. — Não viu como desmereceu a moça que estava preocupada com a família dela? Qual é o tipo de problema de que você tem? Por que acha que ela merecia ser tratada daquele jeito?

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